Conheça os Alebrijes de Oaxaca, os ‘Pokémons mexicanos’

Depois de virar febre em mais de 35 países, o Pokémon Go deve desembarcar no Brasil esta semana. De acordo com o site MMPO Server Status, o game de realidade aumentada estará disponível para os brasileiros neste domingo, dia 31.

O jogo da Nintendo que anda causando alvoroço por onde passa traz para as cidades os Pokémons, animais fantásticos que habitam o desenho japonês homônimo. Você sabia que eles existem de verdade e moram no México? Como assim?

A gente explica!

Em Oaxaca (pronuncia-se “Oarraca”), na costa sul do Pacífico mexicano, você pode encontrar os alebrijes, que são esculturas feitas em madeira que mesclam animais reais com imaginários, bem próximos aos Pokémons japoneses.

As esculturas são montáveis e disponíveis de diversos tamanhos, desde muito pequenas até gigantescas. As maiores, com muitas peças, são verdadeiras obras de arte e residem em residências descoladas, assim como alguns museus ao redor do mundo.

Diz a lenda que só seres de outro mundo seriam capazes de espantar os mais terríveis pesadelos. Por isso, criaturas míticas e às vezes assombrosas, que ganharam o nome de Alebrijes de Oaxaca, tomam forma nas mãos dos artesãos oaxaquenhos para cumprirem seu papel de protetores de sonhos, além de trazerem sorte.

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Os Alebrijes receberam esse nome em 1936 por causa de Pedro Linares López. O artista que vivia na Cidade do México sofreu de uma doença que o deixou à beira da morte. Muito doente, teve fortes alucinações que o fizeram imaginar estar em um bosque onde viu seres surreais e esses o acompanhando no caminho de volta à consciência. No percurso escutava as criaturas gritando “Alebrijes!” “Alebrijes!”. O nome em si não tem significado nenhum, mas devido ao sonho suas obras em papel cartão representando esses seres de outro mundo ganharam a exótica nomenclatura.

Mas a história do artesanato em madeira desses animais é de longa data. Eles começaram a ser esculpidos pelos Zapotecas mais ou menos 200 anos d. C na pitoresca cidade de Oaxaca.  Acreditavam que a peça atraía sorte, além de usarem para fins religiosos e armadilhas de caça. As crianças também recebiam como presentes para brincarem, tradição que continua até hoje.

As figuras em madeira não tinham um nome específico e, por isso, com o tempo se adotou o nome “Alebrijes de Oaxaca” tendo como referência o caso e as obras de Pedro Linares. Estima-se que atualmente haja mais de 150 famílias que vivam do ofício na região, principalmente nos povoados de San Martin Tilcajete, San Antonio Arrazola e La Unión Tejalapam.

Técnica

Conhecimento passado de geração em geração, é preciso muito talento e habilidade para fazer uma peça. Começa-se esculpindo a madeira, depois há o preparo para a pintura e então inicia-se a coloração com criatividade e cuidado. Todo o processo pode levar de um dia, a meses e até um ano para ficar pronto, tudo dependendo do porte da peça.

A madeira utilizada é o copal, árvore sagrada dos Zapotecas. Uma vez esculpida a figura, é mergulhada em gasolina para afastar os cupins. Depois de seco, alguns artesãos ainda aplicam uma tintura natural: a casca do copal é deixada no sol para depois poder virar um pó e a isso se agrega ingredientes como suco de limão para alcançar uma tonalidade amarela, bicarbonato para vermelho, mel para brilho e assim por diante. 

Evolução

O Convento de Cuilápam, em Cuilápam de Guerrero, em Oaxaca[/img]

Antes de 1980, a maioria das esculturas eram feitas com base no mundo real (como animais de granja, comuns ao estilo de vida da população) e espiritual. As peças eram moldadas e pintadas de maneira bastante simples.  Mais tarde, já conhecidos por Alebrijes, os artesãos Manuel Jiménez de Arrazola, Isadoro Cruz de San Diego e Martín Tilcajete fizeram fama ao esculpir peças cada vez mais criativas e bem elaboradas, incluindo nesse universo animais exóticos para a região, como leões e elefantes. Assim, conquistaram reputação para venderem suas peças, que logo se tornaram sucesso e símbolo da região.

A procura pelas obras por outras partes do México aumentou e outros países também se interessaram solicitando peças cada vez mais excêntricas, impulsionando o comércio. Outro fato que também incentivou a criatividade dos artesãos foram concursos promovidos pelo Estado de Oaxaca na década de 1970, que davam prêmios e visibilidade à arte.