Como o efeito placebo pode aliviar sintomas sem remédio

Fenômeno desafia a fronteira entre mente e corpo, mostrando que a expectativa de cura pode gerar reações fisiológicas reais

14/08/2025 17:52

Você já se sentiu melhor depois de tomar um remédio mesmo antes de ele “fazer efeito”? Ou já melhorou com um tratamento que depois descobriu ser simbólico? Esses são exemplos do efeito placebo, um dos fenômenos mais fascinantes da medicina.

O termo se refere ao uso de substâncias ou procedimentos sem ação farmacológica comprovada, mas que produzem melhora real nos sintomas, graças à crença, expectativa e contexto.

Como o cérebro responde ao placebo?

O efeito placebo tem base neuroquímica. Quando o paciente acredita estar sendo tratado, o cérebro ativa sistemas associados à cura e ao alívio da dor. Entre os principais neurotransmissores liberados estão:

  • Dopamina (associada à motivação e prazer);
  • Endorfina (atua como analgésico natural);
  • Serotonina (regula humor e sono).

Essas substâncias provocam mudanças reais no corpo, como diminuição da dor, melhora da respiração, redução da inflamação e sensação de bem-estar.

Em quais situações o placebo é mais eficaz?
O efeito placebo tem resultados mais visíveis em sintomas subjetivos, isto é, que dependem da percepção individual:

  • Dor crônica;
  • Náusea;
  • Ansiedade;
  • Insônia;
  • Depressão leve.

Em doenças com marcadores objetivos, como câncer ou fraturas, o placebo não cura a causa, mas pode aliviar sintomas secundários (como dor ou desconforto), melhorando a qualidade de vida do paciente.

Expectativa, ambiente e sugestão: os catalisadores do placebo
Alguns fatores aumentam a chance de resposta ao placebo:

  • Confiança no profissional: Médicos empáticos e seguros aumentam a expectativa positiva;
  • Ambiente clínico favorável: Consultórios organizados, jalecos e linguagem técnica aumentam a sensação de tratamento real;
  • Experiências anteriores: Se o paciente já teve melhora com determinado tipo de remédio ou intervenção, pode ser condicionado a repetir esse alívio.

Placebo em animais: funciona mesmo sem consciência?
Surpreendentemente, animais também respondem ao placebo. Em estudos com cães e ratos, foram observadas melhoras comportamentais e físicas após intervenções simbólicas, como “injeções falsas” ou cuidados simulados.

A hipótese é que o ambiente de carinho, cuidado e atenção ativa no animal mecanismos biológicos de relaxamento e recuperação, mostrando que o efeito placebo vai além da mente consciente e pode ter base biológica e social.

Placebo na ciência: como ele é usado em testes clínicos?
O placebo é um dos pilares dos ensaios clínicos, usados para testar novos medicamentos. Os voluntários são divididos em dois grupos:

Grupo experimental: recebe o medicamento real
Grupo controle: recebe o placebo

Há dois tipos de estudo:

Cego: o paciente não sabe se está recebendo o placebo
Duplo-cego: nem paciente nem médico sabem, evitando interferências nos resultados

Se o grupo com o remédio real melhorar significativamente mais do que o grupo placebo, considera-se que o medicamento é eficaz de verdade.

Isso não invalida a melhora, mas reforça o papel da mente, do cuidado e do ambiente no processo de cura.

Em saúde mental
Na psicologia e psiquiatria, o placebo é usado para entender como a expectativa e o contexto emocional afetam os sintomas físicos e mentais. Terapias que constroem uma narrativa de cura, mesmo simbólica, podem fortalecer a autoconfiança e resiliência do paciente.

Placebo transparente: funciona mesmo sabendo que é falso?
Sim! Estudos mostram que, mesmo quando o paciente sabe que está tomando um placebo, ele pode sentir melhora desde que a explicação seja clara e envolva apoio emocional. Isso levanta novas possibilidades para o uso ético do placebo, especialmente em casos onde não há tratamento farmacológico eficaz disponível.

O efeito placebo não é enganação, é uma prova de que mente, corpo e contexto trabalham juntos no processo de cura.