Deu ruim! O que fazer quando alguma coisa na viagem dá errado
Por The Veigas*
Um dia um parente muito querido nos perguntou, com certo espanto: “como vocês conseguem viajar sem nada dar errado?”. Mais espantados ainda, respondemos que, sim, já tínhamos passado por um milhão de apuros, mas que o que sobravam eram as memórias legais.
As estatísticas são implacáveis: quanto mais viajamos, maiores as chances de alguma coisa dar errado. Alguns relatos são impublicáveis. Mas vamos compartilhar aqui uns infortúnios que já enfrentamos pelo mundo.
1 – O livro do tráfico
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Onde: Aeroporto de Guarulhos, Brasil
Caso: Em uma viagem aos Estados Unidos, ganhamos um livro grande e pesado: capa dura, 1.074 páginas. Colocamos na mala, juntamente com todas as outras muambas. Passando pela alfândega brasileira, fomos parados. Estávamos tranquilos, já que tudo estava dentro da cota, e esperamos as malas saírem do raio X. Eis que a fiscal ordena: “Abra a mala pequena, por favor. O que vocês estão carregando?”. Ela examinou por cima e foi com tudo no nosso livro. Pegou na mão, folheou bem e devolveu na mala. E acrescentou, em tom de desculpas: “É que o livro apareceu como uma massa orgânica”. Em outras palavras, para o raio X, estávamos carregando um potencial tijolão de droga. Mas era só literatura.
Solução: Chegar em casa e ler o livro, que agora tem história por dentro e por fora.
Para não errar: Deixe tudo à mostra e, se necessário, leve consigo notas fiscais ou o que for preciso para comprovar a origem lícita de um bem. Não foi a única vez que nossa bagagem foi inspecionada com desconfiança. Temos por hobby fazer queijos artesanais e em uma outra viagem aos Estados Unidos compramos uma barra de 1 kg de cera de abelha (para fazer a “casquinha” do queijo, sabe?). Na hora de arrumar as malas, aquela barra densa pareceu uma nova candidata a suspeição. Para demonstrar desde cedo nossa boa-fé, colocamos a cera em um zíper externo da mala, sem cadeado nem nada. Quem quisesse, que abrisse para ver que não era nada proibido. Não deu outra: o conteúdo foi fiscalizado antes mesmo de termos saído do país.
2 – O caso do cartão de crédito desaparecido
Onde: Confins da Namíbia
Caso: Em nossa viagem de carro pela África do Sul e Namíbia, passamos por um simpático vilarejo chamado Solitaire (o nome não é por acaso: trata-se realmente de um ponto solitário no meio do deserto). Reabastecemos o carro, compramos comidinhas e souvenirs e pagamos com o nosso cartão de crédito. Muitas horas depois, na parada seguinte, percebemos que o cartão havia sido esquecido no balcão da loja de conveniência. A preocupação bateu: será que ele está sendo usado? Como vamos cancelá-lo no meio do nada?
Solução: Conseguimos falar com nossa gerente do banco pela internet e começamos os procedimentos de bloqueio. O pedido, que deveria ser feito de próprio punho, foi escrito num bloquinho de anotações do quarto do hotel. O banco nos confirmou que nenhuma compra havia sido feita, mas só sossegamos quando a fatura chegou.
Para não errar: E essa não foi a única vez que tivemos problemas com cartões. Já esquecemos um no caixa eletrônico do aeroporto de Havana e tivemos saques cobrados a mais em bancos nos Estados Unidos. Em algumas ocasiões conseguimos contar com o atendimento remoto do banco mas, em outros casos, a solução não foi tão eficiente ou ágil como precisávamos. Nesse caso, sugerimos que registre sua reclamação no Bacen, órgão responsável por fiscalizar a atuação dos bancos.
3 – Greve de trem e a incerta volta para casa
Onde: Paris, França
Caso: Como moramos atualmente em Milão, resolvemos pegar um trem noturno e ir passear em Paris. Na véspera da volta, recebemos um e-mail da operadora de trem dizendo que os serviços ferroviários da França estavam em greve e que deveríamos optar entre seguir de ônibus ou receber o dinheiro de volta. Como não informavam sobre o horário e tipo de ônibus (seriam 14 horas de estrada), optamos pelo reembolso. Mas como garantir a volta para casa em menos de 24 horas e sem pagar um rim por isso?
Solução: Encontramos uma passagem aérea praticamente do mesmo preço do bilhete de trem e conseguimos voltar para casa, com a vantagem de poder dormir quentinho na cama em vez de em uma poltrona de ônibus.
Para não errar: Imprevistos como greves acontecem sempre. Você pode escolher entre pensar rápido ou xingar, passar raiva e estragar a viagem. O importante é que, por mais que viajemos com o dinheiro contado, tenhamos uma folga para contornar esses problemas.
4 – Golpe do taxista
Onde: Buenos Aires, Argentina
Caso: Somos brasileiros e de cidade grande. Somos imunes a qualquer outra pessoa que tente nos passar a perna. Certo? Errado! Em um momento de distração, recebemos uma nota falsa como troco. Era de noite, o carro estava escuro, tínhamos pressa e ficamos no prejuízo.
Solução: Sentar e chorar. Não tem muito o que fazer. Como já dissemos, imprevistos acontecem. Se o prejuízo for grande, procure a polícia ou a embaixada brasileira, mas a solução não é garantida.
Para não errar: Nas férias queremos relaxar, mas alguns momentos pedem que não baixemos a guarda. Na internet há vários sites que falam sobre os golpes contra turistas, alguns classificando até por países, mas achamos que neura tem limite. Se atualize dos golpes mais manjados, conheça o dinheiro local e não dê trela a abordagens de estranhos.
5 – Febre que não passa
Onde: Bergen, Noruega
Caso: Chico, então com menos de dois anos, foi pego de surpresa por uma febre altíssima que não passava. Baixava enquanto durava o efeito do antitérmico, mas logo voltava. E assim foi por mais de 24 horas.
Solução: Sempre carregamos uma malinha básica com os remédios emergenciais, mas daquela vez eles não estavam dando conta da situação. A pediatra do Chico, então, nos aconselhou a entrar em contato com o seguro-saúde. Agendamos uma visita ao nosso hotel para o dia seguinte. Estamos esperando o médico até hoje. Por sorte, a febre passou de vez pela manhã.
Para não errar: Mesmo que seu país de destino não exija, contrate sempre um seguro-viagem, de preferência com boas referências. Se estiver com crianças, converse antes com o pediatra sobre condutas de emergência. Muitos países só vendem remédios com receita, então já leve os básicos de casa (juntamente com a respectiva prescrição para evitar questionamentos de autoridades). E tenha as vacinas sempre em dia, é claro.
Como muita coisa dá errado, esta lista é só o começo. A parte 2 vem semana que vem!
*The Veigas são a designer Mariana, o jornalista e escritor Edison e o pequeno Chico – que tem 4 anos e já participou de aventuras em 18 países diferentes. Atualmente, eles moram em Milão. Suas histórias estão em Facebook e Instagram.