Conheça os fatores que tornam as passagens aéreas baratas
Encontrar passagens aéreas baratas durante temporadas de férias no Brasil, como as de julho e de dezembro, é resultado de uma complexa rede de mecanismos econômicos utilizados pelas companhias para estabelecer os preços de cada assento de um avião. São fatores concorrenciais, econométricos, financeiros e mercadológicos que interferem nos poucos minutos em que ocorre a compra de um bilhete.
As empresas aéreas são, como qualquer outra, ofertantes de um tipo de serviço à sociedade: viagens. Um dos conceitos principais dos manuais microeconômicos é que quanto maior for o preço de um bem ou serviço, mais as empresas vão colocá-lo no mercado. A demanda dos compradores, no entanto, tende a diminuir com essa movimentação, porque valores altos fazem com que as pessoas deixem de adquiri-los.
Na lógica do mercado, enfim, há um equilíbrio quando, a partir da queda da demanda, os preços também são impactados e caem até atingirem uma estabilidade onde os que vendem e os que compram se sintam satisfeitos. Um mercado equilibrado é aquele em que empresas e consumidores chegam a um acordo informal sobre o valor de algo. No caso das companhias aéreas, essa satisfação necessita de muitos fatores.
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Dentro da estrutura de oferta e demanda, as companhias aéreas começaram uma estratégia de ajuste dos preços nos anos 1980 chamada yield management, que consiste basicamente em uma série de cálculos para estabelecer preços mais altos em dias ou destinos mais procurados e, em dias ou destinos menos movimentados, colocar valores mais baixos nas viagens.
A estratégia, iniciada nos Estados Unidos, também usa o histórico de cada voo para compreender como cobrar o bilhete de cada passageiro: se as viagens para o Rio de Janeiro sempre lotarem uma aeronave, independentemente do dia, os preços tendem a ser os mesmos, porque a demanda permanece inalterada mesmo com as variações.
No Brasil, os preços de passagens aéreas foram afetados por duas decisões políticas tomadas no início e no final dos anos 1990. Até o começo da década, os valores eram fixados por órgãos estatais, preocupados com a liberdade demasiada do mercado, que poderia criar monopólios e preços altos. Em 1992, no entanto, uma portaria do antigo DAC (Departamento de Aviação Civil) estabeleceu uma “liberação monitorada das tarifas aéreas domésticas” que, em 2001, foi revista e liberada totalmente.
A partir disso, as empresas passaram a calcular suas viagens com base no modelo yield, que inclui os custos de cada trecho: combustível médio utilizado, taxa de câmbio, velocidade média dos aviões, distâncias e proporções de voos sem paradas e as taxas para os dias, destinos e históricos.
Para o economista Alessandro Marques de Oliveira, que também é professor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos (SP), e que estudou o modelo de precificação das empresas aéreas brasileiras para voos nacionais, apesar dos complexos mecanismos de mercado, são questões macroeconômicas que alteram significativamente os valores das viagens. “Os preços nos mercados aéreos são, em geral, mais vulneráveis a variáveis macroeconômicas, como a taxa de câmbio, do que a mudanças na composição da estrutura de mercado, como o número de concorrentes”, explica.
Entre essas variáveis macro, estão o preço do petróleo, matéria-base para o combustível das aeronaves, a taxa de câmbio, já que os preços das passagens são ajustados perante a diferença entre a moeda nacional e o dólar dos Estados Unidos, e a inflação.
Portanto, para responder ao título: encontrar passagens aéreas baratas envolve, entre outras coisas, o preço do petróleo –que hoje é revendido pela Petrobras aos distribuidores a partir do preço do barril, que já custou mais de US$ 130 em 2008 e hoje está cotado a US$ 43–, a taxa de câmbio do real em relação ao dólar, hoje em R$ 3,31, e a inflação, que em maio foi registrada em 0,31%, um dos valores mais baixos dos últimos meses.
Nessa configuração, apesar da pequena alta de preços e da queda significativa do preço do barril de petróleo em relação aos anos anteriores e de uma lenta recuperação em 2017, o preço do dólar impede que as passagens sejam vendidas ainda mais baratas. De qualquer forma, alguns destinos para a Europa têm bilhetes com preços semelhantes aos de 2016 e, em casos como Buenos Aires, a passagem chega a ser 33% mais barata.
Em alguns raros momentos, o mercado de viagens aéreas sofre impactos específicos suficientes para alterar os mecanismos de preços. Em seu trabalho “Estudo dos Determinantes dos preços das companhias aéreas“, de 2009, Alessandro Marques mostra que a entrada de companhias aéreas, como a Gol, em 2001, e a Azul, em 2008, no mercado brasileiro alterou os preços oferecidos aos consumidores.
Como eram empresas com bilhetes mais baratos (o modelo low cost), todas as outras tiveram que diminuir seus preços para continuarem competitivas. A estratégia fez com que a Gol se tornasse uma das principais companhias do país poucos anos depois da primeira viagem.