Bairro de SP é eleito o terceiro mais descolado do mundo

Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, se destaca por cultura, gastronomia e vida noturna

28/09/2025 12:39

A revista britânica “Time Out” divulgou seu ranking anual dos bairros mais “cool” do mundo, e a Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, aparece na terceira posição. A lista, publicada em setembro de 2025, considera critérios como vida noturna, oferta cultural, gastronomia acessível e senso de comunidade. A região paulistana ficou atrás apenas de Jimbocho, em Tóquio (Japão) e Borgerhout, em Antuérpia (Bélgica).

O ranking “The 39 coolest neighbourhoods in the world in 2025” foi feito com base em uma pesquisa realizada pela revista, onde foram ouvidos especialistas e editores da própria publicação em outros lugares do mundo. O outro representante brasileiro na lista é o bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que aparece 29º lugar.

4E20 Vinyl Music Bar é um dos bares descolados da Barra Funda
4E20 Vinyl Music Bar é um dos bares descolados da Barra Funda - Instagram @4e20_bar

O reconhecimento internacional marca uma nova fase para a Barra Funda, que há décadas transita entre o passado industrial e o presente criativo. O bairro, que já foi sede de fábricas e galpões logísticos, hoje abriga ateliês, casas de show, bares autorais e espaços de arte contemporânea. A transformação urbana e cultural tem atraído moradores, empreendedores e visitantes em busca de experiências autênticas.

Segundo a “Time Out”, a escolha da Barra Funda se deve à sua capacidade de reunir diversidade cultural, preços acessíveis e uma cena artística em expansão. A publicação também destacou o papel da comunidade local na revitalização da região, com iniciativas que valorizam o espaço público e promovem eventos colaborativos.

“No mesmo quarteirão, você encontrará concreto, trilhos de trem e uma boate cult. Antigos armazéns se transformaram em estúdios, cafés da moda agora ocupam antigas oficinas mecânicas e as festas acontecem atrás de portões de ferro”, escreveu Lívia Breves, editora Time Out Rio de Janeiro

Gastronomia e arte como pilares da nova identidade

A transformação da Barra Funda é visível na oferta gastronômica. Restaurantes como Sururu, Komah e A Baianeira se tornaram referências na cidade. Cada um deles contribui para consolidar o bairro como destino gastronômico, com propostas que vão do “comfort food” à alta cozinha.

Galinhada na panela de ágata é uma das opções do menu do restaurante A Baianeira
Galinhada na panela de ágata é uma das opções do menu do restaurante A Baianeira - Matilda e Tari Azevedo|Estúdio Coma|Divulgação

Na área das artes visuais, a galeria Mendes Wood DM é um dos destaques. Reconhecida internacionalmente, a galeria mantém um espaço no bairro com exposições de artistas brasileiros e estrangeiros, reforçando o papel da Barra Funda como polo criativo. A presença de ateliês, estúdios e espaços independentes também contribui para a diversidade cultural da região.

A vida noturna é outro ponto forte. Casas como Blue Space, voltada para o público LGBTQIA+, e Villa Country, referência em música sertaneja, atraem públicos distintos e movimentam a agenda de shows e festas. A coexistência de estilos e tribos é uma das marcas da Barra Funda, que se tornou ponto de encontro para quem busca experiências urbanas fora dos circuitos tradicionais.

O Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer, é uma das atrações culturais da Barra Funda
O Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer, é uma das atrações culturais da Barra Funda - Dornicke/Wikimedia Commons

A proximidade com o centro da cidade e a boa oferta de transporte público — incluindo metrô, trem e ônibus — tornam a Barra Funda acessível para quem vem de outras regiões. Essa conectividade facilita o fluxo de visitantes e contribui para o dinamismo do bairro.

De polo industrial a bairro criativo

A história da Barra Funda começa no final do século 19, quando a região passou a receber imigrantes italianos e portugueses que trabalhavam nas indústrias e ferrovias próximas. O nome do bairro tem origem na geografia local: uma área baixa e alagadiça às margens do rio Tietê, que dificultava o acesso e a ocupação.

