Itaú Cultural promove debate sobre a prática do “blackface” nesta terça-feira

Após cancelamento da peça, Itaú Cultural e Cia. Os Fofos Encenam convidam público a discutir a questão do racismo no teatro

11/05/2015 17:12 / Atualizado em 05/05/2020 16:49

Nesta terça-feira, o Itaú Cultural realizará o debate “Arte e a Sociedade: a Representação do Negro”, que discutirá a polêmica apresentação do espetáculo “A Mulher do Trem”, da Cia. Os Fofos Encenam, cancelada após a forte mobilização nas redes sociais contra o uso da prática “blackface”. O encontro tem início às 20h e a distribuição dos ingressos acontecerá com 30 minutos de antecedência.

Entenda o Black Face

O blackface surgiu por volta de 1830, quando homens brancos se pintavam de preto – de forma caricata – e se apresentavam para a aristocracia branca com o objetivo de satirizar a população negra.

Anos depois, a prática ganhou popularidade nos cinemas e televisão, como ferramenta de entretenimento cultural. Contudo, como escreveu Djamila Ribeiro, do blog Escritório Feminista, o blackface “serve tanto como estereótipo racista quanto como forma de exclusão, porque se no primeiro caso ridiculariza, no segundo nega papéis a artistas negros”.

Blackface surgiu nos anos 1830, na época dos menestréis, quando atores brancos se pintavam de preto em prática racista
Blackface surgiu nos anos 1830, na época dos menestréis, quando atores brancos se pintavam de preto em prática racista

Os convidados 

O debate contará com mediação do DJ e ator Eugenio Lima, membro fundador da Frente 3 de Fevereiro e do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, participam da mesa: Stephanie Ribeiro, estudante de arquitetura, blogueira e ativista; Fernando Neves, professor, pesquisador, ator e um dos diretores da companhia Os Fofos Encenam; Aimar Labaki, dramaturgo, roteirista, diretor, tradutor e ensaísta; Mario Bolognese, professor de teatro da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp) e pesquisador do circo brasileiro; Salloma Salomão, educador, músico e pesquisador visitante do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, além de coordenador do projeto Arca de Ébano; Roberta Estrela Dalva, atriz do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos; e Dennis Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do coletivo Quilombação.

“Nós, da Cia. Os Fofos Encenam, gostaríamos de dizer que estamos ouvindo, respeitando e refletindo sobre todas as opiniões e questionamentos feitos sobre o nosso trabalho. Ficou claro pra nós que black face é racismo. Gostaríamos de, a partir desse fato, dialogar sobre os caminhos possíveis para as manifestações culturais brasileiras que utilizam também o recurso do rosto pintado de preto, recurso este que não se origina, como o black face, no movimento americano, racista nasua origem, e sim nos artistas populares das feiras europeias que desde o século XVI exploravam as relações sociais nas histórias que representavam.

Entendemos a complexidade da questão e que talvez essa diferenciação não seja possível. Mas essa é uma questão que não se restringe ao trabalho dos Fofos. Sendo assim, acreditamos que o debate seja uma escolha política tão importante quanto a apresentação do espetáculo.

Após a repercussão da nossa carta de reação às acusações de racismo, decidimos em comum acordo com o Instituto Itaú Cultural, cancelarmos momentaneamente a apresentação do espetáculo A Mulher do Trem para que possamos juntos, discutir sobre as questões levantadas. Seguimos acreditando no diálogo para construção de uma sociedade mais justa e esperamos que o debate seja benéfico para todos”.