Monte Roraima: um dos melhores destinos para quem curte aventura

Parece perrengue demais, mas tudo isso vale a pena para conhecer uma das montanhas mais misteriosas e antigas do planeta. O Monte Roraima é um daqueles lugares que te transporta para outra realidade, com vistas de tirar o fôlego. Você nunca vai ver nada parecido.

Reúne paisagens que não há palavras no mundo para explicar, e que são até difíceis de absorver de uma vez só. Talvez por isso encontramos tanta gente nas trilhas fazendo aquele passeio pela segunda, terceira, quarta, quinta vez! E não é à toa que todos os anos, quatro mil turistas enfrentam os mais de 130 km de caminhada e um paredão gigante de rocha para chegar ao topo.

Como chegar

Caso você não seja um dos escaladores mais preparados da galáxia, o único jeito de chegar ao topo do Monte Roraima é pelo lado venezuelano. Localizado no norte da América do Sul, na Tríplice Fronteira (Venezuela, Brasil e Guiana), o monte faz parte do Parque Nacional Canaima (Venezuela) e Parque Nacional do Monte Roraima (Brasil).

Para quem sai do Brasil, o caminho mais fácil é ir até Boa Vista (Roraima) de avião e de lá ir de carro, van ou ônibus até Santa Elena, na Venezuela.

Em Santa Elena é preciso pegar um carro 4×4 até o vilarejo de Paraitepui, que é o último local onde um carro pode ir. Depois só seu pé mesmo. É preciso um guia para entrar no Parque. Aqui encontramos uma grande diferença de preços e serviços. Geralmente as pessoas fecham pacotes por telefone, internet ou na sua cidade de origem. Outros se aventuram até Santa Elena e arranjam tudo lá.

Conversei com vários turistas ao longo do caminho. Os pacotes de viagem variam de R$ 3.500 para quem fecha à distância, com transfer do aeroporto até Santa Helena. O pacote inclui hotel na chegada e saída em Boa Vista, todas as refeições durante o trekking, aluguel de barracas, guia e até um morador local para carregar sua mochila todos os dias, os chamados porteadores.

Mas teve gente que chegou à Santa Elena na cara e na coragem, arranjou um guia credenciado e pagou R$ 600 com direito ao aluguel das barracas e a alimentação todos os dias de caminhada. Ah! Tem o pacote ostentação também! Você pode subir de helicóptero!!! Pacotes a partir de US$ 1.500.

Como são os passeios

Normalmente os pacotes variam de seis a oito dias. O meu foi de oito dias, porque queríamos ficar quatro noites no topo e explorar bem cada pedacinho do Monte Roraima. Foram dois dias de caminhada em uma área parecida com nosso Cerrado, até chegar à base da montanha.

Depois da longa caminhada, um dia inteiro de subida com muitas pedras, alguns pontos de mata fechada, passando por quedas d’água e o Vale das Lágrimas, que é a parte mais íngreme e cheia de pedras soltas que rolam morro abaixo.

Chegando no topo, você acampa em alguns dos “hotéis”, que são as poucas áreas onde é seguro montar uma barraca e pode começar a fazer os passeios. Os mais comuns são até os mirantes, onde temos dimensão da grandiosidade do Monte Roraima, sendo o mais famoso o La Ventana. É alto pra caramba! Tem gente que chega a vomitar de tanta vertigem.

Nos Vales dos Cristais você encontra cristais coloridos por toda trilha, seja no chão ou nas laterais das rochas. Tem também as cavernas com buracos redondos estranhos no chão e abismos a perder de vista. Você encontra também as “jacuzzis”, que são piscinas naturais lindas onde a gente toma banho numa água fria de doer os ossos, mas que recupera até defunto. A subida ao topo do Maverick, morro em forma de carro, também é essencial! De lá a gente tem noção do quanto caminhamos, já que no fim do horizonte é possível enxergar Paraitepui.

O Ponto Triplo, marco das três fronteiras, é um local onde a gente vê a divisão dos três países que dividem a “propriedade” do Monte. Tem ainda o Lago Gladys, com suas águas misteriosas, o El Foso, um buraco aberto no chão coberto de água, a Catedral, formação rochosa que lembra uma igreja. Enfim, tem mil lugares pra visitar nesses quatro dias. Depois são mais dois dias descendo o Monte e voltando para o vilarejo.

Quando ir

Tem passeio o ano inteiro, mas eu te garanto que escalar o monte com chuva e ficar quatro dias lá em cima com névoa, não vai ser a coisa mais legal do mundo. Além de não ver muita coisa, os rios enchem e a travessia fica mais perigosa. Prefira ir na época da seca, que é entre dezembro e começo de abril. E mesmo indo neste período existe a chance de chuva ou neblina lá em cima. Vá preparado para tudo! O tempo muda em questão de minutos.

O que levar

Caso não tenha dinheiro ou não queira contratar os porteadores, pense mil vezes antes de levar qualquer coisa minimamente inútil. Tem aqui uma listinha do que eu sugiro levar com base na minha experiência, dos meus colegas e da lista dada pela agência de turismo. Você tem como lavar roupa lá nos rios, então economize no peso! Você não está indo para o São Paulo Fashion Week. Levando o básico, minha mochila ainda pesou 11 quilos.

