Osvaldinho da Cuíca, um profissional do samba

Compositor fala sobre sua carreira profissional e seu contato com o Vai-Vai na década de 1970

06/10/2016 00:00 / Atualizado em 31/05/2019 11:07

Osvaldinho da Cuíca fala sobre os marcos de sua carreira profissional
Osvaldinho da Cuíca fala sobre os marcos de sua carreira profissional

A partir de sua entrada para o cordão carnavalesco Garotos do Tucuruvi, em 1958, mal sabia o músico que sua habilidade precoce na confecção e manejo dos instrumentos percussivos o tornaria um dos batuqueiros mais virtuosos do país.

“Nossa, eu precisaria ficar um ano falando e ainda teria assunto”, brinca Osvaldinho da Cuíca em entrevista exclusiva ao Samba em Rede, quando perguntado sobre o início de sua carreira profissional.

Além de tocar no Carnaval de rua com os cordões, Osvaldinho também se aventurava em boates paulistanas acompanhando sambistas. “Eu já era famoso na noite e acabei conhecendo muita gente”, lembra o músico. Em 1958, conheceu o cantor Germano Mathias, com quem fez vários shows. No mesmo ano, Mathias o apresentou para o poeta Solano Trindade, que conduzia um centro de cultura negra. Osvaldinho integrou a equipe de Trindade tocando cuíca, fazendo então surgir a famosa alcunha.

Na segunda metade da década de 1960, Osvaldinho conciliava um estilo de vida tradicional com severas doses de vanguarda, que resultaria em importantes parcerias em sua carreira. “Em 1967, entrei para o Demônios da Garoa, junto com o Adoniran”, recorda com emoção do sambista paulista por natureza e de nomes saudosos da música brasileira com quem teve a oportunidade de conviver, como Ataulfo Alves, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, Cartola e Geraldo Filme.

Em 1974, Osvaldinho grava seu disco de estréia como intérprete, produzido pelo selo Marcus Pereira. O músico recorda o episódio em que José Ramos Tinhorão – importante crítico musical – publica no Jornal do Brasil uma crítica sobre o disco: “Ele começou me elogiando como profissional mas ‘meteu o pau’ no meu trabalho dizendo que eu não acrescentei nada à cultura paulista regional. Que o meu disco refletia um padrão carioca de samba e não exaltava o samba rural de São Paulo.”

Ao contrário do que se espera, a reação do músico foi inusitada: “Ao invés de eu achar ruim, me tornei amigo do Tinhorão, agradeci e comecei a militar pela valorização do samba de São Paulo”, conta Osvaldinho, apontando o momento como “importantíssimo” para a sua carreira.

Nesta época, a relação de Osvaldinho com o Vai-Vai começou a se estreitar, já que o percussionista foi convidado a participar do processo de oficialização do então cordão carnavalesco em escola de samba.