Diversidade é marca registrada do Carnaval brasileiro

Comparamos costumes e dados de destinos populares e alternativos da folia

14/02/2023 17:39

Em um país tão grande como o Brasil, cabem muitos Carnavais. Dos tradicionais desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo aos trios elétricos de Salvador, passando pelos blocos de rua de Belo Horizonte.

A plataforma Hurb fez um lavamento das peculiaridades das principais festas do país, contando um pouco mais sobre seus atrativos, além de traçar um panorama sobre as expectativas para o evento nesse pós-pandemia.

Para isso, a agência de viagem online considerou desde Carnavais alternativos a alguns dos destinos mais tradicionais, assim como dados de vendas da OTA.

Rio de Janeiro segue no topo

Com seu primeiro baile de Carnaval registrado em 1840, a tradição ainda hoje é um dos maiores atrativos turísticos do Rio de Janeiro. A cada ano, a festa começa a ser celebrada mais cedo. O primeiro bloco de 2023, por exemplo, desfilou no começo de janeiro.

A expectativa da Riotur (órgão de turismo da capital fluminense) é de que cerca de 5 milhões de pessoas visitem a Cidade Maravilhosa no período.

Bloco da Anitta no pós-Carnaval do Rio de Janeiro
Bloco da Anitta no pós-Carnaval do Rio de Janeiro - Fernando Maia / Riotur

No último Carnaval regular, em 2020, foram mais de 2.1 milhões de turistas, que ajudaram a movimentar R$ 4 bilhões, segundo a Riotur. Entre os internacionais, argentinos, americanos e ingleses foram as nacionalidades desembarcaram na Cidade Maravilhosa.

O órgão observou também que a permanência média foi de 12 dias na cidade, excedendo o calendário oficial da festa na Sapucaí, que dura em torno de seis dias apenas. Entre os turistas brasileiros, os paulistas foram mais de 30%, seguidos pelos gaúchos e mineiros.

Vale ressaltar que, nos dois grupos, mais de 40% afirmou estar hospedado em um dos hotéis da cidade, que registraram ocupação de 73% durante o mês de fevereiro. Para este ano, no início de fevereiro, cerca de 80% dos quartos disponíveis na cidade estavam reservados para o período de 18 a 21 de fevereiro. Ipanema e Leblon são os bairros preferidos.

Hospedagem no Carnaval

Entre os destinos com maior número de reservas de hotel confirmadas, o Rio de Janeiro segue imbatível na primeira posição. Mas é interessante observar que, em segundo lugar, Porto Seguro já superou Salvador (10º).

Belo Horizonte e São Paulo, cidades que entraram bem mais tarde na programação carnavalesca, já aparecem em sexto e nono lugar, respectivamente. Ainda assim, é notável que muitos brasileiros aproveitam esse feriado estendido para ir para o litoral. Natal, Maceió, Fortaleza e Balneário Camboriú também aparecem na lista.

Orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro
Orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro - Richmatts/iStock

Na plataforma, o primeiro registro de reserva de hospedagem para o período foi em janeiro de 2022, com mais de um ano de antecedência. Já o pico de reservas foi registrado na segunda semana de janeiro, entre os dias 15 e 21. Entre as reservas confirmadas, observa-se também que 25% delas tem data de check-out após a quarta-feira de cinzas (22/01), mostrando que uma fatia considerável dos viajantes opta por estender a estadia.

Destinos do Nordeste

Mas o Rio não é o único destino tradicional para curtir a folia. Os festejos também fazem parte da história de mais três cidades na região Nordeste: Salvador (BA), Recife e Olinda (PE).

Salvador revolucionou o Carnaval com seu trio elétrico. O “trio”, inclusive, foi assim chamado pois sua estreia aconteceu em um desfile com três integrantes em cima de uma carro popular da década de 1950, o Fobica.

Casarios coloridos no Pelourinho, um dos marcos históricos de Salvador
Casarios coloridos no Pelourinho, um dos marcos históricos de Salvador - ueberkunst/iStock

Dodô, Osmar e Temístocles subiram a ladeira que leva à Praça Castro Alves tocando música ao vivo, arrastando milhares de pessoas por cerca de 16 horas. Pouco tempo depois, o nome do grupo passou a ser usado para se referir ao caminhão com palco que circula com estrelas da música popular durante a festa soteropolitana. Ao todo, 25 km de circuitos de carreata serão ocupados nos próximos dias.

