“No meu vão ninguém mete a mão”

Debate sobre cercamento do vão livre do MASP surgiu nos últimos dias, após editorial de jornal que defendia a ideia; conheça quem é contra a iniciativa

26/11/2013 13:12 / Atualizado em 04/05/2020 14:00

Na época em que São Paulo começa a rever seus conceitos de utilização de espaços públicos, revitalizando praças, criando parques ou levantando prédios, os paulistanos encontram-se diante de uma discussão que pode definir o futuro do que, para muitos, é o mais famoso e democrático espaço público da cidade, o “vão livre” do MASP.

Na época da construção do museu, o doador do terreno do MASP à Prefeitura exigiu que fosse preservada a vista para o Centro e para a Serra da Cantareira. Foi por isso que a arquiteta Lina Bo Bardi planejou o museu com uma edificação subterrânea e outra suspensa, o que originou o vão. Sobre o espaço, Lina disse: “Não procurei a beleza. Procurei liberdade”.
Na época da construção do museu, o doador do terreno do MASP à Prefeitura exigiu que fosse preservada a vista para o Centro e para a Serra da Cantareira. Foi por isso que a arquiteta Lina Bo Bardi planejou o museu com uma edificação subterrânea e outra suspensa, o que originou o vão. Sobre o espaço, Lina disse: “Não procurei a beleza. Procurei liberdade”.

O debate começou com o editorial chamado “É preciso preservar o Masp”, publicado na edição de 20 de novembro do jornal O Estado de São Paulo. No texto, o autor anônimo discorre sobre o vão livre do museu, defendendo a ideia de que ele foi ocupado por usuários de drogas e manifestantes. Segundo o editorial, cabe às administrações responsáveis (de São Paulo e do MASP) aceitar a “nova realidade da cidade”, “cercar o Museu” e “recorrer à força policial para colocar cada um no seu devido lugar”.

Nos dias seguintes, vários cidadãos começaram a se manifestar contra a ideia. Uma das iniciativas que mais chamaram a atenção é a página do Facebook “No meu vão ninguém mete a mão”, criada no dia 22. O Catraca Livre bateu um papo com o criador da página, Alessandro Sbampato, que também é arquiteto e urbanista. Confira como foi.

Por que você criou a página?

Foi engraçado como surgiu. Eu tinha lido o editorial do Estado, e estava comentando o assunto com o Abílio Guerra, editor da Vitruvius, e soltei a frase. Na hora, brinquei “dava pra fazer uma campanha com esse mote” e deixei pra lá. Mais tarde, pensei “acho que eu vou criar aquela pagina”.

E qual o objetivo dela, mostrar que quem muita gente contrária à ideia?

Isso, mostrar que o “consenso” levantado pelo Estadão foi baseado em nada. O preocupante, na verdade, é saber que essa tese higienista do uso controlado do espaço público, se for bem vendida, pode atingir grande repercussão atualmente. O cidadão médio paulistano é excludente, tem essa coisa embutida. Quer “limpar” a cidade das imperfeições não importa como. Varrendo os problemas pra baixo do tapete.

A ideia é meio surreal, não? Acha que o editorial pode ter sido uma provocação barata?

Acho que é uma provocação, mas não é barata. Acho que a tese principal de fechamento é o cerceamento da manifestação em espaços públicos. E isso é grave. O jornal em si não tem nenhum poder, mas aglutina um monte de pessoas que leem e falam “olha, não sou só eu, o Estadão também acha que tem que prender maconheiro”.

Há planos de organizar algum debate ou encontro por enquanto, ou a intenção mesmo é juntar gente que pensa assim?

Estou esperando pra ver o que acontece, se surge alguma ação espontânea do tipo. Eu, pessoalmente, não tenho como me dedicar a essa agenda, pois estou cheio de atividades que tomam meu tempo. Se surgir como uma coisa natural, ótimo. Minha intenção era ver o que aconteceria. Mas acho que é fundamental discutir o seguinte: primeiro, de onde partiu o editorial dentro do Estadão; segundo, as posições do Teixeira Coelho [curador do museu]; e, terceiro, se o MASP realmente nunca entrou com pedido de fechamento do vão junto ao Iphan. Pois, de acordo com pessoas do Iphan que comentaram na página, o editorial cita a negação de supostos pedidos de cercamento do vão, mas que na realidade não existiram.