Cultura, gastronomia e aventuras: conheça Tokachi, no Japão
Destino em Hokkaido tem turismo sustentável, que preserva a cultura, os povos originários e valoriza a agricultura local
Ilha de vulcões e natureza riquíssima, Hokkaido, no Japão, também revela dois outros tesouros: comida fantástica e o contato com os primeiros indígenas japoneses, os milenares ainus.
Quem pensam em viajar para o Japão para provar as comidas mais frescas, no melhor estilo farm to table (da fazenda direto para o prato), não pode perder Obihiro, em Hokkaido.
Isso sem falar em templos e cultura. Guarde este roteiro!
- Arraial d’Ajuda: As 3 aventuras que estão bombando no destino
- São Roque (SP) tem tour enogastronômico e passeios históricos
- Veio para São Paulo no feriadão? Então conheça 10 museus na cidade que dá para visitar usando apenas o metrô
- 4 países que você nunca ouviu falar, mas deveria visitar um dia
De Sapporo a Obihiro
Obiriho fica na região de Tokachi, que está na ilha de Hokkaido. Essa é uma ilha de vulcões e natureza extrema, diferente de onde está Tokyo.
A porta de entrada de Hokkaido será Sapporo, cidade que merece pelo menos 4 dias do seu roteiro. É lá que está o Ramen Alley, o beco do ramen, onde a iguaria nasceu e é a melhor do mundo.
Em Sapporo, conheci um dos hotéis mais interessantes do Japão, onde o visitante mergulha na arte e cultura japonesa.
Portom Internacional Hokkaido fica de frente para a pista de pouso e decolagem do aeroporto internacional em Sapporo, tem um onsen , coleções de arte e até uma tradicional cerimônia do chá.
A partir de Sapporo, peguei 3 horas de trem para chegar à cidade de Obhiro, a maior da região de Tokachi. É nesta área rural, pouco conhecida por brasileiros, que estão alguns tesouros japoneses.
Sustentabilidade é a palavra para descrever a região, que apoia pequenos produtores, reduz uso de plástico, incentivam a valorização dos indígenas e coloca o turista em contato com a comunidade local.
A viagem a Obhiro fez parte do evento ATWS 2023, da Adventure Travel Association, organização americana de aventuras e turismo sustentável pelo mundo. A ATWS aconteceu em Sapporo.
Quem são os ainus?
Povo originário da ilha de Hokkaido, no Japão, os ainus são os primeiros indígenas japoneses, ainda vivem na ilha e celebram sua cultura.
Em vários pontos de Hokkaido pude ter contato com a história milenar desse povo, mas foi em Tokachi que consegui conversar com alguns deles e até participar de uma dança indígena.
A história desse povo milenar é recente para o Japão. Até 150 anos atrás, a ilha não era anexada ao país. Ainus viviam da caça e pesca, em vilas formadas por cabanas.
Abaixo está uma família Ainu que conheci em Tokachi. Você pode ver mais fotos neste link.
Desde 2019, o Japão passou a promover a cultura desse povo originário, e na região de Tokachi, famílias de ainus chegam a fazer encontros com turistas, para contar sobre a vida em contato direto com a natureza.
Roteiro em Tokachi
Chegamos logo cedo ao Hokkaido Hotel, em Obhiro. O hotel tradicional na cidade tem um jardim maravilhoso e um onsen, o tradicional banho japonês de águas vulcânicas.
No café da manhã, o hotel tem opção ocidental, com croissant e mais delícias, mas quem quer apostar em um café tradicional também pode, com peixes, arroz e mais comida oriental.
Se optar por um café em Obhiro, vá ao centenário Sakai Coffee, para começar o dia com panquecas de arroz, levinhas, e um macha gelado com chantily, o poderoso chá verde japonês.
Depois do café é hora de aprofundarmos na cultura. Faça uma caminhada pelo Green Park, onde está o Obhiro Centennial City Museum.
O museu conta a história da região intimamente ligada aos ainus. É possível ver roupas originais, armas, canoas usadas pelos indígenas japoneses, bem como utensílios utilizados no dia a dia.
O inverno rigoroso em Tokachi chega a -30ºC, o que hoje com aquecimento está tudo bem. Mas imaginem há mais de 100 anos, como os ainus sobreviviam?
O museu releva tubos de bambu que eram preenchidos com água quente e os aquecia nas cabanas. Veja mais fotos neste link.
Também volta ao tempo e conta sobre os primeiros habitantes, antes mesmo dos ainus, animais pré-históricos, como mamutes e outros já extintos.
É possível ver um fóssil de 22 mil anos, um dente de mamute encontrado na região.
