Cesky Krumlov, na República Tcheca, a cidade das marionetes
Com belo castelo, cidade medieval é toda encantada e parece habitada por marionetes
O rei e a rainha de Cesky Krumlov seguem pendurados na parede do Joaquim. Já mudamos de casa 2 vezes, ele cresceu 8 anos desde que os ganhou, mas o casal continua no quarto do nosso filho. Não por falta de arrumar e dar brinquedos. Fazemos isso ao longo do ano, para evitar acúmulo de coisas em casa e para cultivar o ato de doar. Mas o casal de marionetes da pequena cidade medieval da República Tcheca, que ostenta um belo castelo, ele nunca quis passar adiante. Gosta de tê-los ali perto. E eu também de vê-los.
Me lembro da lojinha de esquina onde os comprei. Dali trouxe ainda 2 enfeites de árvore de Natal que parecem bordados em madeira; num deles se desenha uma torre medieval. Também saem da caixa a cada dezembro. Quando entrei naquela loja, depois de passar por várias ruas e diversas marionetes, estava decidida a trazer um pedaço daquela cidadezinha linda num souvenir animado, bem típico daquele vilarejo — veja o que fazer em Cesky Krumlov.
As marionetes do Joaquim são muito simples, feitas de pano. Eu queria algo leve e sem muita complexidade, para que as mãozinhas dele usassem sem dificuldade. O mistério ficaria para as histórias criadas para (e por) nosso menino. Aqueles bonecos eram acessíveis ao tamanho do nosso filho e ao meu bolso.
Nada comparado às marionetes tchecas tradicionais. Pelas lojas de Cesky Krumlov, dedicadas apenas a elas ou a brinquedos e souvenir em geral, havia de todos os tamanhos possíveis. Esculpidos em madeira, tinham rostos perfeitamente humanos ou assustadoramente diabólicos (em alguns casos as duas ideias se juntavam).
Marionetes são uma tradição na República Tcheca — em Praga, o National Marionette Theatre apresenta Don Giovanni, ópera de Mozart cuja estreia foi na cidade em 1787. Em Cesky Krumlov, o Marionette Museum destaca esse aspecto da cultura tcheca, com cerca de 200 bonecos desse tipo, antigos e atuais. Cenários, cortinas e um teatro barroco também são parte do acervo.
Pelo tamanho reduzido de Cesky Krumlov e pela profusão de marionetes vista ali, não apenas no museu, mas em muitas lojas, dá para imaginar que a cidade medieval é habitada pelos bonecos. De fato, tudo é encantado em Cesky Krumlov. Enquanto caminhava pelas vielas, eu me sentia sortuda pela chance de poder viver aquilo. Estar em uma cidade medieval preservada, para quem gosta de história — real e de contos de fadas — é mesmo um privilégio. É de ficar meio tonto, hipnotizado, com o arrebatamento provocado por aquele vilarejo. As construções preservadas se erguem por vielas em curva, no centrinho contornado pelo Rio Moldava.
Após caminhar sem rumo certo, algo que adoro fazer, desci a rua em direção à água. Enquanto atravessava a ponte sobre o rio, parei. Olhei para os dois lados para fotografar o cenário, de fato e na memória. Ladeira abaixo, ponte sobre o rio, curva para a esquerda, ladeira acima. Cheguei ao castelo, no passado residência de famílias poderosas. No presente, sua riqueza está no turismo. A construção em si e o conjunto formado com o centro histórico foram declarados Patrimônio Mundial pela Unesco em 1992. A vista e as fotos emolduradas pelos detalhes do muro do castelo são minhas preferidas — já adianto: são bem instagramáveis.
A pequena cidade medieval nasceu, como várias da Europa, em torno de seu castelo, no século 13. Quando desci, passei por aquela lojinha de Cesky Krumlov. Ainda sob o efeito de ter visto lá em cima os ricos detalhes do teatro barroco e o panorama da cidade com o rio correndo abaixo, me encantei com o rei e a rainha. Meu conto de fadas estava pronto para ser contado ao Joaquim.
Por Nathalia Molina