Estrasburgo, um dos destinos mais procurados da Europa no inverno

Cidade francesa na fronteira com a Alemanha se orgulha de ser uma das mais antigas da Europa

Estrasburgo, na fronteira da França com a Alemanha, é um dos destinos mais encantadores da Europa. As ruas pitorescas, as casas que se confundem entre as arquiteturas dos dois países e a enorme catedral que rivaliza com a Notre-Dame de Paris colocaram a cidade no roteiro turístico internacional –e o melhor de tudo é que, estando no continente, é possível encontrar passagens aéreas baratas o ano todo.

A imponente Catedral de Notre-Dame de Estrasburgo, no nordeste da França
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A imponente Catedral de Notre-Dame de Estrasburgo, no nordeste da França

Dona de um cenário moderno e histórico ao mesmo tempo, além de uma cultura única que funde tradições alemãs e francesas, Estrasburgo é famosa também pelo seu mercado de Natal, período do ano em que a cidade fica repleta de visitantes. O tradicional Strasbourg Marche de Noel (ou Christkindelsmärik) acontece desde 1570, quando a cidade não pertencia à França, e recebe milhares de pessoas do mundo todo a cada ano.

Estrasburgo tem um dos mais antigos mercados de Natal da Europa
Créditos: AdrianHancu/iStock
Estrasburgo tem um dos mais antigos mercados de Natal da Europa

Estrasburgo tem uma história valiosa de cobiça por diversos povos e períodos sob distintas mãos no tempo: originalmente uma cidade celta, ela foi tomada pelos romanos para ser uma parada de guarnição às forças romanas, sendo rebatizada de Argentoratum. No entanto, por volta do século 5º, foi recapturada, desta vez pelos francos, uma tribo germânica que penetrava em territórios romanos –quando ela foi chamada de Strateburgum, de onde o nome original deriva.

Estrasburgo é uma das mais bonitas cidades da França
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Estrasburgo é uma das mais bonitas cidades da França

No ano de 842, Carlos 2º, rei dos francos ocidentais, e Luís 2º, rei dos francos orientais, fizeram uma juramento de aliança na cidade em um texto escrito em francês antigo que hoje está em exposição. Depois de uma luta pelo poder entre cidadãos e bispos na Idade Média, Estrasburgo voltou a ser uma cidade do Império Romano até a Reforma Protestante, quando a maioria dos habitantes aderiu à revolta religiosa.

Em 1681, Luís 16, rei da França, aproveitou um período de paz para anexar a cidade em uma ação que foi ratificada pelo Tratado de Rijswijk, em 1697, e desde então ela se misturou com a história do país: foi um dos locais centrais da Revolução Francesa e cenário para a composição da Marselha, em 1792, pelo poeta Claude-Joseph Rouget de Lisle. Os alemães até tentaram tomar novamente o poder durante a Guerra Franco-Germânica, entre 1870 e 1871, e mantiveram o controle de Estrasburgo até a Primeira Guerra Mundial, quando a França a recuperou.

Estrasburgo foi a primeira cidade francesa a ser classificada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco
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Estrasburgo foi a primeira cidade francesa a ser classificada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco

Na Segunda Guerra Mundial, o exército alemão tentou outra vez, mas não teve êxito. Em 1979, Estrasburgo ganhou status internacional quando a União Europeia instalou ali o Parlamento do bloco.

A seguir, a Catraca Livre Viagem indica seis coisas que todo turista precisa fazer nesse destino único da França:

Notre-Dame de Estrasburgo

Detalhe da Notre-Dame de Estrasburgo, um dos cartões-postais da cidade francesa
Créditos: RossHelen/iStock
Detalhe da Notre-Dame de Estrasburgo, um dos cartões-postais da cidade francesa

Proeminente no centro, a Notre-Dame de Estrasburgo (também conhecida como Catedral de Nossa Senhora de Estrasburgo) é a principal atração turística da cidade. Com uma torre de 141 metros, a igreja gótica pode ser vista de longe há pelo menos 400 anos, quando finalmente ficou pronta. Ela começou a ser erguida em 1015 e só ficou pronta em 1439, quando já era considerada uma das grandes construções humanas na Terra.

Na metade do século 16, foi reconhecida como o edifício mais alto do mundo, e manteve essa posição até 1874 – hoje é a sexta maior igreja do planeta e a segunda maior da França, atrás da Notre-Dame de Paris.

A Catedral de Nossa Senhora de Estrasburgo (Notre-Dame) pode ser vista de diversas partes da cidade
Créditos: Joaquin Ossorio-Castillo/iStock
A Catedral de Nossa Senhora de Estrasburgo (Notre-Dame) pode ser vista de diversas partes da cidade

A fachada é toda preenchida de pedras esculpidas que detalham os arcos das três grandes portas de entrada e toda a extensão da torre. Dentro da catedral, o que mais chama atenção – para além dos detalhes arquitetônicos, é o grande órgão ao lado da nave e sobre o púlpito também feito de pedra. Dali, voltando-se para a porta de entrada, têm-se a melhor visão da rosácea, que, nos dias ensolarados, enche a igreja de luz rosa. A igreja ainda oferece pontos de visitação como o Pilar dos Anjos e o grande relógio que ilustra o topo da torre.