O Carnaval baiano, no entanto, só ganha a proporção que tem hoje 20 anos depois, quando começam a criar canções exclusivamente para a festividade. Caetano Veloso, Moraes Moreira e Os Novos Baianos, por exemplo, foram alguns dos responsáveis pelos primeiros hits de carnaval da cidade. Já na década de 1980, com a popularidade do axé, a folia regional se diferenciou ainda mais da carioca graças à influência dos instrumentos de sopro e percussão caribenhos.

Os trios elétricos de Salvador atraem turistas de diversas partes do Brasil
Os trios elétricos de Salvador atraem turistas de diversas partes do Brasil - Divulgação/Secom-Salvador

Com a malha área recuperada quase totalmente, chegando a 37 destinos domésticos e quatro internacionais, a prefeitura de Salvador espera 800 mil turistas este ano, arrecadando cerca de R$1,8bi direta e indiretamente. Para os hotéis, a expectativa é de ocupação de 95% na capital, chegando ao pico de 100% em algumas datas do período.

Os bonecos de Olinda (PE) são outro destaque do festejo nordestino. Com mais de dois metros de altura, o primeiro deles alegrou a cidade pela primeira vez há 90 anos. Frequentadoras das ruas da capital e do Recife Antigo, as escolas de samba locais também são quase centenárias. A temporalidade das celebrações deste feriado, mais uma vez, mostram o quão rico em tradições históricas ele é, reforçando sua importância cultural para o país, que impacta também a economia.

Mas os bonecos gigantes não são a única peculiaridade local. Danças folclóricas típicas, como frevo e maracatu, predominam na manifestação pernambucana. Segundo destino de festejos no estado, os primórdios do Carnaval de Recife apontam para a comemoração da Folia de Reis, no século 17. Cem anos depois, o maracatu virado arrebatou a cultura local. Com raízes africanas, essa expressão se popularizou após a abolição da escravatura brasileira, encenando a coroação do Rei do Congo.

Galo da Madrugada arrasta multidão pelas ruas do Recife
Galo da Madrugada arrasta multidão pelas ruas do Recife - Sergio Bernardo/PCR

Ainda assim, o que tornou Recife um dos destinos disputados para a época foi o Galo da Madrugada. Fundado em 1978 por Enéas Freire, o galo desfilou pela primeira vez em janeiro de 1978, seguido por apenas 70 pessoas. Anos depois, ele viria a ser reconhecido pelo “Guinness Book” como o maior bloco de Carnaval do Mundo. Em 2020, 3,6 milhões de foliões passaram pela cidade, sendo 400 mil deles turistas estrangeiros. Com isso, foram movimentados R$295 milhões. Aqui, a moeda estrangeira faz toda a diferença.

No último Carnaval recifense, em 2020, a ocupação hoteleira registrada pela ABIH-PE foi superior a 98%. Este ano, a prefeitura estima a participação de 2 milhões de foliões, número menor do que o esperado para 2020. Em Olinda, o valor da taxa se repete na região da Marim dos Caetés.

Carnaval paulistano

Em São Paulo, a primeira escola de samba –a Lavapés– foi fundada em 1937, mas o primeiro desfile só aconteceu 18 anos depois, em 1955, no Parque Ibirapuera. O evento passou a ser realizado no Sambódromo do Anhembi apenas em 1977. No Carnaval da cidade, é interessante observar a relação entre futebol e samba, já que muitas das escolas derivam de torcidas organizadas, como a Gaviões da Fiel, dos corintianos, e a Mancha Verde, dos palmeirenses.

