Essa bateria dura 50 anos com uma única carga

Tecnologia chinesa transforma radiação em energia elétrica contínua e segura. Versão para celulares pode chegar até o fim de 2025

14/08/2025 17:49

Uma bateria do tamanho de uma moeda pode transformar radicalmente a forma como lidamos com energia em dispositivos eletrônicos. Lançada no início de 2025 pela empresa chinesa Betavolt New Energy, a tecnologia promete fornecer energia por até 50 anos sem necessidade de recarga. O segredo está em uma fonte nuclear segura, silenciosa e estável, capaz de alimentar aparelhos com consumo baixo ou moderado por décadas.

A novidade ainda não está pronta para os smartphones atuais, mas a empresa já trabalha em uma versão mais potente, com previsão de lançamento até o fim do ano, o que pode abrir caminho para celulares que nunca precisem de carregador. A célula, chamada BV100, utiliza a energia gerada pela radiação beta emitida por um isótopo chamado níquel-63. Essa radiação é convertida em eletricidade contínua por meio de camadas de diamantes artificiais semicondutores, sem gerar calor excessivo ou risco de combustão.

A segurança, segundo a Betavolt, é total: o processo é selado internamente e, ao fim da vida útil, o material radioativo se transforma em cobre estável e reciclável, sem impacto ambiental. Atualmente, a BV100 entrega 100 microwatts a 3 volts, o suficiente para equipamentos como sensores, marcapassos, drones e dispositivos militares. Mas a meta é alcançar, em breve, 1 watt de potência, o que já permitiria aplicações em eletrônicos de consumo, especialmente se várias células forem agrupadas.

Bateria nuclear pode durar 50 anos e aposentar carregadores

A grande vantagem em relação às baterias tradicionais é a durabilidade incomparável. Enquanto baterias de íon-lítio costumam durar de dois a três anos, a bateria nuclear mantém desempenho constante por até meio século. Além disso, é resistente a temperaturas extremas, impactos e não sofre com degradação química. Para dispositivos médicos, industriais ou de difícil acesso, essa inovação representa um avanço histórico.

A adoção em smartphones, no entanto, ainda exige superação de alguns desafios. Aparelhos modernos consomem entre 2 e 6 watts, o que exigiria o uso de múltiplas BV100 em paralelo. Isso traz implicações de design, gestão térmica e compatibilidade com os sistemas internos dos celulares. Outro obstáculo é a regulamentação: apesar da radiação ser mínima e controlada, o uso do termo “nuclear” ainda gera desconfiança e pode enfrentar barreiras legais em alguns países.

Mesmo com essas limitações, o impacto da nova tecnologia já se mostra promissor. A Betavolt projeta aplicações imediatas em ambientes hostis, como regiões polares, desertos e até no espaço. Também prevê o uso em sensores remotos, satélites, equipamentos de espionagem e implantes médicos que dispensam cirurgias futuras.

Se confirmada a chegada ao mercado de consumo, a bateria nuclear poderá aposentar o carregador, eliminar o uso de tomadas e transformar o cotidiano de milhões de pessoas. O celular passaria a ser um item totalmente autossuficiente em energia, disponível a qualquer momento e em qualquer lugar, inclusive em locais sem infraestrutura elétrica. Fabricantes poderiam explorar a ideia de dispositivos com “bateria vitalícia”, algo que hoje ainda parece ficção.

Embora a tecnologia betavoltaica não seja nova — já utilizada há décadas em marcapassos — o avanço da Betavolt dá um novo fôlego a essa abordagem. A principal diferença agora é a escala: pela primeira vez, fala-se em versões compatíveis com o mercado de massa. O desafio, como sempre, será equilibrar inovação com segurança, custo e aceitação pública.

No fim das contas, o futuro de celulares e eletrônicos pode estar nas mãos de quem conseguir integrar essa fonte energética quase eterna com eficiência e responsabilidade. A questão que se impõe é simples e profunda: estamos prontos para nunca mais carregar nossos aparelhos?