O relógio, aliás, é uma atração à parte: construído em 1547, ele foi reformado em 1842 para receber um grande mostruário planetário e um mecanismo de calendário eclesiástico. Todos os dias, meio-dia e meia, ele apresenta os 12 apóstolos de Jesus e, então, o galo canta três vezes. O relógio astronômico de Estrasburgo mostra um vídeo ao meio-dia para aqueles que comprarem um ingresso específico.

Detalhe da interior da Catedral de Nossa Senhora de Estrasburgo
Créditos: benedek/iStock
Detalhe da interior da Catedral de Nossa Senhora de Estrasburgo

Outra parte da igreja acessível por meio de ingresso é a plataforma localizada acima do portão principal, a 66 metros do chão. Os visitantes precisam subir 330 degraus para obter uma visão incrível dos telhados das casas e prédios de Estrasburgo, da região da Alsácia, e quando o dia está limpo, é possível ver até a Floresta Negra, já no território alemão.

Os arredores da Notre-Dame

Se a catedral de Estrasburgo é a principal atração da cidade, seus arredores também são repletos de pontos turísticos. Ao lado do templo está a Maison Kammerzell, considerada a edificação local mais bela por causa de sua fachada de pedra esculpida no século 15.

Detalhe da decoração de Natal de restaurante na Rue du Maroquin, nos arredores da da Notre-Dame
Créditos: emicristea/iStock
Detalhe da decoração de Natal de restaurante na Rue du Maroquin, nos arredores da da Notre-Dame

Já à direita da Notre-Dame estão a Place du Château, uma grande praça que oferece a melhor visão da própria catedral e uma série de restaurantes, e o Palais Rohan, construído nos anos 1730 para servir de moradia dos arcebispos e cardeais –hoje ele abriga três museus.

Saindo da igreja, todas as direções ainda levam para a Cidade Velha de Estrasburgo, onde as ruas pitorescas são fechadas para carros e vivem repletas de turistas que caminham devagar em busca de presentes, quinquilharias e cafés. A mais frequentada delas é a Rue des Orfevres, que fica ao lado da Maison Kammerzell e termina na igreja. Ali também está o escritório de turismo da cidade, onde é possível comprar o Strasbourg Pass (que dá acesso a todas as atrações turísticas) e visualizar o mapa da região.

Os passeios de barco

Os passeios de barcos pelos canais de Estrasburgo costumam durar uma hora
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Os passeios de barcos pelos canais de Estrasburgo costumam durar uma hora

Estrasburgo é cortada pelo rio 3º, que cria vários afluentes que dividem espaço com as ruas e pontes da cidade. Uma das melhores maneiras de ter uma visão ampla das construções é comprando um roteiro de barco que percorre todas as águas urbanas: as empresas costumam oferecer passeios de uma hora de duração com guias em 12 idiomas diferentes contando a história dos “20 séculos” de existência de Estrasburgo.

Segundo Max Guedes, brasileiro que vive em Paris desde 2015, a maioria dos roteiros se ampara nos relatos históricos. “Eles gostam muito de ser uma das cidades mais antigas do que hoje é a França, e isso é muito valorizado também pelos produtos turísticos, como esses barcos”, diz.

Os bairros nos arredores do centro

Vista da Cidade Velha de Estrasburgo
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Vista da Cidade Velha de Estrasburgo

Apesar de ser pequena, Estrasburgo é uma cidade diversa. Séculos de história deixaram suas marcas de vários jeitos em bairros diferentes. Enquanto muitos turistas se limitam a conhecer a parte velha, as regiões ao redor, que também fazem parte da chamada Grande Ile, são igualmente belas e necessárias para quem pretende passar mais de dois dias na cidade.

Não tão longe da Cidade Velha, por exemplo, fica o distrito de Petite France, também chamado de Quartier des Tanneurs, dentro de uma ilha cercada por três canais do rio 3º. Nos últimos anos passou a ser considerada por muita gente a parte mais bonita da cidade, mas no passado era a mais pobre. A área conta a história do século 14, quando começou a se desenvolver por causa de um pequeno porto às margens do rio que centralizava algumas casas construídas por pescadores e trabalhadores das docas.

La Petite France, alegre bairro construído à beira d’água
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La Petite France, alegre bairro construído à beira d’água

O nome, Petite France, veio só no século seguinte, quando um hospital foi erguido na ilha para isolar pacientes com sífilis – à época chamada de “doença francesa” pelos alemães, e logo depois, de “la petite france” (“Pequena França”).

