Atriz baiana faz mochilão performático pelo Nordeste
Flora passou 45 dias viajando e performando nas praças das cidades escutando os sonhos das pessoas
Após concluir o curso de interpretação teatral na UFBA (Universidade Federal da Bahia), a atriz, performer e pesquisadora baiana Flora Mesquita resolveu botar o pé na estrada para realizar um mochilão performático.
Exausta do ambiente acadêmico, Flora decidiu pesquisar um tema que desde a sua infância provocava grande admiração, os sonhos. A atriz acredita que o sonho é um ato político de mudança social e é isso que permeia seu atual projeto.
Dividida em três performances a trilogia ‘’Eu, eles e nós, a construção onírica do Nordeste’’ é resultado de uma pesquisa que começou em novembro de 2016, na cidade de Ilhéus, cidade onde a artista nasceu.
“Um dia eu acordei com a ideia fixa, que eu iria viajar pelo Nordeste escutando os sonhos do povo. Estava cansada da universidade e desejava realizar um trabalho que partisse da rua para adentrar o ambiente acadêmico”.
Em sua primeira performance a atriz trouxe como material de pesquisa os seus sonhos, os da infância e os da fase adulta. Em uma apresentação que durou 2 horas, a performer convidou o publico a acompanha-la em um trajeto onde a mesma se despia do figurino revelando frases presas nas peças de sua roupa que traziam debates sobre a resistência dos seus sonhos.
Ao final, na praça da Piedade, a atriz entregou tesouras para o publico e os convidou a poder cortar o seu cabelo, deixando-o bem curto.
“A decisão de cortar o cabelo havia surgido depois da decisão de viajar de carona pelo Nordeste. O corte de cabelo traz como símbolo esse meu sonho de questionar o machismo e poder transitar por todos os locais sem ter medo por ser mulher”, conta.
Em maio, Flora começou a segunda performance do seu projeto. Viajando pelos sete Estados do Nordeste, a atriz passou por todas as capitais da região. O fato de não ter recursos não impediu a atriz de realizar o seu projeto dos sonhos, dessa forma ela decidiu fazer todo percurso de carona.
No total, a performer foi conduzida por 16 motoristas diferentes, teve carona de caminhão, de carro, moto e até barco. Durante esse um mês de estrada a atriz realizou a performance “Eles” na qual ela se colocava durante 3 dias em cada capital em diferentes praças da cidade, escutando os sonhos dos transeuntes que perpassavam o mesmo local escolhido para as performances.
Dessa etapa a performer recolheu um material audiovisual com duração de 400 min, que será utilizado na nova performance que finaliza a trilogia onírica.
“ Viajar de carona, foi uma das mais engrandecedoras experiências vividas até o momento. Eu tive a oportunidade de sair da bolha social a qual eu vivo. Conheci muita gente diferente de mim, conheci o meu Nordeste e aprendi com esse povo que sofre sorrindo. Ser mulher e estar em um local de carona, é poder questionar status quo, é acreditar em sonhos e em utopias”, diz a atriz que agora planeja a finalização do projeto onde utilizará o material recolhido na viagem como dramaturgia do seu novo espetáculo o “Nós”.
Ainda sem patrocínio, a atriz resiste com muita força e muitos sonhos.