Mirantão, vilarejo perfeito para se isolar na Serra da Mantiqueira
Como consegui fazer minha primeira viagem durante uma pandemia
Entaovah vai à um destino próximo de São Paulo, Rio e Minas, te mostrar que viajar é possível!
O combo foi simples, carro e Airbnb com self check in. Essa foi a maneira que encontrei para respirar ar puro, tirar as ‘noias’ da cabeça, tomar um banho de cachoeira e curtir a vida, que andava enclausurada com segurança.
O destino foi a Serra da Mantiqueira, uma cadeia de montanhas que se significa “gota de chuva”. O nome realmente faz jus ao que se encontra. Muita água. Úmido, repleto de cachoeiras, rios e lagos, suas águas correm por por três estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, tendo essa, a maior área.
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Há três horas e meia do Rio de Janeiro pela Dutra, passando pela Serra das Araras que eu amo está esse pequeno vilarejo de Mirantão, distrito de Bocaina de Minas (MG).
Fizemos em muuuuuito mais tempo, estávamos passeando e curtindo a estrada, além do carro, que eu conto mais pra frente. Parando em tudo que era lugar, comendo e inclusive trabalhando. A pandemia tem dessas, permite trabalhar de todo o canto.
Manifesto
Tenho certeza que não está fácil para ninguém esses tempos sombrios de quarentena, mas é importante criarmos e acharmos maneiras criativas e seguras para conseguir sobreviver e quem sabe, apoiar pessoas a sobreviverem também.
Muito importante lembrar que os profissionais que trabalham com turismo estão passando um perrengue danado e precisam de ajuda. Se você puder, apoie aquele guia independente ou de pequenas cooperativas que te levou em um lugar incrível, dê uma força para aquele hotel pequenino no meio do nada. Um recepcionista de um hostel que te indicou um lugar mara, dá um salve.
A casa
Minha busca começou bem realista, tinha que caber no meu bolso. Falei com um amigo que Vamos? Vamos! e o sonho começou. Procurei por alguns requisitos, que para mim eram essenciais. Estar no meio do nada na Mantiqueira, medidas de segurança, natureza exuberante e conforto.
Eis que fui surpreendida pela Casa Tlalli, que superou todas as minhas expectativas e cabia no meu orçamento. Uma galeria de arte que eu poderia me hospedar e chamar de minha por alguns dias.
O lugar na Mantiqueira é surreal, com quadros por todos os lados, itens culturais indígenas de diferentes partes do mundo, fotografias, posters provocadores, esculturas, poesia, muitos livros e um universo inteiro.
O melhor é que de todos os cantos da casa você consegue ver as montanhas em largas janelas e por aberturas de todos os tamanhos espalhados. Assim, consegui me sentir mergulhada na natureza.
Olhar o mapa e não ter nada a sua volta para mim é entender nosso tamanho dentro do planeta e dar a devida importância para a humanidade.
Poderia ter parado por aí, mas não, tinha também uma jacuzzi super quente para dar conta de noites super frias, cozinha bem equipada, lareira e uma sala que vira um cinema, com um projetor.
O self check in funcionou e não encontramos ninguém a estadia toda.
A Casa Tlalli na Mantiqueira tem na verdade três casas, e certamente voltarei para me hospedar nas outras, uma antiga fábrica de queijos e um capril. Às duas com a mesma pegada de arte na natureza e restauradas por Viviane Rosa, uma artista plástica sensível que trabalhou com a força das mulheres que trabalharam ali e com todos os materiais retirados dali mesmo, tanto da fábrica, como do Capril, mantendo a identidade do que o lugar era, para transformar no que viverá a ser.
O vilarejo
Com a casa escolhida, fui descobrir Mirantão, que fica no município de .
A cidade na Mantiqueira é pacata com 1.100 habitantes que vivem a vida devagar. É como chegar em um lugar há 40 anos atrás, claro que por estrada de terra. Não tem estrutura para o turismo, as coisas fecham cedo e não tem abastecimento diário de insumos, isso faz com que você tenha que se planejar.
Faça o mercado na sua própria cidade, você vai ter mais oferta e melhores preços.
Próximo a ela e que usamos de cidades de apoio, estão Visconde de Mauá e Maromba.
O Carro
Nunca tinha viajado como co pilota em um 4X4, desses tratorzinhos que passam por todos os lugares e te levam onde mais nada é capaz. Estava animada e achando tudo uma aventura. Topando o que viesse com ela, adrenalina em alguns momentos e respeitar o tempo do carro em outros.