Outro bairro que vale a pena conhecer é Neustadt, com sua arquitetura particular, suas praças espaçosas e seus campos abertos. A região foi construída pelos alemães para ser o novo centro de Estrasburgo entre 1871 e 1918. À época, o projeto triplicou o tamanho da cidade, dando a ela vários novos cartões-postais, como a Place de la Republique, a igreja de São Paulo, o Palácio da Universidade e o edifício da Justiça.

Rue Sainte-Madeleine, no bairro de Krutenau
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Rue Sainte-Madeleine, no bairro de Krutenau

O centro da noite de Estrasburgo é outro exemplo: engana-se quem pensa que a vida noturna da cidade acontece em torno da catedral. Ela pulsa mesmo no bairro de Krutenau, um distrito que, no passado, servia como domicílio para as classes baixas da região que trabalhavam na capital da Alsácia. Nos anos 1970, o bairro se encheu de repúblicas estudantis por causa da universidade e, com eles, chegaram cafés, bares e discotecas.

Por fim, há ainda o chamado “Quarteirão Europeu”, que contrasta com todos os outros de Estrasburgo: uma série de prédios contemporâneos sedia as instituições políticas do bloco político que dá unidade ao continente, incluindo o parlamento da UE, o Conselho da Europa e a Corte dos Direitos Humanos –tudo no cruzamento dos canais do rio 3º. Ali, ao invés de lojas de lembranças e cafés clássicos, a circulação é de deputados, diplomatas e líderes em áreas reservadas de compras e de hospedagens –mas não é menos vivo do que nas outras áreas.

Os parques de Estrasburgo

Parc de l’Orangerie, no Quarteirão Europeu, é um dos mais antigos da cidade
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Parc de l’Orangerie, no Quarteirão Europeu, é um dos mais antigos da cidade

Como toda cidade da França, Estrasburgo é repleta de parques. O mais antigo deles é o Parc de l’Orangerie, no Quarteirão Europeu, que ocupa 25 hectares de área urbana. Os moradores costumam passar os finais de semana das estações quentes andando de bicicleta, fazendo piqueniques, entrando no pequeno zoológico e almoçando nos restaurantes de rua.

O mais visitado pelos turistas, no entanto, é o Jardim Botânico, parte das instalações da universidade. Construído em 1884, ele possui 6 mil espécies de plantas e ganhou nos últimos anos um enorme planetário. Para Max Guedes, ele tem uma grande semelhança com o Ibirapuera: “Acho que o nosso parque de São Paulo é maior, mas tem uma cara bem parecida, porque mistura o ambiente verde com um espaço de shows, de eventos etc.”. Nas estações frias, a principal atração é ver as rãs acasalando (e gritando) nos lagos.

No entanto, toda a margem do rio é feita de canteiros verdes e, principalmente no verão, também é uma parte da cidade convidativa para sentar e fazer um piquenique ou tomar uma cerveja – já que a tradição alemã é forte ali.

Praça Central de Estrasburgo
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Praça Central de Estrasburgo

As igrejas de Estrasburgo

Embora a Notre-Dame seja a atração mais procurada, não é a única igreja de Estrasburgo. No total, há 11 templos no perímetro da Grande Ile, algumas protestantes e outras católicas. Nem todas são abertas ao público, mas se as portas estiverem abertas, os turistas podem entrar – e eles realmente levam a regra a sério. Três das mais imponentes são a St. Pierre Le Jeune, a St. Thomas e a St. Paul’s.

A St. Pierre le Jeune é uma igreja protestante decorada com afrescos do século 14 e com um órgão de 1780 empoleirado sobre o coro do templo. Porém, o que atrai mais turistas é a cripta do século 17, onde os ossos dos mortos estão à mostra até hoje. Como é parte do roteiro turístico, o templo possui panfletos informativos em diversas línguas.

A Igreja Protestante de Saint-Thomas é um exemplo da arte gótica da Alsácia
Créditos: Philippe de Rexel/Office de Tourisme de Strasbourg
A Igreja Protestante de Saint-Thomas é um exemplo da arte gótica da Alsácia

Já a St. Thomas é uma igreja mais famosa por sua localização, na Cidade Velha. Ela tem uma importância histórica tanto como templo católico como luterano – o que é hoje – e possui duas atrações: um órgão que foi tocado por Mozart em 1778 e o mausoléu do marechal alemão Maurício da Saxônia, que morreu como quadro do exército francês – o túmulo foi projetado por Jean-Baptiste Pigalle.

Por fim, a St. Paul’s Church foi construída no final do século 19 no reavivamento do estilo gótico. Sua torre principal tem 76 metros, o que a torna a segunda maior igreja de Estrasburgo depois da catedral. O templo é fechado em alguns períodos do ano, mas, se o turista tiver sorte, pode até assistir a uma apresentação dos coros atuais.

Outras igrejas de Estrasburgo são a St. Nicholas, Le Bouclier, St. Pierre le Vieux, St. Jean’s, St. Pierre le Jeune católica, St. Guillaume’s, Temple Neuf and St. Madeleine’s, além de uma grande mesquita e de uma sinagoga que completam o horizonte religioso da cidade.