Brasileiros recorrem ao ChatGPT para driblar entrevista do visto americano
Ferramenta viraliza no TikTok como treino para entrevistas consulares, mas especialista alerta para riscos
O ChatGPT ganhou status de “faz-tudo” digital entre brasileiros e agora ocupa espaço até na preparação para entrevistas de visto americano. A prática viralizou no TikTok, onde influenciadores mostram como pedem à ferramenta que simule perguntas de oficiais consulares e ensaiam respostas até soarem mais confiantes.
A busca por alternativas para reduzir o risco de recusa cresce diante dos números oficiais. Em 2024, a taxa de indeferimento de vistos para brasileiros chegou a 15%, acima dos 13% registrados no ano anterior, segundo levantamento da CNN Brasil com base em dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Especialistas reconhecem a importância da tecnologia, mas ressaltam seus limites. Para Larissa Salvador, advogada de imigração e CEO da Salvador Law, o recurso ajuda a organizar o raciocínio e praticar o discurso, mas não substitui a análise individual feita pelo consulado. “O oficial busca clareza sobre o propósito da viagem, os laços com o Brasil e a capacidade financeira do requerente”, afirma.
Larissa alerta que respostas excessivamente decoradas podem ser facilmente identificadas. “Autenticidade, coerência entre documentação e narrativa oral, além da segurança ao falar sobre o próprio planejamento de viagem, são fatores que a inteligência artificial não consegue fornecer”, diz.
Para a advogada, o candidato deve ir além da simulação digital e seguir orientações práticas —três delas destacadas por ela como essenciais.
Compreensão e coerência
Antes de qualquer ensaio, o solicitante precisa ter clareza sobre o objetivo da viagem, duração, locais a visitar e como tudo será financiado. Esta narrativa deve estar perfeitamente alinhada com os documentos.
“Oficiais consulares não avaliam só palavras,” lembra “Se é dito que você vai estudar ou trabalhar, você precisa provar. Documentos corretos e organizados reforçam sua credibilidade. Larissa destaca que comprovantes de vínculo com o Brasil (emprego, bens, família, Imposto de Renda) são decisivos.
Naturalidade no discurso
Em vez de usar a IA para decorar falas, use-a para praticar variações e encontrar seu próprio tom. A especialista sugere simular a entrevista em voz alta, de preferência na frente de um espelho ou gravando a si mesmo.
Na entrevista, segundo a especialista, o objetivo é falar sobre a viagem com fluidez e tranquilidade, como se estivesse conversando sobre um plano de férias, e não recitando um roteiro.
Estratégia e contingência
Cada entrevista é diferente, e oficiais podem fazer perguntas fora do roteiro. Por isso, Larissa orienta a simular situações inesperadas, desenvolvendo confiança e flexibilidade na fala. Além disso, reforça que, mesmo com preparo, o risco de recusa ainda existe.
Planejar alternativas é fundamental, o que inclui saber como reforçar a documentação e planejar estrategicamente uma nova aplicação.
Para casos complexos, de múltiplos pedidos ou recusas anteriores, o apoio jurídico especializado é um investimento estratégico, pois o advogado pode ajudar a identificar e corrigir falhas processuais ou documentais.
“Quem entende o processo, organiza os documentos e comunica sua intenção de forma natural tem muito mais chances de aprovação. O ChatGPT funciona como suporte, mas não substitui. Ferramentas digitais são parte do caminho, mas a aprovação vem do foco em planejamento, autenticidade e motivação verdadeira”, conclui a advogada.