Estava em uma Defender 110 clássica, verde marinho, como um dia já esteve nos meus sonhos. Sou viciada por aventuras e por fazer coisas novas. Então, encher um tanque externo de combustível com a segurança que podia ir para exatamente qualquer lugar foi bem animador.
Aprender as libras certas para o pneu para cada tipo de terreno ou entender o que faz o carro esquentar, como conduzir aquele gigante e ir conhecendo mais sobre tração e qual marcha usar estava sendo divertido e desafiador. Além de ter assumido o piloto um pouquinho cumprimentando todo mundo como se quisesse ser a prefeita daquele pedaço de Mantiqueira.
O mais legal de tudo era escolher o caminho mais difícil para passar e comemorar quando passava, mesmo que não houvesse dúvidas.
Foi uma viagem de estrada, horas e horas de chão e de paisagens que mudam bastante e diariamente me levavam a florestas e caminhos encantados. Claro que com o carro que estava, era isso que buscava.
A região está cheia desses carros e brincávamos que era a ‘Família Defender’ da Mantiqueira! Todos param, trocam informações valiosas sobre trilhas, caminhos e condições da estrada, além de prosear um bom tanto!
Cachoeiras e poções
Cheguei na quinta e fui embora no domingo. Fiz esses passeios espalhados por esses dias, sem obrigações e hora certa para nada. Foi bem seguro e não encontramos praticamente ninguém nos lugares que fomos. Não tivemos contato com aglomerações e tão pouco com pequenos grupos, o que deixou nossa viagem para a Mantiqueira extremamente segura.
Não esqueça de ter sempre água a mão e snacks no carro. Uma boa trilha sonora para acompanhar o Wikiloc, um app excelente para off road que permite baixar os mapas offline. Além de usar o Santo Google Maps com seus mapas offline, que permite traçar rotas mesmo sem internet ou sinal.
Buscava atividades com água em meio a trilhas de carro, e consegui!
No Mirantão tem a Cachoeira da Prata, que é linda e abundante. São três cachoeiras que ficam dentro de uma propriedade particular, com estacionamento de R$5,00 há exatos 10 minutos da Casa Tlalli.
Um pedaço da Mantiqueira preservado e plural. A trilha é bem curta e fácil e te leva para cachoeira só para ver e para cachoeira de banhar e se reenergizar. Ali funciona o restaurante da Dona Palmira e do Seu Zé, que já foi self service e hoje funciona como prato feito. Não comemos, mas é tudo muito bem cuidado e uma graça, bem como a Dona Palmira que nos recebeu.
Fomos também em uma pequena queda d’água que não está no mapa, logo na saída da Cachoeira da Prata, com destino ao centro da cidade que amei e perdi boas horas. O poço para banho era enorme e fundo o suficiente, para se jogar da corda que foi colocada ali para trazer alguma aventura para o lugar e fazer a Tarzan na Mantiqueira.
Importante lembrar que não se pode confiar que estará fundo o suficiente quando você for. Não é porque tem uma corda que deve se dependurar. Cheque sempre a profundidade do dia antes e conheça o terreno por onde vai se aventurar. Devemos sempre cuidar da segurança. O feed vem depois!
Na cidade também tem o Vale do Alcantilado que não fui, mas um dia irei. Um complexo de 9 cachoeiras.
O Poção 7 metros da Maromba é incrível e vale a visita. Por um pequeno portal, uma trilha de descida fácil, te leva até uma pedra bem grande. Adivinharam o motivo do nome? Essa pedra tem uma altura de 7 metros, onde os mais corajosos pulam até a água congelante. Não sou de sair pulando, mas meu amigo Vamos? Vamos! usou essa contra mim e eu me joguei.
Claro que amei, o frio na barriga de conseguir dar o próximo passo é inexplicável. Tem que viver para saber. Tem uma área bem linda com uma queda principal de água e outras menores, pedras grandes para descansar e um espaço para banho grande e tranquilo.
Fui no fim do dia, então já estava esfriando e foi o primeiro banho da viagem.Um começo de 7 metros de altura.
Há cinco minutos dali, fica a Cachoeira do Escorrega, que fui em outro dia e fiquei bastante tempo. Não seja preguiçoso e não pare logo no início.
Suba até onde puder e fique ali bem próximo do começo dessa popular cachoeira, já isolado do resto do universo. Tome tempo, banhe na água fria, flerte com a vida e descubra esse lugar com calma.
A descida é pelo escorrega da cachoeira. Eu não fui porque já estava escuro, vi o dia acabar ali mesmo, em uma pedra gigante, me sentindo parte da natureza.
Apesar de ser popular, estava vazia e vimos poucas pessoas curtindo por ali.
