Coreia do Norte inaugura mega resort de luxo; veja fotos
País abre complexo turístico em Wonsan com hotéis, parque aquático e área de lazer; destino será voltado a norte-coreanos e, em breve, a turistas russos
A Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, acaba de inaugurar um amplo complexo turístico à beira-mar na cidade de Wonsan, na costa leste do país. O projeto, batizado de Wonsan‑Kalma Coastal Tourist Zone, foi oficialmente aberto em 24 de junho com a presença do líder Kim Jong-un, que participou da cerimônia ao lado da filha Kim Ju-ae e da primeira-dama Ri Sol-ju.
O empreendimento conta com resort, parque aquático, hotéis, centros comerciais, cinemas, bares e infraestrutura voltada ao lazer. Com capacidade estimada para receber até 20 mil visitantes por ano, a construção do complexo vinha sendo desenvolvida desde 2014 e integra uma série de iniciativas do governo norte-coreano para promover o turismo interno e, pontualmente, o internacional.

Segundo a agência estatal KCNA, a inauguração do Wonsan‑Kalma representa um “avanço na construção da cultura turística nacional” e busca posicionar o país como um destino com infraestrutura moderna, apesar das conhecidas restrições à entrada de estrangeiros e da rígida condução estatal sobre a atividade turística.
Resort foi anunciado há quase uma década
O projeto de construção do resort foi revelado em 2014, mas as obras começaram de fato em 2018, com a expectativa de finalização no ano seguinte. No entanto, o cronograma sofreu sucessivos atrasos relacionados a limitações logísticas e sanitárias, especialmente durante os anos de pandemia. Apenas agora, sete anos depois, o complexo foi concluído e aberto à população.

A infraestrutura do Wonsan‑Kalma impressiona pelo porte: são 4 km de litoral com 54 hotéis, parque aquático, campos de minigolfe, centros de conveniência, áreas para prática de esportes, píer marítimo e até pubs —item raro no país.
O parque aquático do resort segue o modelo do Munsu Water Park, de Pyongyang, inaugurado em 2013, com escorregadores, piscinas abertas e cobertas, áreas para relaxamento e academias aquáticas.
Primeiramente para norte-coreanos, em breve para russos
Inicialmente, o resort será exclusivo para o público norte-coreano. Grupos organizados, incluindo funcionários do governo, militares e trabalhadores condecorados, terão acesso à estrutura a partir de 1º de julho. Segundo a KCNA, essa estratégia pretende reforçar o uso interno do espaço como forma de lazer estatal.

O governo norte-coreano, porém, também planeja abrir o Wonsan‑Kalma a turistas russos a partir de 7 de julho. Pacotes turísticos estão sendo preparados por agências russas como a Vostok Intur, que anunciou roteiros de oito dias com passagens por Pyongyang, visita ao resort de praia e ao Masikryong Ski Resort, outra instalação turística da Coreia do Norte, inaugurada em 2013.
A entrada de turistas estrangeiros ainda é controlada com rigidez pelo regime, mas há uma flexibilização pontual para parceiros estratégicos. A Rússia tem fortalecido relações diplomáticas com o país asiático e já lidera iniciativas de turismo colaborativo em áreas como transporte e logística.
Região foi base militar e agora vira destino de férias
Wonsan tem uma longa história como cidade portuária estratégica. Durante anos, funcionou como base naval e área de testes de mísseis. Com a construção do aeroporto de Kalma — de uso civil e militar — e a reconfiguração da orla marítima, o governo buscou transformar a imagem da região.

O resort é a peça central de um plano maior, que inclui a criação de uma zona de turismo costeiro com infraestrutura para receber estrangeiros e, futuramente, promover investimentos externos. A ambição de Kim Jong-un é fazer da Coreia do Norte não apenas um destino turístico pontual, mas uma vitrine de modernização e desenvolvimento urbano.
Dificuldades e limitações ao turismo internacional
Embora a abertura do Wonsan‑Kalma represente um marco para o turismo norte-coreano, analistas internacionais destacam que ainda há entraves significativos para transformar o país em um destino global. A falta de liberdade de circulação, a obrigatoriedade de acompanhamento por guias e o isolamento digital são alguns dos fatores que limitam o interesse de visitantes estrangeiros.

Além disso, especialistas em turismo internacional observam que o modelo atual se assemelha ao de uma “experiência controlada”, com pouca interação com a vida cotidiana do país e uma agenda de visitas rigidamente definida. Ainda assim, operadores que atuam na Ásia destacam o interesse crescente de turistas russos e chineses por experiências “exóticas” e controladas — nicho no qual a Coreia do Norte pode se posicionar.
Futuro incerto, mas ambição clara
A inauguração do Wonsan‑Kalma é o maior investimento turístico já realizado pela Coreia do Norte. Embora ainda distante de competir com destinos tradicionais no sudeste asiático, o projeto revela uma tentativa clara do regime de modernizar a imagem do país e de construir uma narrativa de normalidade diante do público interno e externo.
Resta saber se o apelo da estrutura –que impressiona pela dimensão e pela proposta– será suficiente para atrair turistas em número significativo, mesmo com as barreiras ideológicas e logísticas que ainda marcam o turismo no país.