Conheça a cidade nordestina que lembra a famosa Paris

Mais antiga que Fortaleza, Icó guarda heranças francesas surpreendentes e ganha os holofotes com novo documentário histórico-cultural

14/08/2025 17:44

Você não precisa cruzar o Atlântico para encontrar traços da cultura francesa. No sertão do Ceará, a cidade de Icó, a apenas quatro horas de Fortaleza, surpreende ao carregar o título simbólico de “Paris brasileira”.

Fundada há 342 anos, o município ressurge no cenário nacional com o lançamento do documentário Icó, a Paris do Sertão, uma produção que mergulha em séculos de história e influências europeias no coração do Nordeste.

Dirigido por Roberto Bomfim e Eduardo Barros, o filme integra o projeto “Ceará Francês” e revela como Icó preserva costumes, arquitetura e valores herdados diretamente da França. A obra é resultado de mais de 10 anos de pesquisa e valoriza o senso de pertencimento dos moradores, que mantêm viva uma identidade cultural singular e pouco conhecida fora da região.

Icó: a “Paris do Sertão” que preserva raízes francesas no interior do Ceará

Arquitetura, história e a herança de Théberge

Icó surgiu às margens do rio Salgado e se tornou um polo político e comercial do Ceará durante o século XVIII, chegando a ser capital da província por um breve período em 1823. Mas foi a partir do século XIX que a influência francesa se fortaleceu, com jovens da elite local viajando à Europa e retornando com ideias, modas e gostos que transformaram o cenário da cidade.

Entre os maiores símbolos dessa fase está o Theatro da Ribeira dos Icós, considerado o primeiro teatro do Ceará, com forte inspiração na arquitetura europeia. Outro personagem fundamental dessa história é Pedro Théberge, médico e historiador francês que viveu na cidade e contribuiu para torná-la um centro intelectual efervescente.

Fortaleza e sua própria “Belle Époque”

A capital cearense também não ficou imune ao charme francês. Durante o início do século XX, Fortaleza viveu sua própria Belle Époque, com cafés como o Riche e lojas batizadas de Maison Art-Nouveau e Torre Eiffel. As exigências sociais, como o uso de trajes formais e echarpes mesmo sob o calor nordestino, espelhavam os padrões da Paris moderna.

Locais como o Theatro José de Alencar, o Passeio Público e o atual Mercado dos Pinhões são reflexos dessa tentativa de recriar a atmosfera da capital francesa nos trópicos. Ainda assim, é em Icó que a herança se mantém mais fiel, não só em estruturas, mas no imaginário e na memória coletiva de uma cidade que resiste ao tempo com elegância europeia.

Icó, a Paris do Sertão é mais do que um documentário: é um convite a redescobrir a riqueza cultural do interior cearense e enxergar o sertão com outros olhos, olhos que veem além da seca e do estigma, e encontram pontes históricas com a Europa.