Fernando de Noronha tem número recorde de ninhos de tartarugas
Poderia até ser mais um daqueles dias em uma prainha de águas calmas, em Fernando de Noronha. Mas quando começa a chegar o grupo de biólogos com placas nas mãos, nadadeiras e snorkel, é sinal de que vai ter tartaruga no pedaço.
E na temporada 2017, que começou em dezembro de 2016 e seguiu até o último mês de junho, o que não faltou foi tartaruga para ver.
Neste ano, o Projeto Tamar de Noronha registrou 424 ninhos feitos pela espécie tartaruga-verde, a única que desova nesse arquipélago, a mais de 540 km de Recife. O número é recorde desde que o monitoramento começou na ilha, em 1984, mesmo ano em que o projeto se estabeleceu em Fernando de Noronha.
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“As desovas protegidas nesta temporada indicam crescimento de mais de 400% no número de ninhos em relação à temporada anterior. Cerca de 50% dos ninhos estavam na praia do Leão, principal área de desova no arquipélago. No que se refere ao número de filhotes, até o momento foram levadas ao mar em segurança 13.321 tartaruguinhas, o que corresponde a 207% a mais que na temporada anterior”, informou o Tamar em nota.
Na primeira década de atuação do TAMAR na ilha, as praias de Noronha não recebiam mais do que 50 ninhos por temporada. Em 2017, a estimativa é de 500 novos ninhos, segundo informaram biólogos do Projeto Tamar para o Viagem em Pauta.
Localizada em área de parque nacional, a Praia do Leão recebe cerca de 60% de todos os ninhos encontrados em Noronha. “A preferência por essa praia se deve ao fato do Leão estar voltada para o Mar de Fora e receber as correntes que batem direto nessa região da ilha”, explica o biólogo Felipe Bortolon, um dos profissionais do TAMAR que atua na ilha.
Segundo o biólogo Armando Barsante, uma tartaruga desova a cada 3 anos, em média. De modo que uma fêmea pode voltar para fazer um ninho, depois de dois anos da ninhada anterior, de acordo com a disponibilidade de alimento.
Para Lourival Dutra Neto, gestor do Centro de Visitantes do TAMAR Noronha, o aumento do número de ninhos se deve também ao trabalho de conservação e preservação de tartarugas, entre o TAMAR e o ICMBio, órgão ambiental do governo.
“Essa proteção em conjunto ajudou a aumentar o número da população que desova aqui em Noronha”, diz Dutra Neto.
Captura intencional de tartarugas
Basta uma das biólogas perguntarem pelo megafone “Vamos falar agora sobre tartarugas, né?” e logo se forma uma roda de banhistas curiosos, em volta da marcação improvisada na areia da praia.
Às segundas e quintas, a Praia do Sueste, no Mar de Fora, assiste à captura intencional de tartarugas, sob o comando de profissionais do Projeto Tamar. E a melhor notícia para o turista é que essa espécie de aula a céu aberto é gratuita e acontece ali mesmo na praia.
“A captura científica é um programa de pesquisa que o Tamar realiza há três décadas na ilha. Trata-se da captura, marcação e recaptura das tartarugas”, explica o coordenador regional Armando Barsante.
E uma vez capturado no mar, o animal é levado até a areia para a coleta de dados, enquanto parte dos profissionais interage com o público. As anilhas presas às tartarugas funcionam como um RG do animal com dados como idade e local de captura.
Só para ter uma ideia do alcance do projeto, já foram encontradas espécies que, após serem marcadas em Fernando de Noronha, foram recapturadas no Gabão e na Guiné Equatorial, países da África, a mais de cinco mil quilômetros de distância do arquipélago.
Entre um procedimento e outro, como a hidratação do casco, os biólogos vão respondendo cada uma das inúmeras perguntas que o público vai fazendo.
Definitivamente, essa é uma das atividades mais emocionantes do arquipélago, um contato muito próximo da vida marinha local que nem sempre se deixa ser vista, em mergulhos com cilindro ou em atividades aquáticas como snorkel.
Mas é a criançada que vai à loucura quando o biólogo convida aqueles pequenos visitantes de olhos paralisados para ajudarem na devolução dos animais ao mar.
“É a oportunidade de ver as tartarugas em detalhes e um pouco do comportamento do bicho. A gente costuma dizer que para conservar é preciso conhecer”, explica Armando Barsanti. SAIBA MAIS
Turismo em Noronha
Estabelecido, em 1984, antes mesmo do arquipélago ser anexado a Pernambuco e áreas de preservação serem criadas, o TAMAR Noronha tem uma história que caminha junto com a da própria ilha.
“O Tamar ajudou a consolidar o modelo de ecoturismo em Noronha, protegendo a praia do Leão, local que foi um embrião do Parque Nacional de Noronha, ainda na época do comando da Aeronáutica que fazia a gestão do território”, relembra Barsante.
Mais do que área de alimentação e reprodução de espécies marinhas, o destino é uma importante ferramenta de sensibilização de turistas que também contam com atividades de ecoturismo como a abertura de ninhos, palestras ambientais e visitas guiadas no Centro de Visitantes, na Vila do Boldró, também em Noronha.
Há 21 anos em funcionamento, ininterruptamente, o Ciclo de Palestras Ambientais do Projeto TAMAR é uma das atividades ambientais mais famosas da ilha, considerado um marco na divulgação ambiental para os moradores e turistas de Noronha.
Diariamente, sem pular nenhuma noite, o local recebe palestras encabeçadas por pesquisadores residentes no arquipélago ou que estejam de passagem, sempre às 20h e com temas como “tartarugas marinhas”, “golfinhos rotadores” e “tubarões”.
Outra atividade da ilha é a abertura de ninhos, com participação do público.
Todas as manhãs, as equipes monitoram as praias de Noronha e verificam a existência de ninhos com filhotes prontos pra nascer e, em caso positivo, funcionários do TAMAR avisam pousadas e agências, convidando turistas para a abertura de ninhos, no mesmo dia, às 18h, quando é feito um cordão de isolamento, entre o ninho e a água do mar.
Segundo Barsante, são escolhidos sempre ninhos próximos à área de fácil acesso, mas “não tem como prever quando será a atividade”.
A primeira abertura começa em janeiro, aproximadamente, de acordo com o início das primeiras desovas, iniciadas em dezembro.
“É um presente que não dá para prever, mas existe a época mais propícia. O pico de nascimento é um reflexo do pico de desova, que é em março, logo o pico de nascimento é entre abril e maio.”, explica o biólogo.
A atividade chega a reunir mais de 300 pessoas, de acordo com Barsante, e costuma acontecer em praias como Boldró, Americano, Bode, Quixaba e Cacimba, faixas de areia que fazem parte da Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha.
E como eles sabem que vai ter tartaruguinha no pedaço?
O período de incubação é de 50 dias, aproximadamente, e quando o ovo eclode, um líquido é dissecado pela areia e o volume que estava ocupado por esse líquido passa a ser ocupado pela areia que vem escorrendo pela força da gravidade.
Isso causa um afundamento no ninho, evidenciando que os filhotes começaram sua subida, em direção ao mar.
Conheça outros centros de visitantes do Projeto Tamar, no litoral do Brasil.
SAIBA MAIS
Projeto Tamar
www.tamar.org.br
Site de Fernando de Noronha
www.noronha.pe.gov.br
Econoronha
www.parnanoronha.com.br