Racismo: Aluno se nega a receber material das mãos de professora negra

Segundo colegas de classe, o estudante já disse que “não se mistura com negros pois foi bem criado”

10/12/2019 23:59

Um aluno da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), identificado como Danilo Araujo de Góis, se recusou a receber um material das mãos de uma professora da instituição por ela ser negra. Estudantes gravaram o momento que aconteceu durante uma aula da disciplina História do Brasil Império, nesta segunda-feira, 9.

Racismo: Aluno se nega a receber material das mãos de professora negra
Racismo: Aluno se nega a receber material das mãos de professora negra - Reprodução/Twitter

Colegas relataram que desde que entrou na Universidade, em 2018, o estudante de Ciências Sociais tem comportamento racista e se recusa a pegar coisas das mãos de pessoas negras ou até mesmo sentar próximo. Chegando a dizer que “não se mistura com negros pois foi bem criado”.

Um dos vídeos gravados por alunos que mostra a sala repleta de estudantes negros viralizou no Twitter. Nele é possível ver que o aluno não aceitou receber um material da professora, que ela insiste mas ele diversas vezes pede para que ela coloque os papeis na mesa para que aí, então, ele pegue.

Momentos depois, uma outra professora adentra a sala de aula, se identifica como coordenadora do curso de História e pede para que o aluno racista se retirasse da sala de aula após a professora alegar que não se sentia confortável em continuar com a atividade na presença dele.

A Polícia Civil do estado informou que o caso foi registrado na Delegacia Territorial de Cachoeira e será apurado pela unidade.  Em nota, a universidade repudiou a atitude do estudante.

Leia, na íntegra, o comunicado da UFRB sobre o episódio:

“A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) manifesta veemente repúdio às atitudes ofensivas do estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis, para com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis e outros estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. A instituição já criou uma comissão para apurar as denúncias encaminhadas por estudantes e professores do Centro, que informam ter presenciado reiteradas manifestações de preconceito racial, de gênero e de homofobia por parte do estudante.

A UFRB informa que está tomando as medidas administrativas e jurídicas cabíveis ao caso, de modo a contribuir com a apuração dos fatos ocorridos na noite do dia 9 de dezembro, em sala de aula, no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. Após se recusar a receber uma avaliação das mãos da professora, o estudante foi denunciado pelos presentes por ato de preconceito racial, conforme vídeo veiculado em redes sociais.

Como instituição de ensino superior comprometida com os valores democráticos, o respeito à diversidade e implicada com os territórios de identidade em que está presente, a UFRB rechaça todo e qualquer ato de racismo, sexismo, LGBTfobia, intolerância e/ou violência, seja no âmbito acadêmico ou no cotidiano em geral.

A UFRB considera fundamental ao processo formativo na graduação e na pós-graduação o respeito às diferenças para constituir um ambiente de convívio saudável, sem discriminação. Ao mesmo tempo, a instituição manifesta solidariedade à professora e estudantes ofendidos no espaço da Universidade e reafirma seu compromisso em não deixar impunes atitudes desta natureza”.

Racismo: saiba como denunciar

Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Para mas informações, clique aqui.