Intercambistas fazem campanha em referendo sobre casamento homoafetivo na Irlanda
O país que tem sua história ligada a conflitos religiosos pode se tornar o primeiro a aprovar a igualdade dos direitos matrimoniais para homossexuais por decisão popular. Cartazes a favor do sim ou do não como resposta para o referendo de 22 de maio estão espalhados pelas ruas da capital, Dublin, e pelas cidades do interior do país. Apenas cidadãos irlandeses cadastrados para as eleições podem votar no referendo. Mas brasileiros e pessoas das mais diversas nacionalidades participam de campanhas para pedir votos a favor da proposta.
Um grupo de intercambistas com apoio da escola de idioma Seda College, que recebe cerca de dois mil estudantes internacionais por ano, começou uma campanha nas redes sociais. No centro de Dublin, eles fizeram fotos com cartazes para incentivar os irlandeses a refletirem sobre a importância de um “sim” nesse referendo.
O brasileiro Lauro Roger McAllister, que chegou há três meses na Irlanda para estudar inglês, está engajado nas ações promovidas pela Seda College. “Mostrar que nós apoiamos uma causa por mais respeito e aceitação é mais do que direito, é um dever levantarmos nossas vozes. A escola, por sua vez, tem um papel crucial para mostrar às pessoas que grandes instituições também compartilham desse desejo de uma sociedade igualitária”, avalia o intercambista.
A organizadora da campanha na Seda College, Savana Caldas, acredita que, como uma empresa irlandesa, é importante a escola se posicionar sobre essa questão. “O debate também tem sido levantado em sala de aula, pois o intercâmbio é uma experiência cultural e é importante que os alunos conheçam o contexto histórico do país em que estão vivendo. Nosso objetivo com a campanha nas redes sociais é engrossar o coro a favor do ‘sim’, com apoio de alunos das mais diversas nacionalidades”.
O que muda
O casamento é a única relação entre duas pessoas considerada no mundo todo, tanto pelo ponto de vista cultural da palavra como em questão de direitos e proteções do Governo que a união civil não garante. Por exemplo, na Irlanda, uma casa onde mora um casal gay, mesmo com união civil, é considerada uma casa compartilhada, mas uma casa com parceiros casados no civil já é considerada familiar. Isso tudo reflete na proteção dos dependentes que vivem na casa ou mesmo na proteção dos parceiros, pois a constituição irlandesa garante “cuidado e proteção à família” –e uma casa de homossexuais unidos pelo civil não se encaixa nesse conceito.
A organização Marriage Equality listou 160 diferenças entre o casamento civil e a união civil. As diferenças no conceito também interferem nas relações das crianças com pais homossexuais, o que deixa o assunto mais polêmico no país que quer preservar o conceito tradicional de família. No entanto, o referendo não tratará de questões de adoção ou mesmo de barriga de aluguel –apenas dos direitos constitucionais para um casal indiferente do sexo.
No Brasil, a união entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecida há mais de dez ano e o casamento civil entre homossexuais foi considerado a partir de maio de 2013 por decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que obriga todos os cartórios do país a celebrar casamento homoafetivo e a converter união estável em casamento.