Bois-bumbás duelam na fronteira entre Brasil e Bolívia
Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado
Em Guajará-Mirim, às margens do rio Guaporé, Rondônia, nos dias 9, 10 e 11 de outubro acontece a rixa brava entre os Bois-Bumbás amazônicos Malhadinho e Flor do Campo.
Parecia coisa de faroeste. Um panfleto colado num poste de Porto Velho nos chamou a atenção: Duelo na Fronteira Brasil-Bolívia. De cara imaginamos que Evo Morales desafiava a nossa presidenta. Nada disso. Era um convite para uma das festas mais fantásticas que tivemos a oportunidade de conhecer desse Brasil ainda, quase, desconhecido.
E lá fomos nós para Guajará-Mirim.
- DIO abre 4 mil vagas em curso gratuito de machine learning
- A maior causa de morte no mundo: saiba como se proteger dessa doença
- Como melhorar a memória naturalmente com exercícios físicos
- O tipo de alimento ligado à morte precoce e transtornos mentais
Mescla de drama, comédia, tragédia e dança, em Guajará a saga dos Bois-Bumbás ganhou ainda mais tempero, bossa, e exuberância ao se unir ao imaginário das lendas indígenas. Agigantou-se! Espelhada na natureza que ali não conhece limites, virou uma “sensual ópera amazônica”. É o Duelo na Fronteira, que desde 1995 coloca a cidade em polvorosa alegria.
Flor do Campo é o boi que tem um trevo de quatro folhas vermelho estampado na testa. Já o Malhadinho é o boi azul, com uma meia lua bordada entre os chifres. O séquito dos bois tem mais de vinte itens: Porta-Estandarte, Rainha do Folclore, Tuxauas, Ritual Indígena, Marujada, que são os bateristas, Pajé, Toada (Letra e Música), o Amo, a Vaqueirada com cavaleiros que saltitam com seus cavalinhos presos por suspensórios, e carregam longas lanças com fitas brilhantes.
A mais bela índia – cunhã poranga – pode surgir, por exemplo, no ventre de imensas aranhas, ou dentro das bocarras de anacondas há 20 metros do chão. Pele cor de canela, olhos puxados, maçãs do rosto salientes, e cabelões lisos fartos e negros. Já os taludos homens dali, acionam os mais de 17 movimentos que têm cada figura articulada dos carros alegóricos. Mas, atenção, não é um desfile, tudo acontece ao mesmo tempo na arena, com os personagens se transmutando diante dos observadores: viram pássaros, cobra, ou onça como fosse um passe de mágica de um gigantesco ilusionista. Abracadabrante!
Todo esse estonteante espetáculo é fichinha se comparado aos volteios do Boi exibindo seu dengo para a Sinhazinha da fazenda. Esta personifica a graça enquanto dança com seu vestido cheio de frufrus e laçarotes, luvas e sombrinha. Mas, quando ela se depara com seu xodó, o boi. Eia!! Difícil definir a arlequinada que esse boi bailador então apronta: com nobreza de porte e faceiroso ele cabrioleja, dá coices no ar, se apruma, sacode os quadris, bailarica, e se rejubila quando Sinhazinha se alegra com seu desempenho. Malandreando ele pisca e faz olho-de-peixe-morto para ganhar um carinho, e se arrepia todo do focinho ao rabo, quando ela lhe tasca um beijo!
Salve esse boi que nos enfeitiça, e nos faz crer que é vivo! O boi faz até lembrar Mahatma Gandhi: “A grandeza de um país e seu progresso podem ser medidos pela maneira como tratam seus animais”. Vixe, que nos diria então o sábio e pacifista hindu se fosse brincar de Boi-Bumbá em Guajará-Mirim?
Dicas – Guajará-Mirim ou “Pérola do Mamoré”, como a definem seus moradores, fica a 370 quilômetros de Porto Velho, por rodovia asfaltada. Em alguns trechos, essa estrada se confunde com a velha Ferrovia Madeira-Mamoré
Onde Ficar – Hotel Pakaas Palafitas Lodge, construído em rústica arquitetura circular de frente para o belo Rio Pacáas, tem piscina, amplos e arejados chalés construídos sobre palafitas, e longas passarelas que ficam na altura das copas das árvores. Ali você pode ver o encontro das águas escuras com as claras dos rios Mamoré e Pakaas Novos. Estrada do Palheta km16. Tel: (69) 3541-3058.
Onde comer – Restaurante Pakaas, oferece gastronomia à base de peixes, como o tambaqui assado e recheado, servido com farofa amarela, e de sobremesa pudim de cupuaçu com chocolate, ou creme de graviola. Estrada do Palheta, km 16. Tel: (69) 3541-3058
Quem leva – José Calixto organiza e leva os viajantes para a festa. Tel: (69) 3221-0030.