Geiranger, na Noruega, é lar do mais belo fiorde do mundo
Brasileiros entendem muito de paisagens deslumbrantes e natureza, mas quando falamos de Noruega, mudamos completamente a questão. Por isso, uma vez que se queira conhecer a natureza do gelado país escandinavo, nada melhor do que explorar um pequeno povoado chamado Geiranger.
Situado na Comuna de Stranda e com uma minúscula população de pouco mais de 200 habitantes, o povoado de Geiranger tem o turismo como sua principal receita e, felizmente, pode abusar deste quesito à vontade.
A beleza natural excepcional de Geiranger atrai pessoas de todo mundo, mas a partir de 2005, quando a Unesco incluiu dois fiordes da região, o Geirangerfjord e o Nærøyfjord, além de suas áreas circundantes, em sua Lista de Patrimônios Mundiais, a fama do vilarejo aumentou vertiginosamente.
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Para se ter uma ideia quase 1 milhão de pessoas passam pela aldeia anualmente. Entre os meses de maio e setembro, período de alta temporada, é quando a vila fica mais cheia, mudando completamente a pacata atmosfera do lugar. A maior parte dos visitantes chega de navio, pois, apesar de Geiranger estar a mais de 100 quilômetros da costa, possui o segundo maior porto de cruzeiros da Noruega.
Primeiras impressões do paraíso
Chegar de barco à Geiranger é a maneira mais usual, existem cruzeiros que partem das cidades de Bergen e de Ålesund, mas para quem gosta de paisagens cinematográficas recomenda-se fortemente alugar um carro e dirigir até lá pela rodovia Nibbevegen.
O caminho cortando as montanhas é lindo e dá vontade de ir parando toda hora para fotografar todas as belezas que aparecem a cada curva, mas segure a ansiedade pois há uma parada obrigatória no caminho, o Dalsnibba.
O mirante fica na montanha Dalsnibba, a 1.500 metros acima do nível do mar, e de lá é desnecessário dizer que a paisagem é de cair o queixo. Uma natureza tão perfeita que nos tempos de tanto desmatamento até se parece obra de computação gráfica. Daí se lembra que se trata da Noruega.
Em maio e junho a área do Dalsnibba é coberto de neve e do alto as pessoas veem as montanhas brancas e se deparam com o famoso inverno Norueguês. Já em agosto e setembro, quando os dias são mais longos, o céu estrelado é uma visão maravilhosa daqui. Muitas pessoas visitam o lugar para observar as estrelas com telescópios.
Mais um pouco na estrada e logo o vilarejo se apresenta lá embaixo, diante do enorme fiorde, montanhas e uma bucólica neblina.
A simplicidade do lugar com construções de madeira vermelha e branca emolduradas por grama verde esmeralda convidam o visitante a apreciar a beleza do lugar como a tela de um belo quadro: sem pressa.
O Geirangerfjorden, a grande estrela do lugar, abraça tudo ao redor e compõe o cenário inigualável da região. Não é por acaso que o fiorde aparece na lista dos lugares mais espetaculares do planeta.
A paisagem de Geiranger foi formada na última era do gelo, quando as geleiras derreteram e esculpiram os profundos fiordes, montanhas e vales, resultando na maravilha que é hoje.
Trocando em miúdos: fiordes nada mais são do que imensos vales rochosos preenchidos pela água do mar e que foram esculpidos pelo descongelamento de geleiras com profundidade que podem chegar a várias centenas de metros. Justamente por conta de sua grande profundidade (e por serem braços de mar), é possível a circulação de grandes navios.
Um passeio pelo mais belo fiorde do planeta
Visitar Geiranger e não passear pelo fiorde seria como ir ao Rio de Janeiro e não ver o Cristo Redentor e você não vai cometer um absurdo desses. Algumas companhias, como a Geiranger Fjord Service, oferecem vários passeios, incluindo um bastante completo de 90 minutos de duração em um barco com capacidade para 165 passageiros com áudio guia em várias línguas, inclusive português.
O tour custa 315 coroas norueguesas (cerca de R$ 126) e percorre todos os 16 km do fiorde passando pelos principais pontos turísticos. É impressionante ver de perto os paredões de montanhas e as belíssimas cachoeiras “Sete Irmãs”, Véu da Noiva” e “Pretendente” que descem pelos penhascos de pedra levantando neblina e formando arco-íris.
Conhecer o fiorde neste tipo de barco possibilita tirar uma centena de fotos –e também posar para várias– além de permitir olhar a natureza ao redor tranquilamente a qualquer momento. Mas, se a ideia é sentir umas palpitações aceleradas no peito, existe uma modalidade bem aventureira que é navegar a bordo de uma lancha rápida rígida inflável.
Neste barco, o passeio tem duração de 1 hora e, enquanto crianças pagam 395 coroas norueguesas (R$159), adultos pagam 695 (R$279) – bem mais caro do que no barco maior. No entanto, a lancha leva o turista bem pertinho dos paredões e há um guia que pode responder perguntas e falar mais a respeito de cada ponto turístico (mas em inglês). Portanto há vantagens.
