Espanha tem bar e restaurante dentro de lava vulcânica
Por Eduardo Vessoni, do site Viagem em Pauta
Minha guia bem que se esforçou, durante todo o dia, em me explicar onde seria o jantar da próxima noite.
Deu longas explicações sobre espeleologia, detalhou antigas erupções vulcânicas e até me perguntou se eu gostava de “Game of Thrones”.
O que ela queria mesmo era evitar o spoiler daquilo que seria uma das experiências mais impactantes em terras espanholas além-mar.
Localizados em Lanzarote, uma das sete ilhas do arquipélago das Ilhas Canárias, os “Jameos del Agua” são túneis naturais produzidos pela erupção do vulcão Corona, um imenso corredor rochoso com 6 km de extensão que corre em direção ao mar.
É bem ali, entre escadarias naturais de pedras vulcânicas e jogo de luzes artificiais que vai revelando (e ocultando) detalhes do local, que funcionam um bar e um restaurante.
O menu fechado é discreto e varia de acordo com o dia da semana.
Pode ser uma entrada com salada de camarões com queijo de cabra e guacamole, acompanhada de garoupa sobre uma cama de verduras; ou uma salada de frango e maçã para começar e um salmão com cogumelos salteados, de segundo prato.
E quer saber de uma coisa?
O cardápio é o que menos importa. Naquele ambiente de 21 mil anos de idade com espécies endêmicas como caranguejos cegos e plantas que pendem das paredes, eu me contentaria até com bolachinhas e água (sem gás, por favor).
E a cada gota que vai pingando no interior daqueles corredores, devido a sua posição sob o nível do mar, o lago interior vai crescendo bem aos pés dos visitantes, enquanto forasteiros pasmados circulam por estreitas vias laterais que conectam o restaurante e o bar, situado na outra boca do túnel.
Às 22h30, quando o último prato é recolhido, o local abriga ainda shows musicais em um palco natural, onde se apresentam músicos como José Vicente Pérez e Alexis Lemes, conhecidos por suas apresentações de timple, instrumento de cinco cordas, originário das Canárias.
Como tudo começou
Jameo é a palavra aborígene para se referir à abertura de um terreno, causada pelo desprendimento parcial do teto de um corredor de lava vulcânica.
Em Lanzarote, uma das ilhas orientais desse arquipélago espanhol a poucos quilômetros da costa do Marrocos, esse tubo natural vai da cratera do vulcão Corona e segue por um caminho submarino de 1 km até o oceano, conhecido como ‘Túnel de la Atlántida’.
Ou seja, tudo aquilo é tão misterioso e exótico como o lendário continente perdido de Platão, no oceano Atlântico.
Seu uso com fins turísticos é um dos projetos do arrojado artista plástico César Manrique, conhecido por seus trabalhos de integração entre arte e meio ambiente.
A primeira fase da atração seria inaugurada para o público, em 1966, e os trabalhos só seriam finalizados, 11 anos mais tarde, quando o espaço ganharia também um auditório (dentro de lavas vulcânicas, que fique bem claro).
O resultado é considerado uma das obras mais originais de Manrique, morto em 1992, em um acidente de carro, em Lanzarote.
E tinha razão a minha guia Gisele, uma carioca há 20 anos nas Ilhas Canárias. Faltam palavras para descrever um jantar entre paredes com tantos anos de história.
Nem os habitantes de Westeros, um dos continentes fictícios de “Game of Thrones”, teriam imaginado preparar um jantar assim.
Jameos del Agua
Onde: Próximo a Arrecife, capital de Lanzarote, nas Ilhas Canárias
Quanto: 9 euros (visita diurna)
Quando: Diariamente, das 10h às 18h30 (sábados até às 22h); cafeteria (10h – 18h30); bar de tapas (10h – 18h); restaurante (almoço: 11h – 16h30 / jantar: 19h – 22h)
Como chegar
A Iberia opera dois voos diários entre São Paulo/Rio de Janeiro e Madri, de onde é possível realizar conexões para Lanzarote, em menos de duas horas de espera.
O trecho Madri-Lanzarote conta com duas saídas diárias, a partir da capital espanhola.