Heliópolis faz experiência de festa sem álcool nem drogas
Aconteceu neste último fim de semana uma festa diferente: trata-se de uma balada movida a rap e a funk em que é proibida a entrada de bebida alcoólica e de drogas. Se alguém acender um “baseado”, leva uma advertência; se insistir, a festa terminar para todos. As rígidas normas não foram estipuladas por adultos, mas pelos próprios jovens de Heliópolis, a maior favela de São Paulo.
É a primeira vez que jovens de comunidades populares recebem treinamento profissional em comunicação para alertar seus colegas sobre os perigos das substâncias psicoativas -o álcool, em particular. O trabalho, desenvolvido por dois anos, focou da publicidade ao jornalismo.
Estimular bandas de funk, hip-hop, samba e pagode a produzir letras que despertem o interesse dos jovens pela saúde faz parte desse projeto de marketing. As baladas são gratuitas e já atraíram os talentos locais, o que significa sucesso na certa.
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CCBB apresenta Rappin Hood no projeto “Radiografia Cultural”
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Todos sabemos que o consumo abusivo de álcool e a juventude constituem uma combinação altamente explosiva. Por isso um projeto como esse, se for bem-sucedido, tende a ganhar escala nacional.
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Em gestação há três meses, o projeto partiu da ideia de que os adultos não encontrariam linguagem mais apropriada para falar sobre álcool com os adolescentes. Mas os jovens teriam a limitação de não conhecer técnicas de marketing, publicidade e jornalismo. Assim se delineava a ideia de criar agentes comunitários de comunicação.
Habituada a fazer as mais diversas parcerias, com nomes que vão de Antonio Candido a Ruy Ohtake, a comunidade de Heliópolis obteve apoio da iniciativa privada (AmBev) para oferecer formação aos jovens.
Ali se desenvolve o conceito de bairro-educador.
O objetivo é conscientizar o jovem e, ao mesmo tempo, os donos de bares, estimulando-os a cumprir a lei e a não vender bebidas a menores de 18 anos. Parte da campanha será focada também nos pais.
O que se busca é prevenir o problema. Se já é difícil cuidar de jovens abastados, que têm acesso a recursos médicos e a apoio psicológico, imagine a arduidade da tarefa na periferia, carente de tudo e cheia de famílias desestruturadas.
A Universidade Federal de São Paulo desenvolve um programa que trata, ao mesmo tempo, o filho e os pais, na suposição de que a família desinformada mais atrapalha do que ajuda.
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Para se dedicarem diariamente ao projeto, os agentes comunitários de comunicação recebem uma bolsa mensal e devem estar matriculados na escola.
Recebem aulas de redação e aprendem técnicas de montagem de sites, além de design gráfico para a produção de cartazes. Há também aulas sobre saúde, que os levam a entender como as substâncias psicoativas alteram o cérebro.
Também vão aprender a criar programas de rádio e televisão, além de peças de publicidade. A rádio Heliópolis transformou-se numa espécie de Redação-escola.
São apoiados por publicitários de uma agência profissional (Repense) na produção dos slogans e no planejamento de marketing.
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Entendeu-se que uma das maneiras mais eficazes de falar com o jovem seria o olho no olho. Decidiu-se, portanto, promover uma balada por mês, com as bandas locais, que, depois, farão uma gravação num estúdio profissional, com direito a videoclipe. Adolescentes serão convidados a mostrar suas produções em artes plásticas, literatura (poesia e conto), vídeos, grafite e moda. Já há, no bairro, uma confecção com um ateliê-escola.
Um dos pontos da estratégia de marketing é a premiação, com produtos, dos bares que aderirem à campanha. Cada dono de bar premiado será apresentado como uma espécie de herói local em peças publicitárias e nos programas.
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Ainda não se sabe se tudo isso vai funcionar. Está sendo realizada uma pesquisa qualitativa para avaliar a percepção dos jovens sobre o abuso do álcool. Daqui a dois anos, será feita uma nova medição, que vai oferecer pistas sobre o desempenho da experiência.
Independentemente do resultado, o projeto está conectando mais comunidades populares do eixo Rio-São Paulo, como Paraisópolis.
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A experiência de Heliópolis pode até dar errado, mas, se isso ocorrer, não terá sido por falhas técnicas. O fato é que esse caminho costuma dar certo quando se faz da juventude uma fonte de soluções.
Basta lembrar que o instigante nome do projeto, Alconsciência, foi inventado pelos próprios jovens, depois de ouvirem seus colegas.
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PS- Para conhecer a dimensão da tragédia que envolve o álcool e a juventude, coloquei uma série de artigos no meu site (www.dimenstein.com.br).