Brasileiro conta como viajar pelo mundo virou seu trabalho
Relato por Daniel Thompson
Meu trabalho é viajar. Tenho um blog de viagens chamado “Mochileiro das Maravilhas“, produzo conteúdo para o portal UOL (séries, vídeos e matérias), tenho um programa de TV na Gazeta chamado “O Mochileiro” e em 2015 outras novidades estão a caminho, mas, para chegar a isso, remei (e caminhei) bastante.
Aqui, a partir de agora, eu conto um pouco de como tudo isso aconteceu durante os últimos anos, para compartilhar essa experiência, incentivar você que está aí do outro lado e, por que não, provar que é sim possível viver de viagens, trabalhar com isso e que não precisa ser rico para conseguir. Com muita vontade, persistência e trabalho, além de um pouco de sorte, como para tudo na vida, é claro que é possível.
Os primeiros anos foram de descobertas…
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Em 2001, recém formado em Relações Públicas, embarquei para o meu primeiro mochilão pela Europa. O dinheiro economizado e guardado com os estágios daria pra me sustentar por uns três meses no velho continente, mas a ajuda de algumas almas generosas de lá que me deram abrigo e meus hábitos econômicos de viajar fizeram esse período aumentar para cinco meses. Estudei espanhol e inglês e acho que fui um aluno exemplar. Não faltei a uma aula sequer… e após descobrir que gostaria de trabalhar com turismo pro resto da vida, fiz a minha inscrição para estudar turismo na volta ao Brasil, direto de um ciber café grátis em Londres. Cheguei uma semana antes da prova. Passei! E embarquei para mais alguns anos dentro de uma sala de aula.
Iniciei estágios na área. Companhias aéreas, agências de turismo, operadoras até que, em 2006, decidi cair no mundo de novo. O destino escolhido foi a Nova Zelândia, país que sempre fez parte dos meus sonhos pela organização, exemplo de turismo bem feito, pela natureza preservada e pelos esportes de aventura. Morei um Queenstown, cidadezinha linda da ilha sul do país, onde eu estudava pela manhã e trabalhava como camareiro em algumas tardes e durante os finais de semana. Uma experiência inesquecível.
Voltei com o inglês tinindo, mais maduro e cheio de energia. Além do que, aprendi a arrumar uma cama como poucos! Rapidamente consegui um novo emprego, agora em uma operadora de turismo para destinos exóticos. Dois anos depois, sempre guardando dinheiro, percebi que o mundo me esperava de novo. E daí em diante eu posso dizer que as coisas realmente começaram a mudar!
O sonho da volta ao mundo
Durante aqueles últimos cinco anos eu tinha alimentado a vontade de um dia dar uma volta ao mundo. Não era tão “comum” como hoje e a única pessoa que eu conhecia que tinha feito isso era o Zeca Camargo.
Meu trabalho de conclusão de curso na faculdade de turismo era a tal da RTW (Round the World Ticket), passagem de volta ao mundo –que nem o meu orientador conhecia– e a vontade de usar esse bilhete não saía da minha cabeça. Passei quase dois anos pensando nisso e quase seis meses efetivamente planejando como seria. Finalmente achei um tema legal para o meu projeto. Nasceu o “Mochileiro das Maravilhas”, afinal eu sempre viajava de mochila e tinha como objetivo visitar as maravilhas modernas do planeta… aliás, as candidatas, que tinham participado recentemente de uma eleição mundial.
O projeto foi feito com a ajuda de pessoas próximas e eu comecei a correr atrás de possíveis patrocinadores. Desde então eu descobri que é realmente muito difícil conseguir alguém que banque uma aventura como essa se você não é conhecido e parece ser apenas mais um maluco que quer dar a volta ao mundo. Mas eu consegui apoiadores. Algumas empresas me ajudaram com produtos pelos quais eu certamente gastaria dinheiro e por fim recebi um convite do iG Turismo para escrever semanalmente sobre a minha aventura. Mais uma vez, a viagem cresceu e passou dos três para os sete meses, somando o dinheiro guardado durante os quase três anos de trabalho ao que receberia como colunista do portal.
