Cachoeira (BA) é poética, negra, histórica e barata
A região é berço de histórias, de negritude e tem hospedagem, alimentação e passeios baratos
A Bahia vive uma efervescência durante o verão quando milhares de turistas chegam ao estado para curtir as belezas naturais, a cultura rica e o povo acolhedor. Salvador estima receber cerca de 3 milhões de turistas nesses primeiros meses de 2023.
Muitos deles buscam outras cidades para conhecer. A maior parte está à procura de praias paradisíacas e a Bahia está cheia delas. O que poucos guias turísticos vão indicar –e aqueles produzidos por pessoas brancas menos ainda – é o Recôncavo Baiano.
A região é palco de histórias, de negritude e tem hospedagem, alimentação e passeios baratos. Um destaque da região é Cachoeira, que fica às margens do rio Paraguassu e é considerada berço da independência do Brasil, por ter sido palco de resistência contra os portugueses. Em 25 de junho de 1822, as pessoas da cidade se reuniram e declararam a cidade livre de Portugal.
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Cachoeira é toda tombada como patrimônio pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por isso, é chamada de cidade monumento. Andar pelas ruas de paralelepípedo é revisitar uma história presente. Há vários casarões que marcam o período do seu auge da cidade, quando ocupava a posição de entreposto comercial e recebeu uma grande leva de pessoas escravizadas. Uma parte delas foi viver em quilombos onde podiam ser livres. Hoje, muitos dos casarões estão abandonados e contam a história da história, assim como os quilombos que podem ser visitados.
Sentar às margens do Paraguassu para ver a vida passar é poético, faz você repensar a vida corrida dos grandes centros e se conectar consigo mesmo e com um lugar importante para a resistência negra. É bonito observar a mudança da maré e ver o rio encher e mudar de cor conforme a luz do sol vai aumentando ou diminuindo a intensidade. Da cidade vizinha, São Félix, que fica na outra margem do rio, é possível ver a lua nascer em Cachoeira.
Gastronomia
Entre os pratos consumidos na cidade estão a maniçoba (folhas de mandioca triturada, a maniva, carne de porco, embutidos e defumados) e a feijoada baiana (feijão marrom, carne de vaca e linguiça). Há artesãos que fazem arte na madeira que, em geral, são orixás e peças que remetem a uma Bahia profunda. Os famosos licores são vendidos em vários sabores e bons presentes para quem não veio.
A feira e o mercado municipal vendem guloseimas, como biju, e produtos de utilidade. A fábrica de charutos tem um museu que recebe os viajantes com café. Há sorveterias e restaurantes em torno da Praça 25 de Junho. Mas é importante ressaltar que as bordas da cidade guardam preciosidades.
A Ladeira da Cadeia dá acesso a uma comunidade chamada Lagoa Encantada. A estrada é uma ligação entre a centro, a periferia e o verde do rural, com paisagens e vistas lindas. Nesse caminho fica o Terreiro do Ventura, um dos mais conhecidos da região.
Entre os eventos que ocorrem na cidade, destaque para a Festa de Iemanjá, que ocorre no domingo depois do 2 de fevereiro, a Festa da Boa Morte, de 13 a 17 de agosto, e a Feira Literária de Cachoeira, a Flica, que ocorre em novembro.
A cidade tem uma forte presença universitária por conta do campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Já a Irmandade da Boa Morte é um dos grandes ícones locais, por reunir mulheres negras mais velhas e realizar uma festa que ocorre há 202 anos num sistema de organização e fé, que são exemplos para várias outras entidades.
A ancestralidade está por todas as partes, o que faz a viagem se tornar necessária para quem busca conexão, aprendizado e tempo para contemplar o belo. A Afrotours Bahia é uma das empresas que realizam passeios focados na negritude. Já a Experiência Griô faz tours nos grandes eventos da cidade.
E nem só de passado vive a cidade, a Casa Preta Hub é um polo de empreendedorismo, pousada e oficinas diversas, fazendo uma conexão com o afrofuturismo. Na Fundação Hansem Bahia costumam ter exposições e eventos. Enquanto o samba de roda, ocorre nas praças e festividades, permitindo que todos possam abrir seu sorriso mais aberto e se divertir.
Para além do turismo e romantização de quem visita, há sempre as contradições e desafios de um local que viveu diferentes ciclos e que nos dá a oportunidade de ver o mundo em camadas muitos densas. Quem nunca foi precisa saborear essa cidade e quem já esteve, com certeza, pensa em voltar e ficar mais tempo. Bem-vindos à Cachoeira, a cidade heroica nacional.
Como chegar
Cachoeira fica na 110 quilômetros de Salvador. A viagem dura cerca de 1h30 de carro e 2h de ônibus.
De ônibus, a companhia Cidade do Sol faz a ligação entre a capital baiana e a cidade do recôncavo.