Casarão centenário e ainus
É possível agendar um contato com os indígenas no prédio centenário Former Futaba Kindergarten.
A construção centenária foi usada como jardim de infância no século passado e hoje é um edifício histórico a ser visitado.
O casarão faz parte da história de Obhiro e abriga itens curiosos, como bonecas doadas às crianças durante a segunda guerra mundial pelos Estados Unidos. Veja aqui a boneca com seu passaporte.
No meio da crise entre o Japão e o país, as bonecas foram cassadas para serem destruídas, mas sumiram. Tempos depois, as descobriram enterradas no local.
As bonecas têm até um passaporte com todas as características, como se fossem crianças.
Neste edifício histórico também tive meu contato com os ainus, que fizeram uma apresentação de danças típicas, além de instrumentos musicais e de caça próprios e ímpares.
Pude participar de uma das danças. Ainus também apresentaram seus instrumentos musicais ancestrais, que inclui uma flauta que parece conversar com pássaros.
Cerveja de feijões e delícias gastronômicas
Obhiro é uma cidade deliciosa para andar, com centro pequeno, cheio de quitutes para provar.
Como é uma das principais regiões agrícolas do país, produz mais de 150 tipos de feijões, e com um deles é feita uma cerveja de feijão.
Além da cerveja exótica, no centro da cidade não deixe de visitar a lojinha de doces Rokkatei, especializada em biscoitos com a massa mais leve que já provei, recheados com morangos e mais frutas, com chocolates e cremes.
No almoço, escolha na cidade entre vários restaurantes típicos, incluindo um só de tempurás, um clássico japonês.
Para jantar, aposte no Hotel Nupka Cafe & Bar. Lá, dentro do menu vegetariano, provei uma pasta ao pesto de rabanete, caldinho de feijão verde, além de queijos famosos na região.
Tudo preparado pela chef Kotomi Sakaguchi, uma japonesa talentosa e apaixonada pelo Brasil. Ela, que tem amigos brasileiros, até canta bossa-nova.
Outra curiosidade são as uvas e o vinho produzido por lá, diferente de todos que já provei. Com o inverno muito rigoroso, poucas uvas suportam o clime, e a especialidade que se deu bem com o clima são as variedades yamasachi e kiyomai.
No rótulo do vinho, o urso-marrom, símbolo de Hokkaido e da região.
Na noitada, é possível se divertir em karaokês típicos, no centro, além de passar no bar The Glass, para drinks mais elaborados. O barmen premiado promete bebidas assinadas.
Templos – roteiros e loteria sagrada
Duas aventuras de bike levam a templos únicos em Tokachi. A primeira delas é pela estrada agrícola, onde passamos por meio de fazendas e plantações que abastecem o Japão todo.
Na saída para este roteiro, passamos pelo museu Kanda Nissho Memorial, um museu lindíssimo com 135 pinturas e esboços de Nissho Kanda (1937–1970), conhecido como um artista agricultor que morreu jovem.
Uma campanha lançada por voluntários locais para conceder uma homenagem póstuma a este pintor de estilo ocidental que viveu em Shikaoi. Aproveite também as esculturas no jardim do museu.
No meio da rota agrícola, visitamos um pequeno templo xintoísta muito autêntico.
Ao passar pelos toris, os portões do templo, descobri que, por sorte, naquele dia rolava um festival local com a dança do leão, que pode ser entendida neste vídeo.
Ao chegar a qualquer tempo xintoísta, o turista deve seguir regras e saber como fazer o ritual correto. Aprenda aqui.
Depois de uma hora de pedalada, pare para um piquenic no melhor padeiro de Obhiro, uma família especialista em pães de fermentação natural com delícias quentinhas. Como encontrar? No roteiro da melhor guia da região, Noa.
O segundo roteiro de bike por Obhiro acontece no meio da cidade. Passa por parques, pontes e chega a outro templo imperdível, maior e com um jardim fantástico.
Em cada templo há uma forma de tirar a sorte, chamado Omikuji, a loteria sagrada. E neste templo, o turista literalmente pesca sua sorte.
Peixes são símbolos de boa fortuna no Japão, e aqui, você usa uma varinha para pescar o peixe de brinquedo com seu destino. O peixinho vira um suvenir, já a sorte dentro depende do que está escrito.
Se o que estiver escrito for um bom presságio, você guarda. Caso seja uma má sorte, deixe amarrado nos murais dos templos que são destinados a isso. E a má sorte não te acompanhará.
O momento é excelente para viajar ao Japão, país que dispensou visto para brasileiros que vão a turismo. Veja as regras.
Para viagens incríveis como esta, pelo Japão, siga @ladobviagem no Instagram.