Leia reportagem de José Alberto Guereiros na qual Caymmi fala do filho Dori

Reportagem de José Alberto Gueiros, feita em 13 de outubro de 1954, em que Dorival Caymmi fala carinhosamente de seu filho Dori:

 
Créditos: Picasa
 
” – E anda agora, fascinado pelo mistério da adolescência. Descobre coisas, pergunta lindas perguntas. Não sabe o que lhe está acontecendo, mas felizmente eu sei. Treze anos com muita imaginação é assim mesmo. 

Isto é Caymmi, abordo de uma grande madrugada, no “Clube 36”, falando do filho, Dori, cujo desenho (feito a caneta entre “Só Louco” e “Maracangalha”) publicamos aqui. O seu lado de pai é tão belo quanto de compositor.

– São as minhas melhores invenções – diz o poeta do mar referindo-se à meninada: um brotinho de 15 anos (“Nãna… e descobriu que está bonita”); o primeiro varão (“Dori, estou me repetindo nele”), e o caçula (“Danilo Cândido… uma beleza com o temperamento da mãe”).

Pretender que um homem famoso seja ininterruptamente um ator até para si mesmo é como pretender que o acrobata ao tomar o trem execute um duplo salto mortal ou que o malabarista jogue para o ar os pratos, os ovos e os talheres na hora de tomar suas refeições. A frase é roubada de Pitigrilli, mas tem o propósito honesto de liquidar o lugar-comum: “ele é completamente diferente na vida real”.

Caymmi não fica em casa de violão em punho, como gostariam de imaginar os menos imaginosos. Mas continua poeta na educação dos filhos. Observa-os como se assistisse a auroras, e se encanta dos seus encantos. Deste seu Dorival (Dori) que desenhou, disse-nos sutilezas.

– Um menino tem um mundo interior que não acaba mais. E sabe muito bem esconder os sonhos que sonha, de olhos abertos. Olhos que só observam a realidade para descobrir sugestões de beleza, outros motivos de sonho… Vejo a minha infância se repetindo nele. Na inquietação de pai, temo, às vezes, pelo seu futuro, formando-se assim romântico para uma era de pragmatismo. Mas não deseja acorda-lo. Prefiro não interferir nas suas cismas que devem ser tão belas. Antes ponho-me a cismar também, tentando descobrir a minha mocidade na dele. E nestas indagações sinto a beleza no mistério de ser pai.

Ali estava o Caymmi normal, sem palmas, sem acompanhamento, dizendo fora da música a melhor das suas canções.

O pescador tem dois amores. Um bem na terra e um bem no do mar.

Agora, Caymmi, ponha os meninos nas músicas porque você tem três novos amores, além de Stella e do mar.

Dorival filho, desenhado pelo Dorival pai, de madrugada.”