Esse período de mais de um ano, entre planejamento, execução e pós-viagem foi um divisor de águas na minha vida e na minha profissão. Foram mais de 80 mil quilômetros e 27 países percorridos em sete meses. Eu acho que vi de tudo. Ou pelo menos, quase! E mudei, mudei muito minha maneira de pensar, de agir, de respeitar, de entender e de lidar com o mundo e de como eu deveria enxergá-lo dali para frente. São tantas histórias, tantas pessoas, tantas experiências novas que a cada vez que eu abro o meu diário de bordo, revejo fotos ou assisto aos vídeos, eu viajo novamente.
Na volta da viagem eu demorei um tempo para entender o que estava acontecendo. Me readaptar à rotina, ter um lugar fixo novamente e ouvir as pessoas, que sempre me perguntavam como seria o futuro. E eu não sabia também. Nasceu o blog e eu voltei ao meu antigo trabalho, valorizado, desta vez em uma posição melhor. Com passar dos meses, porém, o comichão de cair no mundo novamente me atingiu. Parecia estar claro que o meu lugar não era dentro de um escritório, com uma roupa social, vendo o mundo através de um monitor.
A profissionalização
Depois de pouco mais de dois anos, aceitei uma nova proposta de trabalho, mas menos de um ano depois aconteceu o que lá no fundo seria inevitável e eu já esperava: percebi que não era feliz e que mudar daqui pra lá ou de lá pra cá não resolveria. Eu precisava voltar pra estrada e ser pago para isso seria a única forma de fazer o que mais gosto na maior parte do tempo.
O blog não havia parado. Era um hobby e sempre o atualizava com notícias de turismo e informações sobre viagens esporádicas de férias. Era hora de reviver o Mochileiro das Maravilhas e a eleição das maravilhas naturais do mundo deu um novo gás às minhas ideias!
Parecia que tudo começava de novo, mais uma vez. Batendo de porta em porta, tomando nãos na cara. Vendo pessoas te olhando e te julgando como louco (talvez elas sejam muito mais –decida você) e vários momentos de desânimo, até que um outro portal me chamou para conversar. Eles gostariam de ter o material que eu produziria, mas dessa vez, em vídeo. Oi? Vídeo? Sim, você faz vídeos, não faz? Na hora, junto com a lembrança das minhas filmagens das noites de Natal em casa, veio a resposta: sim, claro que faço.
Criei um equipamento meio “estranho” para filmar e ser filmado e o batizei de “Traquitana”. Ele virou então meu companheiro inseparável de viagens. Com um colete adaptado, uma câmera vai no meu ombro e filma o que vem à frente, sendo os “meus olhos” na visão de quem assiste. Uma outra, firmada na ponta de um braço que sai do meu peito, fica sempre virada para mim e é com quem eu converso durante minhas andanças. Ela também capta aqueles que andam ao meu lado. E a terceira vai na minha mão, para destacar tudo aquilo que julgo interessante e que merece uma aproximação e um destaque aos olhos do mochileiro. Procurei estudar o universo dos vídeos e testei muito o equipamento, com idas a parques, tomadas em frente ao espelho e horas lendo e ouvindo quem entende do assunto.
Daí em diante, devidamente equipado pra registrar tudo, parti para minha nova volta ao mundo, dessa vez de quase cinco meses. Mais experiente, me safei de roubadas, mas pequei em alguns pontos, ousei em outros e vivi novas histórias. Vi de perto algumas das obras mais lindas da natureza e fiquei a centímetros de animais incríveis. Provei (de novo) mais um pouco do sabor do mundo e, como nada é perfeito, tive a minha primeira mochila extraviada. No final, os quatro dias em Manila, nas Filipinas, renderam uma das histórias mais engraçadas das minhas viagens, e aquele barraco no aeroporto acabou virando um episódio da minha primeira webserie no UOL e um dos episódios do programa “O Mochileiro”, que apresento atualmente na TV Gazeta e que já está na segunda temporada .
Não esqueçam nunca: viajar faz a vida melhor!
Acompanhe as aventuras de Daniel Thompson pelo site www.mochileirodasmaravilhas.com.br ou pelo Facebook.