Chegou a hora de dizer: vou viajar sozinha!
Chegou um tempo em que cansei de esperar e decidi que iria sozinha
Quando eu conheci a Worldpackers, eu passava horas e mais horas sonhando com as tantas possibilidades de viagens que estavam bem ali, à disposição, na minha frente. Contei para uma amiga sobre a plataforma e perguntei “vamos?”, “vamos!”, ela respondeu, mas a vida tomou outros rumos e nunca fomos.
Chegou um tempo em que cansei de esperar e decidi que iria sozinha. Nunca tive problemas em estar ou realizar coisas sozinha, mas pela primeira vez me descobri com medo. De repente, me jogar só num lugar desconhecido em uma experiência completamente nova não parecia tão simples quanto ir ao cinema sem companhia. Eu tinha medo por ser mulher e, por ser mulher, ser vista como vulnerável.
Comecei então, um processo de auto-encorajamento, cerquei-me de boas inspirações e recomendações. Nesse meio tempo, estourou uma notícia de duas viajantes assassinadas no Equador. Demorei semanas pra conseguir ler a matéria e, quando o fiz, fiquei chocada com os comentários. “Isso que dá mulher querer viajar sozinha”, dizia um deles. No entanto, o que era pra me amedrontar ainda mais acabou se tornando um empurrão.
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Fiquei tão perplexa com a história, comentários e repercussão que resolvi trazer tudo isso pro meu TCC e me obriguei a me planejar e me tornar uma worldpacker. Depois de algum tempo pesquisando e me planejando, tive o privilégio de encontrar um host maravilhoso que, logo na primeira mensagem, demonstrou total apoio ao meu projeto e foi assim que, depois de alguns dias, dois vôos, um táxi, uma balsa e uma van, eu cheguei numa calma tarde de segunda-feira na Bahia.
Logo que eu cheguei, percebi que aquele era um universo completamente oposto de tudo o que eu vivia no meu dia a dia. “Essa é a ideia”, pensei, então abri minha mente e meu coração e me permiti absorver tudo o que só essa experiência poderia me proporcionar. E eu absorvi tanto nas três semanas em que fiquei na Bahia que pude conhecer um outro lado do meu país, descobri um Nordeste incrível, cheio de cultura, belezas e gente do bem.
Conheci uma Trancoso turística, cheia de charme e paraísos naturais, além de também uma Trancoso local, o único lugar com coco gelado por apenas dois reais! Percebi o quanto estereótipos e pré-conceitos nos fazem perder coisas tão bonitas na vida. Descobri que amo tapioca e que apenas tinha tido experiências ruins até então e que segundas e terceiras chances podem fazer toda a diferença na vida.
Nessas semanas morando no albergue que descobri na Worldpackers, ajudei sem sentir que estava trabalhando e aproveitei dando valor a cada segundo. Descobri-me muito mais independente em alguns aspectos e certa dependência em outros. Percebi, acima de tudo, que não importa o quão longe eu esteja e quão diferente seja minha experiência de vida, ainda assim, serei eu com todos os princípios e valores que carrego no meu dia-a-dia.
Conheci gente de vários lugares do Brasil e do mundo, fui caçoada pelo meu sotaque do sul e dei risada do sotaque dos outros. Experimentei novos sabores e sons, conversei sobre religião e política, Inês Brasil e cinema argentino. Acostumei-me com uma rotina de recepcionar e me despedir de hóspedes e, ainda assim, quando chegou a minha vez de dizer tchau, sofri demais.
Lembro que numa conversa com uma hóspede sobre as diferentes pessoas que passam pela nossa vida, ela me disse que “Cada pessoa é um Universo”. Só hoje percebo o porquê dessa experiência ter sido tão especial para mim. Eu me tornei o resultado de tantos universos que passaram na minha vida nesses dias e, consequentemente, deixei um pouco do me próprio universo por lá.
Pela Worldpacker Talita de França