Punks organizam fim do mundo

Os shows do dia 1º de abril foram cancelados e serão reagendados posteriormente

Há 30 anos, o fim do mundo teve começo. No centro do vortex luminoso – criado pela música disco – surgia uma mancha monocromática, escura e insatisfeita com toda a apatia social, cultural e musical. Naquele ano, não se via mais as calças “boca de sino” desfilando pelas ruas. Desta vez, as vestimentas eram surradas, com alfinetes perfurando o pano.

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Capa do disco com as músicas tocadas no festival de 1982.

O topete tinha sido confiscado e em seu lugar, espetos coloridos, cabeças raspadas e jaquetas de couro. Do Largo São Bento, no centro de São Paulo, até o ABC, uma nova leva de jovens movidos pela contracultura lotou o Sesc Pompeia no maior festival punk do país. Em 1982, “O Começo do Fim do Mundo” e agora, em 2012, “O Fim do Mundo, Enfim”.

Nos dias  29, 30 e 31 de março, sempre às 21h30, o Sesc Pompeia sediará mais um apocalipse musical: o “Fim do Mundo, Enfim”, que reúne 14 bandas de punk rock da velha e da nova escola. A entrada é até R$ 16.

“Na época, foi um dos maiores festivais punks do mundo”, lembra Clemente, vocalista da banda Inocentes, um dos grupos pioneiros, que tocou na primeira edição e volta a se apresentar neste mês. O evento permitiu que os punks paulistanos tocassem seu som para um grande público, que reunia desde adeptos à ideologia quanto os interessados em conhecer aquela cultura essencialmente urbana. Outro fato inédito ocorrido foi o encontro das tribos de São Paulo com as do ABC, até então rivais.

Escritor e dramaturgo brasileiro, Antônio Bivar, estava prestes a lançar seu livro “O que é Punk” e foi quem teve a ideia de organizar o festival no Sesc Pompeia, inaugurado no mesmo ano (1982). “[O festival] trouxe uma visibilidade gigantesca, não só no Brasil mas no mundo. Saiu na revista Veja, Folha de São Paulo, todos os veículos importante cobriram o evento, exceto a Globo que foi expulsa pelos punks”, ressalta Clemente.

No documentário “Botinada”, dirigido por Gastão Moreira, a aversão que os punks criaram pela Rede Globo de Televisão surgiu a partir de uma matéria feita para o programa Fantástico, onde uma repórter supostamente distorceu as respostas dos entrevistados e com isso acabou difamando o estilo musical e sua ideologia. A partir desse episódio, o punk no Brasil foi marginalizado.

Com a passagem do tempo, o contexto que envolvia o movimento punk brasileiro mudou e, com isso, muitos dos impasses combatidos pelos jovens deixaram de existir. “Acabou a ditadura, nosso inimigo mais tradicional [risos]. Bem hoje pode se falar em cena e não mais em movimento como antigamente, são vários grupos, bandas que às vezes divergem de algumas coisas, mas mantêm a cena forte e ativa”, enfatiza. Para esta nova edição, Clemente aposta no básico, porém essencial: ” Bons shows e rock feito com o honestidade, coisa rara nos dias de hoje”.

Confira a programação do “Fim do mundo, enfim”:

29/3

Inocentes

Devotos

Os Excluídos

30/3

Garotos Podres

Attaque 77 (ARG)

Flicts

31/3

Ratos de Porão

Invasores de Cérebro

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