Brasileiros recorrem ao ChatGPT para driblar entrevista do visto americano

Ferramenta viraliza no TikTok como treino para entrevistas consulares, mas especialista alerta para riscos

26/11/2025 11:58

O ChatGPT ganhou status de “faz-tudo” digital entre brasileiros e agora ocupa espaço até na preparação para entrevistas de visto americano. A prática viralizou no TikTok, onde influenciadores mostram como pedem à ferramenta que simule perguntas de oficiais consulares e ensaiam respostas até soarem mais confiantes.

A busca por alternativas para reduzir o risco de recusa cresce diante dos números oficiais. Em 2024, a taxa de indeferimento de vistos para brasileiros chegou a 15%, acima dos 13% registrados no ano anterior, segundo levantamento da CNN Brasil com base em dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Brasileiros recorrem ao ChatGPT para driblar entrevista do visto americano
Brasileiros recorrem ao ChatGPT para driblar entrevista do visto americano - Bojan Bokic/iStock

Especialistas reconhecem a importância da tecnologia, mas ressaltam seus limites. Para Larissa Salvador, advogada de imigração e CEO da Salvador Law, o recurso ajuda a organizar o raciocínio e praticar o discurso, mas não substitui a análise individual feita pelo consulado. “O oficial busca clareza sobre o propósito da viagem, os laços com o Brasil e a capacidade financeira do requerente”, afirma.

Larissa alerta que respostas excessivamente decoradas podem ser facilmente identificadas. “Autenticidade, coerência entre documentação e narrativa oral, além da segurança ao falar sobre o próprio planejamento de viagem, são fatores que a inteligência artificial não consegue fornecer”, diz.

Orientações práticas para entrevista do visto americano

Para a advogada, o candidato deve ir além da simulação digital e seguir orientações práticas —três delas destacadas por ela como essenciais.

Compreensão e coerência

Antes de qualquer ensaio, o solicitante precisa ter clareza sobre o objetivo da viagem, duração, locais a visitar e como tudo será financiado. Esta narrativa deve estar perfeitamente alinhada com os documentos.

“Oficiais consulares não avaliam só palavras,” lembra “Se é dito que você vai estudar ou trabalhar, você precisa provar. Documentos corretos e organizados reforçam sua credibilidade. Larissa destaca que comprovantes de vínculo com o Brasil (emprego, bens, família, Imposto de Renda) são decisivos.

Naturalidade no discurso

Em vez de usar a IA para decorar falas, use-a para praticar variações e encontrar seu próprio tom. A especialista sugere simular a entrevista em voz alta, de preferência na frente de um espelho ou gravando a si mesmo.

Na entrevista, segundo a especialista, o objetivo é falar sobre a viagem com fluidez e tranquilidade, como se estivesse conversando sobre um plano de férias, e não recitando um roteiro.

Estratégia e contingência

Cada entrevista é diferente, e oficiais podem fazer perguntas fora do roteiro. Por isso, Larissa orienta a simular situações inesperadas, desenvolvendo confiança e flexibilidade na fala. Além disso, reforça que, mesmo com preparo, o risco de recusa ainda existe.

Planejar alternativas é fundamental, o que inclui saber como reforçar a documentação e planejar estrategicamente uma nova aplicação.

Para casos complexos, de múltiplos pedidos ou recusas anteriores, o apoio jurídico especializado é um investimento estratégico, pois o advogado pode ajudar a identificar e corrigir falhas processuais ou documentais.

“Quem entende o processo, organiza os documentos e comunica sua intenção de forma natural tem muito mais chances de aprovação. O ChatGPT funciona como suporte, mas não substitui. Ferramentas digitais são parte do caminho, mas a aprovação vem do foco em planejamento, autenticidade e motivação verdadeira”, conclui a advogada.