Empresário supera câncer e concilia tratamento com viagens pelo mundo
Nestes últimos três anos, o empresário realizou sessões de hemodiálise por 20 países e quatro continentes
Depois de superar um câncer que resultou na retirada total do estômago, o empresário paulistano Osvaldo Saldeado, 67 anos, descobriu que era portador de uma doença crônica nos rins, o que obriga a fazer hemodiálise.
Apesar de uma verdadeira “via crúcis” em sua saúde, Osvaldo enfrentou os momentos difíceis reforçando seu sonho de criança: viajar pelo mundo. Hoje, além de gerenciar a Planetun, empresa de soluções para setor automotivo, ele acumula na bagagem muitas experiências, carimbos no passaporte e sessões de hemodiálise pelo mundo.
Um trecho da música “Drão”, de Gilberto Gil, reflete esses seus últimos anos diante da luta contra um câncer e de intermináveis sessões de hemodiálise em diversos países: “nossa caminhada dura, cama de tatame, pela vida afora”. Não à toa, a canção também é a sua favorita.
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Sonho de criança
Osvaldo conta que sempre foi encantado por novos lugares. Desde muito cedo procurou aprender outros idiomas e, quando em uma tela em preto e branco de uma TV de tubo assistia as apresentações do seu até então ídolo Cauby Peixoto, viu na língua inglesa o primeiro passo para as viagens com que sonhava. Anos mais tarde, viajar deixou de ser apenas um desejo de infância e se tornou também sua ferramenta de trabalho.
Formado em administração de empresas com ênfase em comércio exterior pela FASP (Faculdade de Administração de São Paulo), com MBA em Marketing pela ESPM, o executivo alçou voo em direção ao mundo. Com apenas 24 anos, começou sua carreira em uma multinacional e foi convidado a conhecer várias unidades da empresa na Europa. Foram muitas experiências e viagens internacionais de negócios até que em 2006 decidiu fundar sua própria empresa em 2006.
Coincidentemente, foi quando a Planetun ainda engatinhava que o empresário foi surpreendido com uma alteração na próstata e, mesmo ainda sem saber, seria o começo de uma jornada entre alinhar a administração de uma insurtech a uma rotina de exames e consultas médicas.
Neste mesmo ano precisou realizar um procedimento de raspagem da próstata, o qual, posteriormente, possibilitou a descoberta do aumento incomum de uma proteína no organismo. Passou de especialista em especialista e, apesar de não ter nenhuma relação com a alteração proteica, em 2009 recebeu o diagnóstico: um câncer de estômago.
“Fiquei em um estado de letargia e não conseguia construir pensamentos. A primeira coisa que me veio à cabeça a partir daí foi: pronto, vou morrer”, lembra Osvaldo.
Passado o choque inicial, começaram as pesquisas sobre o assunto. Com a coragem de enfrentar a doença, o apoio da família e a sugestão da equipe médica que o acompanhava, Osvaldo optou, sem hesitar, pela cirurgia. Por ser um tumor de origem genética e com possibilidade de reaparecimento em outra parte do órgão, além do estômago, foram retirados também o baço e a vesícula — os dois últimos por segurança.
Com a retirada total dos órgãos, os meses que seguiram resultaram em 35 kg a menos, uma reeducação alimentar para se adaptar a uma rotina sem o órgão e, é claro, uma viagem de três semanas na Europa para comemorar a vitória contra o câncer.
Excesso de proteínas
Após o retorno, o empresário ainda tinha o problema do excesso de proteínas que, por causa do tumor, precisou ser pausado. Por orientação médica, colheu plaquetas e hemácias visando aproveitá-lo no futuro em um possível transplante de medula óssea. Porém, até recorrer a essa possibilidade, o empresário foi submetido a um intenso tratamento quimioterápico que durou seis meses.
Em 2011, após verificarem a ineficácia da alternativa devido ao baixo rendimento dos rins evitando maiores problemas no coração, não houve outra solução a não ser realizar um transplante que, no caso do empresário, foi de forma autóloga — com o seu próprio material genético. Infelizmente, o organismo não respondeu como esperado e ele novamente se viu refém da quimioterapia e, apesar do insucesso da primeira tentativa, desta vez, durou seis anos. Neste período, as viagens, que continuaram presentes, ajudaram a manter a força e a capacidade de tocar, junto a família, a empresa.
No final de 2016, devido a maratona de medicação, os rins chegaram ao limite. E então, em 2017, começaram as hemodiálises. Embora com diversas restrições impostas pelo tratamento, Osvaldo seguiu o caminho contrário e decidiu enfrentar as adversidades. Pesquisou por várias clínicas e começou sua nova jornada pelo mundo.
“Tive a certeza que tomei a decisão certa quando em Veneza, na Itália, veio até o meu leito um padre e iniciamos uma conversa. Eu disse de onde vinha e para onde seguiria e ele ficou bastante impressionado comigo. Instantes depois ele estava com outro paciente e em determinado momento apontou para mim e disse: veja aquele brasileiro, está feliz e fazendo o mesmo que você. Viajar é viver. Se ele pode, você também”, conta.
Nestes últimos três anos, o empresário realizou sessões de hemodiálise por 20 países e quatro continentes.
Atualmente, Osvaldo possui uma condição crônica chamada de CDK (Chronic Kidney Desease), que não tem perspectiva de cura. Porém, ele não se deixa abater, já que ainda tem muitos roteiros para percorrer. A cada nova oportunidade de viagem, seja por conta de uma música, um filme, um livro ou dicas de pessoas, ele ganha um novo começo.
Osvaldo conta todos os detalhes dessas aventuras em seu blog (www.hemotour.com).