Conheça a história do homem que sobreviveu a veneno de cobras mortais

Tim passou 17 anos levando picadas das cobras mais venenosas do mundo, o experimento abriu caminho para o desenvolvimento de um soro antiofídico universal

14/08/2025 17:45

Durante quase duas décadas, o norte-americano Tim Friede, um ex-mecânico, levou propositalmente picadas de algumas das cobras mais venenosas do planeta. O objetivo? Desenvolver imunidade e, com isso, contribuir para a criação de um soro antiofídico universal.

O experimento extremo, que muitos consideram insano, atraiu a atenção de cientistas e agora começa a render frutos: os anticorpos produzidos pelo corpo de Tim estão sendo usados em testes promissores que podem revolucionar o tratamento de envenenamentos.

Uma obsessão que começou na infância

A relação de Tim com cobras começou cedo. “Eu tinha cinco anos quando fui picado pela primeira vez”, relembra. Fascinado pelos répteis, passou a estudá-los e, na vida adulta, começou a criá-los em casa. Comprava os animais pela internet e recebia em caixas de madeira, direto da Flórida.

Com a consciência de que uma mordida fatal era apenas questão de tempo, Friede decidiu dar um passo além: começou a aplicar em si mesmo pequenas doses de veneno diluído, na tentativa de forçar o corpo a criar resistência. Em seguida, passou a levar picadas diretas, sem qualquer acompanhamento médico.

Fiquei quatro dias em coma na UTI”, conta. Mesmo após quase morrer, não parou. Documentou tudo em vídeos, que hoje somam centenas de aplicações e picadas, incluindo quatro de uma só vez da temida mamba negra.

Resultados científicos e anticorpos únicos

A exposição constante fez com que o corpo de Tim desenvolvesse um nível elevado de anticorpos neutralizantes, o dobro do normal. Esses anticorpos chamaram a atenção de pesquisadores, que passaram a estudá-los.

Um artigo científico recente descreve como dois anticorpos isolados do sangue de Tim, combinados com inibidores, neutralizaram 13 dos 19 venenos mais letais conhecidos. Um deles bloqueou 100% do veneno da mamba negra.

Diferente dos soros tradicionais, que precisam ser específicos para cada espécie, o novo composto tem potencial para ser eficaz contra múltiplos tipos de veneno, o que pode ser vital em situações em que não se sabe qual cobra atacou.

O que fazer em caso de picada de cobra?

No Brasil, mais de 31 mil casos de picadas de cobras foram registrados apenas em 2024, com 127 mortes. Por isso, saber agir corretamente é essencial.

Segundo a médica Fan Hui Wen, diretora do Núcleo de Produção de Soros do Instituto Butantan, o mais importante é não amarrar, cortar ou tentar sugar o veneno. A recomendação é lavar com água e sabão, manter a pessoa calma e levá-la o mais rápido possível a um hospital.