Papinhas de bebê: Pesquisa encontra 21 substâncias tóxicas

Testes detectaram série de agrotóxicos e até chumbinho em papinhas analisadas pelo estudo

47% das papinhas com frutas apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico, aponta estudo – iStock/Getty Images
Créditos: Getty Images/iStockphoto
47% das papinhas com frutas apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico, aponta estudo – iStock/Getty Images

Pelo menos 21 substâncias tóxicas ao organismo humano foram encontradas em papinhas de bebê industrializadas, segundo pesquisa realizada por especialistas do Brasil e da Espanha.

Ao todo, foram analisadas 50 amostras de alimentos comercializados em supermercados no Estado de São Paulo. Entre os componentes encontrados foram detectados agrotóxicos, incluindo fungicidas, inseticidas e herbicidas, e toxinas produzidas por fungos do gênero Aspergillus (aflatoxinas).

A pesquisa, que teve apoio da FAPESP, foi divulgada na revista Food Control. De acordo com a pesquisadora e engenheira de alimentos Rafaela Prata, que integra a equipe responsável pelo estudo, 47% das papinhas com frutas apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico. Para as comidas de bebês à base de carne e vegetais, o índice  chega a 85%.

Por outro lado, a pesquisa concluiu que as concentrações dos agrotóxicos identificados ficaram abaixo dos limites máximos de resíduos estabelecidos pela legislação europeia desde 2006, que foi usada como padrão no estudo. De modo geral, na União Europeia, o limite é de 10 microgramas por quilo de alimento para diferentes agrotóxicos.

“Não existe, no Brasil, uma legislação própria para limitar a concentração de resíduos de agrotóxicos em alimentos infantis”, diz Prata. “O que existe são monografias sobre agrotóxicos no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], que consultamos para ver em quais cultivos o uso de determinado produto é autorizado, bem como os limites máximos em alimentos, mas nada sobre as papinhas”, explica a pesquisadora.

Uma nova triagem submeteu ainda as mesmas amostras com o objetivo de rastrear a presença de 2.424 contaminantes não abordados a princípio. Entre eles outros pesticidas, hormônios, medicamentos veterinários e seus metabólitos (substâncias derivadas da metabolização desses compostos químicos pelo organismo humano).

Chumbinho na papinha

Neste segundo teste foram encontrados mais dez agrotóxicos e um metabólito sulfóxido de aldicarbe, encontrada em três sabores de papinhas: caldo de feijão, arroz e carne; legumes e carne; e abóbora, feijão preto e peito de frango.

Além disso, o aldicarbe é um pesticida proibido no Brasil desde 2012. Por sua alta toxicidade, era usado ilegalmente como raticida (o popular “chumbinho”).

Segundo o toxicologista Daniel Junqueira Dorta, professor de química forense na USP de Ribeirão Preto, trata-se de pesticida que se degrada rapidamente no solo, em cerca de duas ou três semanas. A presença de resíduos no alimento sugere, portanto, o uso irregular nas lavouras.

O efeito pior do aldicarbe é agudo, por concentração mais alta”, diz o toxicologista. “De todo modo, não deveria haver resíduo desse tipo de jeito nenhum”, diz o toxicologista.