10 motivos para conhecer Matosinhos, em Portugal
Na área metropolitana do Porto, cidade tem arquitetura singular, gastronomia de estrelas Michelin e um mar bom para peixe e surfistas
Matosinhos fica localizada na grande área metropolitana do Porto. Está mais perto, por exemplo, da pista do aeroporto Francisco de Sá Carneiro do que da escada vermelha da Livraria Lello, linda e famosa entre fãs de Harry Potter. É uma cidade que reúne arquitetura singular, aulas de surf, gastronomia de estrelas Michelin e atividades histórico-culturais que podem consumir mais de um dia de passeio. É possível desfrutar de tudo isso sem sequer pôr os pés no vizinho mais ilustre, provando ser Matosinhos um off-Porto bastante interessante.
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Os seus 15 quilômetros de costa são sinônimo de trabalho e lazer. O fenômeno da ressurgência (ascensão de águas das profundezas oceânicas) faz este trecho do Atlântico ser rico em nutrientes e biodiversidade local, atestada pela qualidade de peixes e mariscos. De natureza recortada, o litoral em Matosinhos é diferente em suas 15 praias, muitas delas procuradas pelos entusiastas de esportes náuticos ou gente disposta apenas a largar-se na areia clara.
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Provar o melhor peixe do mundo
Pode soar arrogante ostentar o slogan Matosinhos World ‘s Best Fish, mas é fato que a natureza foi generosa com a cidade. O reflexo está naquilo que se prova em restaurantes e marisqueiras: robalo, sapateira, polvo e o mítico percebes carregam sabores únicos. Bom ponto de partida para conhecê-los é o misto de mariscos de lugares como o Novo Casarão do Castelo, em Leça da Palmeira.
Saborear uma tradição secular
A forte ligação com o mar fez de Matosinhos um polo da indústria pesqueira em Portugal, chegando a cidade a contar com 50 unidades de produção de conservas. A visita a uma fábrica de sardinhas como a Pinhais, onde tudo ainda é produzido de modo artesanal, representa um mergulho nessa rica tradição secular. Fundada no Algarve em 1853, a Fábrica de Conserva Ramirez intitula-se a mais antiga empresa de conservas de peixe do mundo, tendo adotado Matosinhos na metade do século 20. Outra veterana aberta ao tour com degustação é a Conservas Portugal Norte, em atividade desde 1912.
Visitar um restaurante estrelado
Em Leça da Palmeira, equilibrado sobre as rochas, está a Casa de Chá da Boa Nova. Obra nascida do traço de Álvaro Siza Vieira entre 1958 e 1963, há alguns anos converteu-se em restaurante comandado pelo chef Rui Paula, tendo à porta da entrada duas estrelas do prestigiado Guia Michelin.
Nadar em piscinas aos pés do Atlântico
Siza Vieira nasceu em Matosinhos, em 1933. Seus primeiros trabalhos incluem não só a Casa de Chá da Boa Nova como também a Piscina das Marés. Construído em cima das pedras, o conjunto de duas piscinas, uma delas infantil, é abastecida por água do mar, tratada e filtrada. À disposição do público estão vestiários com chuveiros e armários, além de um bar. Abre para o banho apenas de junho a setembro.
Ter aulas de surfe
A praia de Matosinhos é ideal para quem quer aprender a surfar – a maior parte das escolas se concentra nela. A força das ondas (rolam tubos até) fazem de Leça da Palmeira o destino de surfistas e bodyboarders mais experientes. A praia do Aterro guarda semelhanças com Leça e tem alta frequência de ondas. O mar em Cabo do Mundo apresenta fundo de areia com rochas. Passarelas sobre as dunas levam os frequentadores até a faixa de areia.
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Admirar a capital da arquitetura portuguesa
Estação de metrô Brito Capelo, Galeria Municipal, Casa Roberto Ivens. Seja para vê-las por fora ou admirá-las internamente, as construções de linhas modernas em Matosinhos cativam pela elegância e funcionalidade. Inaugurado em 2015, o Terminal de Cruzeiros de Leixões tem autoria de Luís Pedro Silva, cujo desenho remete ao modo como as embarcações são amarradas no cais. Aberto à visitação apenas aos domingos, o sinuoso edifício é revestido por 1 milhão de azulejos imaculadamente brancos. Disposto a contá-los?
