Cachaça da Paraíba: conheça os Caminhos dos Engenhos

Roteiro na Paraíba reúne produtores de cachaça que podem ser visitados

Em parceria com Viagem em Pauta
02/08/2019 17:42

Desde que foi reconhecida como produto exclusivo do Brasil, a cachaça deixou de ser associada à bebida de baixa qualidade e tem sido valorizada, não só por aqui mas também no exterior.

Exportada para quase 80 países e com produção anual de 1,3 bilhão de litros, a cachaça teve quase 8,5 milhões de litros enviados para fora, em 2018, segundo dados da Expocachaça.

Paraíba tem rota para quem aprecia uma boa cachaça
Paraíba tem rota para quem aprecia uma boa cachaça - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

Só no Brasil são cerca de 30 mil produtores e quatro mil marcas de cachaça, em todo o país.

E a Paraíba é um desses paraísos.

A 130 quilômetros de João Pessoa, aproximadamente, o roteiro ‘Caminhos dos Engenhos’ reúne produtores que podem ser visitados, em municípios como Areia, Bananeiras e Alagoa Grande.

É tudo tão diferente do que costumamos ouvir sobre o Nordeste, que tem até uma rota para quem quer aproveitar o clima frio, em plena Serra da Borborema, no interior da Paraíba.

Engenho Triunfo é um dos empreendimentos abertos a visitação
Engenho Triunfo é um dos empreendimentos abertos a visitação - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

De julho a setembro, a rota ‘Caminhos do Frio’ acontece em nove municípios que se revezam em eventos que vão de arte em Pilões à feira de agricultura familiar e oficinas de hortas suspensas, em Serraria e Remígio, respectivamente.

Esse estado nordestino é considerado o maior produtor de cachaça de alambique do Brasil. São 12 milhões de litros por ano, em 80 engenhos, segundo a Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaça de Alambique (ASPECA).

O Engenho Vaca Brava, em Areia, produz por ano cerca de 3,5 milhões de litros, como a cachaça Matuta, armazenada em tonei de inox ou na umburana
O Engenho Vaca Brava, em Areia, produz por ano cerca de 3,5 milhões de litros, como a cachaça Matuta, armazenada em tonei de inox ou na umburana - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

Mas como a gente não veio aqui só para conversar (e muito menos se perder em assuntos técnicos), confira as atrações dos ‘Caminhos dos Engenhos’, cujos termômetros chegam a marcar temperaturas inferiores a 20º, nos meses mais frios.

Cachaça da Paraíba

Notas de mel, aromas frutados e sem queimação.

A fama da cachaça paraibana se deve à baixa acidez da bebida na região, permitindo assim melhor percepção do sabor e do aroma, segundo o professor do Departamento de Tecnologia Sucroalcooleira da UFPB, Pablo Nogueira Teles Moreira.

Engenho Lagoa Verde, em Alagoa Grande, no Brejo paraibano
Engenho Lagoa Verde, em Alagoa Grande, no Brejo paraibano - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

Moreira destaca também a fermentação caipira na Paraíba, técnica que aproveita as leveduras selvagens da cana, sem a necessidade de acrescentar levedura comercial, e a umidade do Brejo paraibano. “As chuvas costumam ser mais regulares, garantindo oferta de água para toda a safra e padronização da bebida”.

A Volúpia ficou conhecida pelo polêmico rótulo que, até os anos 80, tinha a imagem de uma mulher seminua que escandalizaria os padrões morais locais
A Volúpia ficou conhecida pelo polêmico rótulo que, até os anos 80, tinha a imagem de uma mulher seminua que escandalizaria os padrões morais locais - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

Existem duas maneiras de fabricar cachaça. No processo industrial (de “coluna”), são usados tanques de aço inoxidável, “o que garante melhor rendimento por tonelada”, como explica Luciana Fernandes, engenheira de alimentos do Engenho São Paulo.

Localizado em um casarão de 1870, em Areia, o Museu da Rapadura também exposição de maquinário, cômodos residenciais da época e uma coleção com mais de 300 garrafas de cachaças brasileiras
Localizado em um casarão de 1870, em Areia, o Museu da Rapadura também exposição de maquinário, cômodos residenciais da época e uma coleção com mais de 300 garrafas de cachaças brasileiras - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

Para a cachaça artesanal (“de alambique”), a destilação é feita em alambiques de cobre. Nesse processo mais tradicional, são descartadas a “cabeça” e a “cauda” da bebida, as primeiras e últimas etapas da destilação, que contêm impurezas e metais, prejudiciais à saúde.

Embora ainda não tenha estrutura para turistas, o Engenho Vaca Brava, produtor da Matuta, recebe visitantes para conhecer suas instalações, onde fica esse engenho a vapor de 1865, em funcionamento até 2014
Embora ainda não tenha estrutura para turistas, o Engenho Vaca Brava, produtor da Matuta, recebe visitantes para conhecer suas instalações, onde fica esse engenho a vapor de 1865, em funcionamento até 2014 - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

De acordo com dados da Expocachaça, 30% da produção nacional é de cachaça de alambique.

Uma boa ideia

Dizem que o hábito de servir cachaça gelada é coisa de paraibano.

Para celebrar os 25 anos da marca, o engenho Triunfo lançou, recentemente, a Triunfo Ice, uma bebida gaseificada em lata e com sabor limão
Para celebrar os 25 anos da marca, o engenho Triunfo lançou, recentemente, a Triunfo Ice, uma bebida gaseificada em lata e com sabor limão - Eduardo Vessoni/Viagem em Pauta

Mito ou não, o fato é que essa versão mascara a primeira impressão do álcool que vem à boca e destaca o sabor frutado, conforme explica Múcio Fernandes, do Engenho São Paulo.