Novo estudo revela segredo envolvendo Ozempic

Medicamento usado no tratamento da diabetes e perda de peso apresenta efeitos promissores no alívio de dores crônicas em estudo recente

14/08/2025 17:52

Um novo estudo publicado no periódico The Journal of Head and Face Pain está movimentando a comunidade médica ao revelar um efeito até então inesperado do Ozempic, medicamento conhecido por tratar diabetes tipo 2 e auxiliar no emagrecimento. Pesquisadores descobriram que o fármaco pode reduzir significativamente a frequência das crises de enxaqueca, especialmente em pessoas com obesidade.

Durante um acompanhamento clínico de 12 semanas, os cientistas observaram que pacientes que tomaram o medicamento tiveram redução de até 50% nos dias com dor de cabeça por mês, indicando um novo e promissor caminho terapêutico para uma condição que atinge cerca de 15% da população mundial.

Ozempic pode reduzir crises de enxaqueca em pacientes com obesidade, aponta estudo científico

O que é o Ozempic?

O Ozempic é o nome comercial da semaglutida, um agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 (GLP-1). A substância foi inicialmente aprovada para controle da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2, mas logo se popularizou também como auxiliar no controle do apetite e da obesidade. Sua ação se dá pela regulação dos níveis de insulina, aumento da saciedade e lentificação do esvaziamento gástrico. Esse conjunto de efeitos contribui para a perda de peso e controle metabólico.

Enxaqueca crônica: uma dor que limita vidas

A enxaqueca crônica é uma doença neurológica que causa dores de cabeça intensas e persistentes, podendo durar dias. Em muitos casos, é acompanhada por:

  • Náuseas e vômitos;
  • Sensibilidade à luz (fotofobia);
  • Sensibilidade a sons (fonofobia);
  • Visão embaçada ou aura.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca está entre as 10 doenças mais incapacitantes do mundo, afetando o desempenho profissional, social e emocional de milhões de pessoas.

Detalhes do estudo: menos dor, mais qualidade de vida

O estudo envolveu 31 pacientes com obesidade e histórico de enxaqueca crônica. A maioria era composta por mulheres (26 no total). Todos os participantes foram monitorados durante 12 semanas e receberam doses regulares de semaglutida.

Resultados principais:

  • Redução da média de 20 para 11 dias com dor por mês;
  • Redução de cerca de 50% na frequência das crises;
  • Alívio significativo em mais de 70% dos participantes;
  • Efeitos colaterais leves (náuseas e constipação), geralmente transitórios.

Por que o Ozempic pode ajudar na enxaqueca?

Os pesquisadores apontam que o efeito benéfico não está diretamente ligado à perda de peso, já que a variação de peso dos pacientes durante o período foi pequena.

As hipóteses mais prováveis envolvem:

1. Redução da pressão intracraniana (PIC)
O excesso de peso pode levar ao aumento da pressão intracraniana um dos gatilhos para crises de enxaqueca. A semaglutida parece atuar na redução dessa pressão, ajudando a aliviar os sintomas.

2. Efeito anti-inflamatório e neuromodulador
Estudos anteriores já demonstraram que medicamentos da classe GLP-1 podem reduzir processos inflamatórios e atuar em regiões do cérebro ligadas à dor.

O que dizem os médicos?

Especialistas da área veem a descoberta com cautela e otimismo. Segundo o neurologista Marco Vinícius Tavares:

É um campo promissor de investigação. Se novos estudos confirmarem esses achados, estaremos diante de uma nova abordagem terapêutica para a enxaqueca.
Entretanto, ele ressalta que o uso deve ser restrito a protocolos científicos até que haja aprovação oficial para essa nova indicação.

No caso do Ozempic, já há controvérsias sobre seu uso indiscriminado para emagrecimento. O uso como tratamento para enxaqueca poderá acirrar ainda mais a demanda e os debates éticos. Contudo, mais estudos de longo prazo, com maior número de participantes, são necessários para confirmar a eficácia, segurança e os mecanismos envolvidos.

Até lá, o uso deve seguir critérios clínicos rigorosos e ser feito com acompanhamento médico especializado. A descoberta abre espaço para uma nova linha de pesquisa na interseção entre neurologia, endocrinologia e farmacologia.