Na antiga Real Companhia Vinícola, primeiro prédio industrial da cidade, funciona desde 2017 o Centro Português de Arquitetura. Além de exposições e eventos, há visitas guiadas. Em seu acervo estão projetos de três expoentes unidos pela língua portuguesa, todos vencedores do Prêmio Pritzker, o mais importante desse segmento: Siza Vieira, Souto de Moura e o brasileiro Paulo Mendes da Rocha.
Fazer passeios e esportes ao ar livre
No início do século, o processo de requalificação urbana criou duas marginais nas praias de Matosinhos e Leça da Palmeira. Os arquitetos Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira, respectivamente, criaram um largo calçadão onde hoje é possível caminhar sem pressa ou praticar esportes por toda a sua extensão.
Ver o gigantismo em pedra, aço e fibra
Em atividade desde 1926, o Farol da Boa Nova é o segundo mais alto do litoral português, com 46 metros. Aberto gratuitamente à visitação apenas às quartas-feiras, é preciso preparo físico para vencer seus 213 degraus.
O Porto de Leixões foi a maior obra de engenharia feita em Portugal no século 19. Erguer dois paredões que avançam sobre o mar, com pedras que pesavam até 50 toneladas, só foi possível graças a um par de descomunais guindastes movidos a vapor. Hoje, um único titã ainda assombra o visitante, que pode ficar a 17 metros do chão para conhecer em detalhes seu sistema mecânico rotativo e ver ainda o resultado dessa façanha produzida pela mão humana.
Não menos monumental é a visão de She Changes ou a Anêmona, pitoresco batismo para a obra de Janet Echelman. A mente criativa da escultora norte-americana mexe com a livre interpretação deste misto de medusa e rede de pesca. Ir e vir pela Marginal de Matosinhos implica contorná-la sempre.
Conhecer a história de laços com o Brasil
Encravado no ponto onde ocorreu o desembarque de tropas, o Obelisco da Memória relembra a guerra travada entre o batalhão de 7.500 homens liderados pelo rei D.Pedro IV (Pedro I, no Brasil) contra o exército chefiado pelo irmão, D. Miguel. O episódio conhecido como Cerco ao Porto durou um ano e colocou em choque ideais liberais contra o pensamento absolutista. A resistência oferecida pela população em apoio a D. Pedro nesta guerra civil resultou no apelido de Invicta à cidade do Porto.
Depois de colaborar com a construção do Porto de Leixões, o pedreiro Emídio Ló Ferreira mudou-se para o Brasil. Fez fortuna ao trabalhar para Constantino Nery, então governador de Manaus. De volta a Matosinhos, em 1906 o construtor ergueu um teatro, batizado com o nome do político em forma de agradecimento.
Andar com fé
Matosinhos integra os quase 150 quilômetros do caminho português que conduz a Santiago de Compostela. A concha de vieira, símbolo do tradicional percurso de peregrinação, está de certa forma conectada à cidade. Diz-se que seu nome deriva da lenda de um cavaleiro que, durante sua conversão ao cristianismo, entrou no mar e dele regressou coberto por conchas. A expressão ‘matizado’, usada para descrever esse fenômeno, sofreu corruptelas como ‘matizadinho’, dando origem a Matosinhos.
Outra lenda alimenta a origem da mais antiga imagem de Cristo crucificado em tamanho natural. Ela fica na Igreja do Bom Jesus de Matosinhos e sua autoria é atribuída a Nicodemus, discípulo responsável por tirar o corpo de Cristo da cruz. Fato ou não, a devoção é tamanha que há séculos existe uma romaria muito popular no Norte de Portugal, realizada sempre 50 dias depois da Páscoa. No Brasil, há uma igreja homônima na cidade mineira de Congonhas do Campo.