Motoristas de app trocam corridas por entregas e aumentam ganhos
Motoristas de app estão migrando para entregas, buscando mais estabilidade, menos desgaste e ganhos mais consistentes por quilômetro
Um movimento silencioso, porém crescente, está moldando o novo cenário da mobilidade urbana no Brasil: motoristas de aplicativo estão deixando o transporte de passageiros para se dedicar exclusivamente às entregas. O motivo? Maior rentabilidade, menor desgaste físico e emocional, e uma rotina de trabalho mais previsível.
Nas grandes capitais, como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, o fenômeno já é visível. Relatos de motoristas com anos de experiência em plataformas como Uber e 99 revelam que muitos estão trocando as longas jornadas no trânsito por entregas de pacotes, alimentos e documentos, uma decisão que, segundo eles, tem proporcionado não apenas maior lucro, mas também melhor qualidade de vida.
Menos corridas, mais ganhos por quilômetro
Os profissionais apontam que, ao migrar para as entregas, passaram a rodar menos quilômetros por dia e, ainda assim, conseguiram manter ou até aumentar seus rendimentos. Um motorista que percorria cerca de 250 km diários com corridas de passageiros relata hoje trabalhar com uma média de 100 a 150 km por dia fazendo entregas e lucrando mais.
Isso ocorre, em parte, devido à estrutura de pagamento por rota, muitas vezes mais vantajosa do que a tarifa dinâmica das corridas. Outro fator é a economia direta com combustível e manutenção do veículo, que tende a ser menor com a redução da quilometragem e do tempo de uso.
Fim da pressão e da imprevisibilidade
Ao deixar de transportar pessoas, os motoristas eliminam da rotina problemas recorrentes como atrasos causados por trânsito intenso, cancelamentos, passageiros mal-educados e deslocamentos longos e sem retorno. As entregas, por outro lado, oferecem maior previsibilidade, com rotas definidas e horários mais bem distribuídos.
Além disso, a possibilidade de aceitar ou recusar pedidos com base no custo-benefício permite maior controle sobre a jornada. O motorista pode, por exemplo, priorizar entregas em áreas próximas, organizando seu dia de maneira mais estratégica e eficiente.
Qualidade de vida como diferencial
Mais do que ganhos financeiros, o que tem motivado muitos motoristas é a melhora na qualidade de vida. A troca de corridas por entregas reduz o estresse emocional, o desgaste físico e a sensação de insegurança que pode surgir ao lidar diretamente com passageiros desconhecidos.
“Hoje termino o dia menos cansado, com mais tempo pra mim e para minha família. Isso não tem preço”, relata Rodrigo Silva, ex-motorista da Uber, que hoje atua com entregas em São Paulo.
Especialistas confirmam a tendência
Pesquisadores em mobilidade urbana e economia de plataformas já identificam essa movimentação como uma mudança estrutural no setor. Com o aumento da concorrência, a redução de tarifas e o esgotamento emocional dos profissionais, o modelo baseado em entregas tem se mostrado mais atrativo e sustentável.
Empresas como Uber, iFood e Lalamove estão acompanhando essa migração de perto. Algumas já começaram a oferecer atualizações em seus aplicativos, como o bloqueio de usuários problemáticos, otimização de rotas e bonificações por volume de entregas.
Embora a mudança ainda esteja em curso, há indícios de que esse movimento deve se consolidar nos próximos anos. A busca por um modelo de trabalho mais autônomo, com menos riscos e maior previsibilidade, está levando os motoristas a repensar suas rotinas e estratégias de sobrevivência.
Em vez de passageiros, agora são pacotes que definem o rumo desses profissionais e, ao que tudo indica, a nova rota tem sido mais lucrativa e menos desgastante.