Trilhas de carro
A Pousada Morro Verde na Mantiqueira foi descoberta por acaso. Buscando uma trilha off road por Visconde de Mauá, foi definido ir sentido a Alagoa, mas algo não saiu como previsto e nesse caso foi o senso de direção da co-pilota.
Errei em uma placa, o que nos colocou felizmente a caminho dessa pousada. Em uma trilha de 8 km que só te leva a um lugar e que só é possível fazer de 4X4, chegamos em uma porteira fechada. Entramos porque queríamos esticar as pernas, beber uma água e, mais importante, saber onde estávamos.
Fomos recebidos gentilmente por uma mulher solícita, que me deu uma banana, nos mostrou mapas, mostrou os quartos e explicou um pouquinho mais. Na descida, cruzamos com o dono da pousada também em um Defender e aí foi mais uma prosa!
A estrada era difícil, mas muito gostosa. Que refúgio, amigos.
No Rio de Janeiro, ainda na Serra da Mantiqueira, está o Parque Nacional de itatiaia. O primeiro parque do Brasil chega a estar há 2.790 metros de altitude. Um parque bem acessível, já que sua parte mais baixa está há 540 metros acima do mar, com muitas opções de trilhas, trekkings, cachoeiras e lagos de dificuldade variadas. Se informe antes de ir e leve seu lixo com você.
Escolhemos ir ao ponto mais alto do Rio de Janeiro e obviamente o ponto mais alto do parque, além de ser o quinto ponto mais alto do Brasil. O Pico das Agulhas Negras. O pico só pode ser feito por trilha em rocha de nível difícil, com trecho de escalada. O uso de material de escalada é obrigatório.
Estávamos de carro e fomos até a base. Lindo de viver estar ali no topo, com o pico entre nuvens. A neblina estava forte e dando um tom de encanto! Estar em lugares difíceis de chegar e que te desafiam a encarar aventuras com leveza e beleza, fazem a minha vida valer a pena.
Já estávamos a meio caminho andado até o Rio, por isso optamos por fazer no último dia, para facilitar a volta. Não contávamos que choveria tanto, deixando um caminho fácil, mais complexo.
Onde Comer
Em Mirantão, pedimos na Casa Tlalli, uma pizza do Mineiro Maneiro Uai e um crepe de chocolate, que por fim, era do Osmar, que cuidava da nossa casa. Uma boa pizza no meio do nada!
Dona Elzira, uma mulher calma, mas de fibra nos recebeu uma noite para um jantar. Um peixe, com mandioca, farofa e um arroz e feijão muito bem temperado e com gosto de casa do interior. Levei pra casa um queijo e uma geleia de Uvaia (já tive um hostel em SP, que chamava Uvaia Hostel, que dá um sabor especial a essa fruta). Além de alecrim para um pão que seria assado um tanto na lareira.
Na região de Visconde de Mauá, atravessando a pé uma ponte que te leva do Rio a Minas, está o Restaurante da Kashi, uma beleza de lugar. Vegano, natural e feito com amor pela Kashi, seu marido e sua pequena, uma presença graciosa no ambiente. Um buffet com variedade, temperos e especiarias, as folhas são o carro chefe, frescas e refrescantes. A dica é colocar todos os temperos disponíveis!
Terras Altas da Mantiqueira está no caminho de Mirantão para o Pico das Agulhas Negras. Passamos por uma porteira e pensamos, Vamos? Vamos! No caso era um café e não imaginávamos o que nos esperava.
Paulinho e Sandra receberam com muita simpatia e carinho, prontamente me atendendo com o café coado. Não demorei a entender que sairia um almoço com sobremesa. Divino!
Na hora de pagar a conta, vi Paulinho entrando por uma porta e saindo com queijo na mão. O paraíso tava ali e ainda bem que eu notei. Um quarto cheio de queijo, salame, manteiga, doce de leite e outras gostosuras. Fiz minha comprinha do mês e antes de ir embora feliz, eles contaram que tinha um poço com uma pequena cachoeira, atravessando a estradinha de terra, ainda dentro da propriedade deles e nos deixaram à vontade para ficar o tempo necessário para fazer a digestão e curtir o tempo necessário.
A Mantiqueira é tudo isso aí que eu contei, cheio de segredos e descobertas. basta estar atento e presente. Como sempre a natureza traz vida e fôlego para seguir encarando a pandemia com coragem e segurança. Relembrar que cair na estrada é possível, fez meu coração bater descompassado!
Já foi voltar a sonhar? Entaovah!
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Viajante por natureza, partilho pequenas descobertas. Roteiros com amor para você realizar seus sonhos ?♀️
❤Já foi? Entaovah