Raquel Tobias, a filha dos ventos e dos raios

A cantora e compositora tem ganhado destaque no cenário do samba de SP junto às comunidades e terreiros da zona sul

06/03/2018 00:00 / Atualizado em 18/03/2020 09:15

Nascida em 30 de julho de 1972, no bairro de Santo Amaro, região sul de São Paulo, Raquel Tobias foi ainda pequena para o bairro de Embu das Artes – também na zona sul – onde foi criada e radicada.

A música sempre esteve presente em sua vida, principalmente através das suas maiores influências, o samba de roda, através de sua mãe, e o gospel, através de seu pai.

Filha de Maria Gabriela e Orides Tobias dos Santos, Raquel lembra que ainda menina era flechada pelo canto mineiro de sua mãe: “A minha história no samba começa no quintal de casa. Trepada em pé de abacate, pitanga, amora… Minha mãe ficava lavando roupa e cantarolando aqueles sambas de roda bem mineiros, de lavadeira.”

Raquel Tobias é a primeira homenageada da Coleção  “Aqui, tudo é samba”, da Editora Kazuá
Raquel Tobias é a primeira homenageada da Coleção  “Aqui, tudo é samba”, da Editora Kazuá

Mais tarde, ela foi levada por seu pai à Igreja Adventista, onde aprendeu, no coral, a arte do canto e das técnicas vocais.

Apesar de ter sido apresentada à música muito cedo, foi só na vida adulta que Raquel adentrou de vez o universo do samba e lançou-se, aos pouquinhos, como cantora.

A partir de pequenas participações no Bar do Jojô, em Santo Amaro, ela começou a chamar a atenção de quem ouvia seu canto. Detentora de uma das vozes mais potentes da cena, seu timbre grave laça até os ouvidos menos atentos.

Iniciando a sua caminhada – de fato – no Samba de Todos os Tempos – projeto que hoje preside – Raquel foi a terceira pastora a ocupar o espaço. A partir de então, começa a sua belíssima e respeitosa caminhada junto à cultura popular.

Atualmente ela, além de presidir o Samba de Todos os Tempos, integra a Ala de Compositores do Samba da Vela e soma junto ao Projeto Resgatando Raízes, que confere atenção às mulheres que tem ligação com as artes, produzindo e dando voz a elas.

Raquel também é figura muito requisitada nos carnavais de São Paulo e Minas Gerais, tendo defendido as Escolas S.R.B.E. Lavapés, G.R.C.S.A.E.S Extremo Sul, G.R.C.E.S.E.S Imperatriz da Sul, em SP; Blocos Toco do Moji e Borda da Mata, ambos de MG.

Legítima filha de Iansã com Ogun Xoroquê, ela é filha e dona dos raios e dos ventos. Uma mulher guerreira por excelência que hasteia em mastro alto a bandeira do samba e luta em prol da cultura popular.

Em processo de gravação, Raquel prepara um disco que reúne sambas autorais de compositores e compositoras inéditos. O álbum ainda não tem previsão de chegada, mas, enquanto ele não vem, sua história é contada no primeiro livro da Coleção “Aqui, tudo é samba“, publicado pela Editora Kazuá.

Raquel é, sem sombra de dúvidas, uma grande responsável pela manutenção do samba e todas as crendices, mumunhas e catimbas deste povo legitimamente brasileiro.

Por Yuri Dinalli

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