La Paz, um ótimo destino para o viajante mão de vaca

Decidimos incluir La Paz em nosso mochilão pela América do Sul por ser um ponto estratégico e de fácil acesso aos outros países, mas, como bons mãos de vaca que somos, consideramos principalmente o valor da moeda local:  na época, R$ 1 era equivalente a 3,33 bolivianos.

A cotação atual já não é mais tão favorável (R$ 1 está valendo 2,25 bolivianos), mas o custo de vida em La Paz é muito baixo. Para ter uma ideia, uma Coca-Cola de 200 ml custava apenas 1 boliviano, ou seja, R$ 0,30 na época da viagem e R$ 0,44, hoje. Esses preços baixos valem também para os passeios, as roupas e a cerveja.

Com menos altitude que o centro da cidade, os bairros ao sul de La Paz têm prédio e condomínios de alto padrão

Chegando a La Paz
O avião  fez escala em Santa Cruz de La Sierra. O aeroporto de lá é bem pequeno e tem poucas opções de restaurante, mas foi suficiente para passarmos a madrugada tirando cochilos pelo saguão, à espera do próximo voo. Como era nossa primeira noite de viagem, o perrengue até que foi divertido.

A viagem até La Paz foi tranquila e rápida e a vista dos picos nevados é muito bonita, por isso uma dica é fazer esse trajeto de dia. Já sobre a cidade, não podemos dizer o mesmo: nos primeiros minutos por ali já é possível perceber que o trânsito é um caos e que a pobreza da população reflete nas casas amontoadas e sem pintura no alto dos morros que circundam a cidade. É claro que La Paz tem seus bairros charmosos, mas o centro é bem antigo, bagunçado e, à primeira vista, um pouco assustador.

A sede do governo de La Paz

Passeando pelos arredores

Mas calma. Apesar de alguns pontos, existem passeios muito bacanas que fazem valer a pena a estadia. O primeiro que fizemos, e talvez o mais famoso de todos, é a tão temida Descida da Morte, que sai dos 4650 m de altitude e vai até 1200 m em Coroico. Lendas à parte, o lugar é bonito e a aventura e adrenalina compensam todo o esforço.

Outros dois passeios muito interessantes são a subida ao Monte Chacaltaya, que tem uma vista de tirar o fôlego, literalmente. A 5395 m de altitude, a van te leva até uma estação na montanha e, de lá, os turistas seguem por mais uma hora de caminhada rumo ao topo, o que não é nada fácil. No mesmo dia visitamos o Valle de la Luna, conhecido por ter um solo arenoso, com formações que lembram o da Lua.

No Vale da Lua é possível circular pelas esculturas formadas pela ação da natureza no solo

Voltando à La Paz, uma das melhores atrações da cidade é o Mercado de Las Brujas, um local próximo ao centro que reúne diversas lojinhas com tudo o que você imagina (e que não imagina também), por preços muito convidativos. Por lá, encontramos as famosas (e necessárias) folha de coca, luvas, gorros, meias, blusas de pelo de lhama, uma infinidade de souvenires, bijuterias e muito material para seitas religiosas como, por exemplo, esqueletos secos de filhote de lhama (por isso o nome “Mercado das Bruxas”). À primeira vista parece um pouco assustador, mas ao longo das ruas repletas de lojinhas vocês vai se acostumando…

Pra quem viajou com o objetivo de comprar uma blusa de frio, este é o lugar. Como já disse, a moeda boliviana é muito mais baixa que o real, por isso, é possível encontrar roupas e acessórios de frio muito baratos. Eu comprei um suéter de pelo de lhama (bem quentinho) por 80 bolivianos, o que equivale a cerca de R$ 35.

Descida de bike na estrada da morte, considerada a mais perigosa do mundo

Passamos quatro dias em La Paz e foi o suficiente para, além dos passeios, conhecer alguns pontos da cidade como o parque municipal, algumas praças e palácios do governo e o estádio de futebol Hermando Siles, onde assistimos a um jogo do São Paulo. Ainda existem muitas atrações como casas noturnas e shoppings, mas, na minha opinião, quatro dias na capital é muito mais do que suficiente.

Coca não é cocaína

Saímos do Brasil com recomendações (das mães, é claro!) para tomar cuidado com as tais folhas de coca. E adivinha qual foi a primeira coisa que compramos no mercado das bruxas..?  O gosto não é dos melhores, mas a chola que nos vendeu indicou uma espécie de argila doce, usada para mastigar junto com as folhas e disfarçar o gosto amargo.

No mercado das bruxas é possível comprar malhas, artesanatos e bijuterias

Como a cidade está localizada em uma região muito alta (3360 m), o soroche, ou mal de altitude, é sentido logo nas primeiras horas, por isso as folhas de coca ajudam bastante a disfarçar a falta de ar. Como passei mal nos dois primeiros dias, compramos chá de coca e também uma pílula vendida nas farmácias locais, que até hoje eu não sei o que era, mas ajudou e não deu nenhum efeito colateral.

Como é proibida no Brasil, muita gente pensa que, por se tratar das folhas usadas para fazer a droga, a coca vai dar algum barato ou deixar a pessoa viciada. Mas na verdade não é nada disso. Suas folhas já eram usadas pelos incas para diminuir a fadiga, os enjoos e a tontura causada pela altitude e, até hoje, os bolivianos (e também os peruanos) tem o costume de mascá-las. Nós experimentamos e comprovamos que elas ajudam muito e o único efeito que nos causaram foi deixar a língua um pouco adormecida.

Preços e percursos

Passagem (SP/La Paz/SP): R$ 1.240 (por pessoa)
Tempo de viagem (SP/Santa Cruz): 2h50; (Santa Cruz/La Paz): 1h + escala de 8h
Hospedagem: Hostel Loki, B$49 (R$ 21,77) o quarto com 10 camas, e B$180 (R$ 79,96), 0 quarto de casal com banheiro. Todos incluem café da manhã.

*Taxa de câmbio de 09/03/2015

Por Ligia Antoniazzi, do blog Vamos Fugir