Carnaval de rua paulistano está entre os mais badalados do país
Carnaval de rua paulistano está entre os mais badalados do país - Rovena Rosa/Agência Brasil Geral

Deixando de ser um lugar de onde os moradores fugiam, a cidade passou a ser bastante procurada. No Hurb, ocupa o 9º lugar entre as mais procuradas para o período de 17 a 21/02. Hoje, com a retomada da folia nas ruas , a terra da garoa atrai mais de 15 milhões de pessoas. A expectativa é ocupar 55% dos quartos de hotéis disponíveis na cidade, repetindo o resultado de 2020. Dessa forma, comprova que é possível criar demandas turísticas a partir de incentivos ao mercado e aproveitando datas comemorativas chave ao longo do ano.

Há registros de que o primeiro Carnaval de Belo Horizonte aconteceu em 1897, há 114 anos, quando homens se vestiram de mulher para seguir carros que salpicavam confetes e serpentinas. A tradição carnavalesca foi retomada apenas nos anos 1990, mais de cem anos depois.

Blocos de rua também são destaques do Carnaval de Belo Horizonte
Blocos de rua também são destaques do Carnaval de Belo Horizonte - Élcio Paraíso/BeloTur

Em 2009, a cidade voltou a despertar para a folia nas ruas com o desfile de blocos e, desde então, a cidade conta com toda uma programação para a data. Hoje, 12 desfiles acontecem na cidade. O Grêmio Recreativo Escola de Samba (GRES) Inconfidência Mineira, de 1951, é a mais antiga ainda em atividade, enquanto o GRES Galocura, criado em 2007 pela torcida do Atlético Mineiro, é a mais nova.

A festa momesca também é importante para o calendário econômico da cidade, tendo se solidificado enquanto produto. Em 2020, mais de 4 milhões de pessoas a escolheram para pular o Carnaval. Este ano, estima-se que o número chegue a cinco milhões. Segundo o Sindicato de Hotéis, 200 mil mineiros estão a caminho da capital, o que pode atingir 100% da ocupação hoteleira. Na plataforma de reservas Hurb, é o sexto destino com maior número de vendas.

Vale apontar que o sindicato indica ainda que a busca pela rede hoteleira na cidade triplicou, apresentando uma procura nunca antes registrada. O fato reforça a hipótese de demanda reprimida pelo festejo gerada pelos últimos anos. Tal movimento deve gerar cerca de 5 mil empregos na capital do estado, que giram em torno das quase 3 mil apresentações em 44 pontos.

Zombie Walk

No Sul, a festa chegou de forma mais tardia. O primeiro concurso carnavalesco de Curitiba (PR) data de 1942. Ainda é possível assistir aos desfiles das nove escolas de samba locais, entre os grupos especial e de acesso, mas esse destino se diferenciou dos demais devido à sua programação alternativa, que estimula àqueles que não são os maiores fãs da celebração tradicional.

Zumbi Walk é a marca registrada do Carnaval curitibano
Zumbi Walk é a marca registrada do Carnaval curitibano - Gabriel Rosa/SMCS

Hoje, o Zombie Walk é o maior evento da cidade para o período. Nele, todos se vestem de zumbi para se arrastar pelas principais ruas da cidade, chamando atenção por suas maquiagens elaboradas e realistas, que assustam qualquer um. Mantendo o padrão alternativo, um festival de rock, o Psycho Carnival, também acontece nessa época.

Em Florianópolis (SC), o destaque fica com o Carnaval de Salão: bailes privados onde sambas-enredo, marchinhas e até ritmos nordestinos embalam o público. Contudo, a festa de rua, como se popularizou no país, pode ser encontrada nos bairros de Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui. Já as praias abrigam muitas festas eletrônicas.

Esse ano, a cidade deve receber um milhão de pessoas e, mesmo não sendo um dos destinos carnavalescos –no Hurb, não aparece entre as vinte com maior número de reservas -, a cidade registra aumento médio da diária na rede hoteleira de 20%. Estima-se que 83% dela deva estar ocupada este ano.

Partindo de uma origem católica, sendo a última oportunidade de festejar antes da abstinência de 40 dias que antecede à Páscoa, o Carnaval, em sua essência, foi criado para oferecer aos fiéis uma última oportunidade de extravasar antes de se recolher à prática da fé. E apesar do país abraçar diversas religiões, por meio de evidências subjetivas e factuais, pode-se dizer que o brasileiro realmente aproveita a data como se fosse sua última chance de comemorar.