Ensaio fotográfico ajuda mulher a aceitar seu corpo após implante

Lidar com o próprio corpo e as transformações dele pode ser complicado, quando a mudança ocorre inesperadamente mais ainda. Mas confrontar seus receios e aceitar-se é o melhor caminho.

Foi o que aconteceu com Jana Viscardi  que – após ser diagnosticada com um problema que exigiu o implante de uma bolsa de colostomia na parte exterior de seu abdômen –  superou seu medo e mostrou a beleza de ser como é ao fazer um ensaio fotográfico.

“Caminhando pela praia, ouvindo as sugestões da querida fotógrafa, eu me senti aberta para o mundo”, diz Jana

Ao acordar de uma colonoscopia de rotina, Jana, paciente da doença de Crohn (tipo de inflamação do trato gastrointestinal), viu-se cercada por uma equipe médica que informou que o exame tinha apontado uma perfuração em seu intestino que deveria ser reparada imediatamente.

“Nada era maior do que meu medo intenso de perder a vida ali. E enquanto eu ouvia os prognósticos médicos, procurava me atrelar a um fio de sanidade que parecia restar em mim. Eu estava entrando no centro cirúrgico. E lá eu permaneceria por algumas horas”, conta em depoimento ao site Minha Segunda Pele.

Após a cirurgia ela teve receio de levantar o lençol, pois não queria ver o que haviam feito com ela. Quando resolveu olhar o resultado da cirurgia viu que só havia levado alguns pontos, porém constatou que a bolsa de colostomia agora era parte de seu corpo e não se sentiu mais a mesma.

Durante a recuperação no hospital, as enfermeiras que realizavam a troca do acessório e higienizavam o ferimento perguntavam a Jana se ela gostaria de acompanhar e aprender como fazer os procedimentos, mas ela se negava. “Virava o rosto para não ter de me deparar com aquela parte do corpo que, agora, estava fora de mim. Eu tinha medo de mim mesma, daquela parte de mim que se apresentava viva diante de meus olhos” relata.

Dias depois, já na casa da sogra, a dor que a afligia era emocional. Jana não sabia como lidar com o novo elemento de seu corpo, mas com o tempo as emoções foram se acomodando.

“Assisti a um documentário sobre mulheres gordas que me fez pensar fortemente sobre a relação que eu vinha estabelecendo com meu corpo pós-cirúrgico: por que tanta dor e tanto medo, por que tão pouca empatia e aceitação? E então, um estalo: se me amedronta o olhar do outro sobre mim e se eu mesma me amedronto diante deste meu novo corpo, é apenas mudando a maneira como me vejo que serei capaz de enfrentar o olhar desse outro”, conta.

Com a ajuda da amiga e fotógrafa Luciana Troccoli, tendo como cenário a praia de Vilas do Atlântico, na Bahia, ela se despiu de seu medo e mostrou “a leveza no trato com a beleza de se ser o que é. De biquíni, bolsa de colostomia à mostra. E aquele momento me foi libertador” afirma.

Jana afirma que isso a fez sentir “aberta para o mundo. O mundo dos que vivem as possibilidades daquele momento em que estão inseridos. O mundo dos que reconhecem suas limitações, mas também seus privilégios e possibilidades”.

Quando recebeu as fotos ela se emocionou, viu que a bolsa era apenas uma nova parte dela: “Eu continuava ali. Com minhas dores, meus medos, minhas alegrias. Com minha sexualidade, com minha fragilidade. Com minhas vontades, e meus projetos. Porque é o que diz o ditado – a vida continua. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, conta.

Ela conta que nem todos os dias são fáceis ou de empoderamento, mas que, quando precisa, volta a olhar as fotos para lembrar do que aquele momento despertou nela. Atualmente Jana usa seu InstagramFacebook e também um canal no Youtube, para contar suas história como fonte de inspiração para outras pessoas, divulgar seus projetos e abordar temas variados.

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