Roupas e produtos pessoais: Três a cinco camisas que secam rápido. Sugiro a maioria de manga longa pra proteger do sol e da chuva; 2 calças de trilha. Pelo menos uma daquelas que vira short é o ideal! A outra sugiro aquelas compridas justas ao corpo; 4 pares de meia. De preferência essas de trekking;1 casaco de fleece, aqueles felpudos quentinhos; 1 corta vento impermeável; 1 capa de chuva; 1 roupa mega quente pra dormir; 1 gorro e par de luvas; 1 boné / chapéu com abas; 1 roupa para banho (biquíni, calção); 1 bota para trekking já amaciadas e impermeáveis; 1 papete ou calçado confortável para descansar os pés; 1 óculos de sol; 1 toalha de secagem rápida; protetor solar; álcool em gel; repelente; papel higiênico/baby wipes;

Equipamentos: Saco de dormir para 0ºC; colchonete inflável com isolante térmico. É vida!; capa de chuva e sacos plásticos para proteger as roupas em caso de chuva e também para recolher lixo; mochilão (50-60 litros); mochila de ataque (10-20 litros); garrafa d´água de 1 litro; corda ou barbante para fazer varal; lanterna (a de cabeça é mais prática); isqueiro; canivete; carregador extra de bateria para o celular, pilhas e máquinas fotográficas; esparadrapo, micropore ou qualquer outra coisa que você usa para proteger seu pé; medicamentos.

Dicas

1 – Cuide dos pés. Se eu pudesse dar só uma dica, seria essa! São eles que vão te carregar pra cima e pra baixo. Prevenir é melhor do que remediar. Botas confortáveis, meias decentes e qualquer fita que você puder usar para proteger seu pé onde doer;

2 – Cuidado com os peri-peri, mosquitos que são verdadeiros vampiros! Use repelente o tempo todo lá embaixo da montanha. Por causa de cinco minutos que fiquei sem repelente, voltei com umas dez picadas no corpo e vinte no rosto enquanto dormia ou ia pro banho;

3 – Mesmo em janeiro, pode chover. Então, vá preparado(a)! E se for friorento(a) que nem eu, vá muito preparado(a) com roupas bem quentes;

4 – As condições de higiene são bem precárias. Se tem frescuras, nem queira ver como a comida é feita;

5 – Seus joelhos são seus amigos, preste bem atenção onde pisa e não inventa de fazer nada correndo no começo pra não ter que ser arrastado por porteadores depois. Não tenha vergonha de subir ou descer se apoiando com o bumbum no paredão;

6 – As fronteiras do Brasil e da Venezuela funcionam em horários diferentes, que mudam o tempo todo!!! Olhe antes de ir pra não ficar preso no limbo! Aconteceu isso com meu grupo. Depois da saída do Brasil, não deu tempo de dar entrada na Venezuela;

7- Normalmente todos os pacotes oferecem café, almoço e janta. É bom levar lanchinhos saudáveis e fáceis de carregar, como frutas secas, castanhas, biscoitos, barras de proteína. Como eu não como carne de boi, frango ou porco, levei mil e uma barras dessas barras veganas, paçocas com whey, chocolates protéicos. Era uma forma de me deliciar e de consumir proteína;

8 – Parece lenda, mas é verdade: gritar aumenta as chances de chuva lá em cima. E você não vai querer caminhar ensopado, né?

9 – Troque dinheiro em Santa Elena, o cambio é melhor e mais seguro. Quando fomos, agora em março, estava R$ 1 para 260 bolivares. Prepare-se para levar rios de dinheiro com você. Troquei só R$ 50 e deu tranquilo para os três dias. Uma cerveja, por exemplo, sai por 600 bolívares;

10 – Não esqueça o cartão de vacinação com a vacina de febre amarela, eles podem cobrar;

11 – Não inventa de andar sozinho! A chance de se perder por lá é grande;

12 – Aproveite toda oportunidade que tiver para conversar com os guias locais, os cozinheiros e carregadores. É uma chance única de conviver e aprender sobre uma cultura diferente! Alguns dos momentos mais marcantes que tive foram com eles;

13 – Se você, como eu, foi na doida e entrou no primeiro de grupo que apareceu, se entregue! Conhecer pessoas novas, sem preconceito, sem juglar e sendo você mesmo é a melhor experiência da terra. Fui com 12 pessoas que nunca tinha visto na vida. Os perrengues nos transformaram em uma grande família, um cuidando do outro e rindo de todo desafio que aparecia pela frente;

14 – Lembre-se que a caminho é tão importante quanto o destino. Aproveite cada passo da sua jornada!!! Foi uma das experiências mais gratificantes que tive!

Por Bárbara Lins, do blog Descobertas Barbaras

Fotos: Bárbara Lins, Gustavo Parolin, Malu Paternostro, Leonardo Passini