Uma última opção para ver o fiorde a nível do mar é o caiaque, mas para isso é preciso ter resistência física e coordenação motora, pois uma coisa sem a outra não adianta muita coisa. São diferentes tipos de tours, alguns, inclusive, podem incluir caminhadas com roteiro e tempo de duração diferentes. Os preços variam conforme a escolha do cliente.
Qualquer que seja a forma escolhida para passear pelo fiorde, tenha a certeza que será uma experiência inesquecível já que o visual do lugar é um dos mais maravilhosos do planeta.
Chocolates, carros antigos e um pouco de luxo
Pelo vilarejo, locais e turistas se misturam andando sem pressa, distraidamente pelas ruazinhas. Num charmoso café de cerca branca, com uma floreira carregada de flores cor de rosa, as pessoas conversam animadas enquanto na padaria, um delicio aroma de pão fresquinho atrai mais e mais fregueses. Noruegueses possuem uma incrível habilidade de fazer pães deliciosos, portanto vá preparado para se esbaldar.
Logo se chega à pequena fábrica de chocolates, Geiranger Sjokolade, do suíço Bengt Dahlberg. Feitos artesanalmente, os chocolates do local são famosos por combinações nada convencionais como queijo marrom (típico norueguês), gorgonzola, pimenta, uísque e azeite.
Por mais que pareçam estranhos e que você fique ressabiado, experimente todos, pois são surpreendentemente gostosos. Suíços entendem dos paranauês dos chocolates, não tem jeito.
Bengt tem muito orgulho de seu estabelecimento, aberto após o fim de um relacionamento com uma norueguesa. O suíço gostou tanto da região que após o término decidiu ficar por ali mesmo e não voltar para sua terra natal. Achou no chocolate um meio de vida pelo qual acabou se apaixonando.
De acordo com ele, pessoas do mundo inteiro passam por ali e alguns turistas que já o conhecem fazem encomendas por e-mail ou telefone antes de chegar para a temporada de verão.
Na parte de baixo, onde fica a pequena fábrica, é possível ver através de um vidro o chocolate sendo confeccionado em uma pequenina produção artesanal, praticamente caseira, caso não houvessem alguns equipamentos usados para manter a temperatura.
De volta ao vilarejo, uma escadaria de 240 degraus morro acima faz um convite irrecusável a quem chega por ali. O motivo está bem ao lado: uma cachoeira nada discreta, barulhenta e simplesmente maravilhosa diz que vai acompanhar todo trajeto de quem topar subir.
Com a cachoeira correndo ao lado, vamos subindo, vendo a água descendo para o fiorde e o vilarejo ficando cada vez menor lá embaixo. É um visual tão bonito quanto se pode imaginar, por isso tire tantas fotos quanto puder ou com certeza se arrependerá depois, como esta jornalista que escreveu esta matéria.
No alto, numa colina, se chega ao Hotel Union, um dos mais tradicionais de Geiranger, que pertence à mesma família desde 1897 – no momento é administrado pela 4ª geração dos Mjelva.
Aconchegante e com uma decoração clássica que lembra a de um filme antigo, o local já hospedou reis, presidentes, artistas e escritores de best sellers.
Só a vista fantástica dos fiordes e das montanhas valeria passar ao menos uma noite por lá, mas eis que Sindre, um ‘funcionário’ nos guia até o porão do hotel e nos mostra uma surpreendente (e milionária) coleção de carros antigos, mais precisamente de Buicks.
Uma pessoa gentilmente nos espera com drinks e ele explica a história de cada um dos carros. Só então descobrimos que não se tratava de um funcionário, mas de Sindre Mjelva, o dono do hotel e que aquela preciosa coleção começou com seu bisavô.
O Union tem hospedagem, comida e atendimentos excelentes e ainda um spa para fechar com chave de ouro qualquer passagem por esse pedacinho de paraíso da terra que é Geiranger. Há saunas, massagens, duchas de todos os tipos e outras mordomias.
Se não quiser pagar esse luxo, que não costuma ser barato (a massagem mais em conta custa cerca de R$ 180) há uma incrível piscina externa de água quente com vista para as montanhas e para o fiorde que é livre para todos os hóspedes. Imperdível!
PS: No dia seguinte, ao sair do elevador para fazer o check out às 5 da manhã, encontrei Sindre Mjelva, o dono do hotel, sem o terno e o crachá, mas de luvas de borracha, touca e galochas, carregando caixas. “É assim que lidamos com os negócios de família na Noruega, não ficamos apenas sentados dando ordens”, me disse sorrindo. Os brasileiros têm muito o que aprender com os noruegueses, não é mesmo?
Onde ficar
Hotel Union
6216 Geiranger, Norway
Telefone: 70 26 83 00
A jornalista Tuka Pereira do Blog Pra Onde Vai Agora? viajou a Noruega a convite do Innovation Norway, do Conselho Norueguês da Pesca e do Consulado Geral da Noruega