Avenida Água Branca, atual Avenida Francisco Matarazzo, década de 1920
Avenida Água Branca, atual Avenida Francisco Matarazzo, década de 1920 - Arquivo Nacional

Com o tempo, a região se desenvolveu como polo industrial e logístico, abrigando fábricas, depósitos e vilas operárias. A presença da estação ferroviária e do terminal rodoviário contribuiu para consolidar o bairro como ponto estratégico de circulação. A partir dos anos 2000, com a desativação de parte das estruturas industriais, a Barra Funda começou a atrair empreendimentos culturais e gastronômicos.

A transformação urbana foi acompanhada por mudanças no perfil dos moradores e frequentadores. Jovens profissionais, artistas e empreendedores passaram a ocupar os antigos galpões e casarões, dando nova vida ao bairro. Hoje, a Barra Funda é vista como exemplo de revitalização espontânea, com equilíbrio entre memória histórica e inovação. Esse equilíbrio foi um dos pontos destacados pela Time Out na avaliação global.

Antiga residência do escritor Mário de Andrade, que fica na Barra Funda
Antiga residência do escritor Mário de Andrade, que fica na Barra Funda - OS2Warp/Wikimedia Commons

Barra Funda no mapa do turismo urbano

A inclusão da Barra Funda entre os bairros mais descolados do mundo coloca São Paulo em evidência no cenário do turismo urbano. A capital paulista já é reconhecida por sua gastronomia, arte e vida noturna, mas o destaque da Barra Funda reforça a importância de olhar para regiões em transformação.

Para quem visita São Paulo, o bairro oferece uma alternativa ao circuito tradicional da Avenida Paulista e da Vila Madalena –que fez parte da lista da “Time Out” em 2022. A experiência na Barra Funda é marcada pela autenticidade, com espaços que valorizam a produção local e promovem encontros entre diferentes públicos.

Os 39 bairros mais “cool” do mundo

  1. Jimbōchō, Tóquio (Japão)
  2. Borgerhout, Antuérpia (Bélgica)
  3. Barra Funda, São Paulo (Brasil)
  4. Camberwell, Londres (Reino Unido)
  5. Avondale, Chicago (EUA)
  6. Mullae-dong, Seul (Coreia do Sul)
  7. Ménilmontant, Paris (França)
  8. Nakatsu, Osaka (Japão)
  9. Vallila, Helsinque (Finlândia)
  10. Labone, Accra (Gana)
  11. Nguyen Thai Binh, Ho Chi Minh (Vietnã)
  12. Anjos, Lisboa (Portugal)
  13. Digbeth, Birmingham (Reino Unido)
  14. Red Hook, Nova York (EUA)
  15. Perpetuo Socorro, Medellín (Colômbia)
  16. Burwood, Sydney (Austrália)
  17. Linden, Joanesburgo (África do Sul)
  18. Former French Concession, Xangai (China)
  19. Quartieri Spagnoli, Nápoles (Itália)
  20. Bencoolen, Singapura
  21. Endoume, Marselha (França)
  22. Plateau-Mont-Royal, Montreal (Canadá)
  23. The Liberties, Dublin (Irlanda)
  24. North Melbourne, Melbourne (Austrália)
  25. Portales, Cidade do México (México)
  26. Davenport, Toronto (Canadá)
  27. Little River, Miami (EUA)
  28. Kemang, Jakarta (Indonésia)
  29. Botafogo, Rio de Janeiro (Brasil)
  30. Sheung Wan, Hong Kong
  31. Barranco, Lima (Peru)
  32. Mont Kiara, Kuala Lumpur (Malásia)
  33. Clarksville, Austin (EUA)
  34. Margit-negyed, Budapeste (Hungria)
  35. Glen Park, São Francisco (EUA)
  36. MiZa, Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos)
  37. Villa Devoto, Buenos Aires (Argentina)
  38. Mehrauli, Déli (Índia)
  39. Poblacion, Metro Manila (Filipinas)