Descoberto o que pode aliviar sintomas de ansiedade e depressão em alguns casos

Embora o isolamento social seja visto como prejudicial, novas pesquisas indicam que ele pode aliviar sintomas de ansiedade; entenda

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
20/05/2025 15:01

Embora o isolamento social seja, em geral, associado ao agravamento do bem-estar emocional, estudos indicam que ele pode trazer alívio para pessoas com níveis elevados de ansiedade.

A ansiedade também pode ter impactos de longo prazo na saúde física. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional.)
A ansiedade também pode ter impactos de longo prazo na saúde física. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional.) - Depositphotos/ ryanking999

Essa descoberta, baseada em experimentos com animais, revela nuances importantes sobre os efeitos do afastamento social em diferentes perfis comportamentais.

Isolamento é sempre prejudicial?

Humanos, como outras espécies sociais, desenvolvem-se por meio da convivência com os outros. A ausência de interações, portanto, costuma ser apontada como um fator de risco para a saúde mental.

Porém, há quem sinta certo alívio ao se afastar do convívio, especialmente pessoas que convivem com transtornos de ansiedade. Nesses casos, a redução da exposição a situações sociais pode diminuir o desconforto emocional.

Mas até que ponto esse afastamento é benéfico? Para investigar essa questão, pesquisadores do Laboratório de Neurociência Comportamental da PUC-Rio têm se dedicado a entender os mecanismos cerebrais por trás das interações sociais e sua relação com a saúde mental.

Ansiedade-traço e modelos animais

A ansiedade e a depressão estão entre os transtornos mentais mais comuns em todo o mundo. A ansiedade se caracteriza por medo e preocupação exagerados, enquanto a depressão envolve tristeza profunda, perda de interesse e alterações no humor. Muitas vezes, essas condições ocorrem juntas.

Algumas pessoas têm uma tendência natural à ansiedade, conhecida como “ansiedade-traço”. Essa característica influencia a forma como o indivíduo reage ao estresse e pode dificultar o tratamento. Apesar disso, ela ainda é pouco considerada em modelos experimentais com animais.

Buscando suprir essa lacuna, há mais de 16 anos, os pesquisadores da PUC-Rio desenvolvem linhagens específicas de ratos com diferentes níveis de ansiedade.

Os chamados “Cariocas com Alto Congelamento” (CHF) e “Cariocas com Baixo Congelamento” (CLF) foram criados para representar perfis distintos de resposta ao medo — um dos sinais típicos de ansiedade em animais.

O que a experiência revelou?

Em um estudo recente, os pesquisadores analisaram como o isolamento social afeta ratos com diferentes níveis de ansiedade.

Os animais foram mantidos por duas semanas em ambientes isolados ou em grupo, com base em seus perfis comportamentais. Depois desse período, todos foram submetidos a um teste de natação, usado para avaliar sinais de desânimo e depressão.

O resultado mostrou que ratos com níveis normais ou baixos de ansiedade apresentaram piora no comportamento quando isolados. Já aqueles mais ansiosos demonstraram melhora: resistiram por mais tempo no teste, o que indica menor nível de comportamento depressivo.

A hipótese dos pesquisadores é que o convívio com outros ratos igualmente ansiosos pode ter criado um ambiente de tensão mútua. O afastamento, nesses casos, teria funcionado como uma forma de alívio do estresse social.

Distanciamento pode ajudar, mas não é solução definitiva

Revisões recentes da literatura científica apontam que o isolamento, em certos contextos, pode funcionar como uma forma de lidar com o excesso de estímulos sociais. No entanto, o afastamento prolongado pode gerar mais prejuízos do que benefícios.

A convivência saudável desempenha papel fundamental na proteção da saúde mental. Relações positivas ajudam a regular as emoções, fortalecem a autoestima e proporcionam sensação de pertencimento.

Quando esses vínculos se rompem, aumenta o risco de agravamento de transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além disso, o isolamento prolongado interfere na química cerebral: eleva os níveis de cortisol (hormônio ligado ao estresse) e reduz a dopamina, substância que gera prazer e motivação. Isso pode diminuir ainda mais o desejo de interação, perpetuando o ciclo de sofrimento emocional.

Reconexão como parte do tratamento

Embora um período de distanciamento possa trazer alívio para pessoas com ansiedade intensa, ele não deve ser visto como uma solução definitiva.

O ideal é promover a reaproximação gradual por meio de vínculos saudáveis, levando em conta as necessidades e a trajetória de cada indivíduo.

O tratamento mais eficaz combina diferentes estratégias: psicoterapia, treinamento de habilidades sociais, técnicas de regulação emocional, além do uso de medicamentos, quando necessário.