Mudanças climáticas e pesca predatória afetam paraísos na terra, diz Vilfredo Schurmann

Na última segunda-feira, dia 21, a Expedição Oriente, nova aventura da família Schurmann completou um ano. Esta é a terceira volta ao mundo da família catarinense que, a bordo do veleiro Kat, construído especialmente para expedição, já percorreu cerca de 10 mil milhas desde a partida do porto de Itajaí, em setembro do ano passado.

O casal Vilfredo e Heloísa Schurmann celebram um ano da Expedição Oriente em Bora Bora

Nesta nova volta ao mundo, eles foram pela primeira vez à Antártica e passaram por destinos como Punta Del Este, no Uruguai; Buenos Aires, Mar Del Plata, Puerto Deseado e Ushuaia, na Argentina; Puerto Willians, Puerto Montt e Ilha de Páscoa, no Chile, Tahiti e Moorea, na Polinésia Francesa.

Depois de dois meses, a tripulação do veleiro Kat deixou no último sábado a Polinésia Francesa. Foi de Mopelia, penúltima ilha a oeste deste paraíso, que capitão Vilfredo Schurmann conversou, por e-mail, com o Viagem Livre sobre mudanças climáticas, a participação de  Emmanuel, terceira geração da família que é um dos tripulantes, a convivência a bordo e tecnologia. Confira abaixo:

Diferente das expedições anteriores, esta conta com uma tripulação maior. Como é a convivência com estes novos ‘membros’ da família?

Vilfredo Schurmann – Um dos desafios e, ao mesmo tempo, aprendizados, é o relacionamento e a conivência de 8 a 11 pessoas em um lugar com menos de 180 metros quadrados. Isso independe de ser ou não da família. É um aprendizado diário que cada um deve ter como compromisso. E, como falou, com a convivência todos acabam se tornando membros da família. E família é a união e o prazer de compartilhar tudo, as alegrias e as dificuldades, e se ajudar mutuamente.

Veleiro Kat navega pelas águas cristalinas de Bora Bora, na Polinésia Francesa

Qual a importância da presença de Emmanuel a bordo?

Vilfredo – Ah, a presença do Emmanuel é de uma alegria imensa, porque ele representa a continuação dos projetos da família. Eu e a Heloísa somos muito privilegiados. Primeiro por que nossos filhos, Pierre, David e Wilhelm, sempre nos acompanharam e nos apoiaram nos projetos. Agora temos a honra de ter ao nosso lado, navegando com a gente, nosso neto Emmanuel. Além de ser muito esforçado é um marinheiro muito aplicado, afinal, ele superou um drama pessoal para poder embarcar nesta aventura.

Depois de 17 anos, vocês estão voltando a alguns destinos paradisíacos. Neste período, o mundo sofreu muitas transformações, principalmente na questão climática. Isto afetou estes paraísos?

Vilfredo – Infelizmente, afetou, sim, Márcio. Dezessete anos depois de passar pela primeira vez pela Patagônia Chilena, observamos uma visível diferença na paisagem do Glaciar Pío XI. Em 1998, quando passamos por estas mesmas águas, durante nossa segunda volta ao mundo, enfrentamos muito gelo e temperaturas baixíssimas (e era a mesma época do ano). Presenciamos alguns pontos de devastação da fauna marinha, principalmente, por causa da pesca predatória e mudança climática.

Wilhelm Schurmann, 5 vezes campeão mundial de windsurf, veleja nas ondas de Bora Bora

Muitas baías, onde a fartura de peixes era gigante, hoje sofre com a escassez. Em Mar Del Plata [Argentina] e em Puerto Montt [Chile], por exemplo, ouvimos muitas queixas relacionadas à pesca predatória e à poluição nas águas, com despejo de grandes quantidades de lixo, óleo e diesel no mar. É muito comum, durante os mergulhos, encontrarmos sacos plásticos, garrafas pet e poluição de combustíveis pelo mar. Na ilha Dulcie, um atol isolado do mundo, no oceano Pacífico, encontramos muito lixo de plástico.  É muito triste.

Gavin Menzies tem acompanhado a aventura?

Vilfredo – Sim, por meio do seu assistente Ian Hudson que esteve no evento da nossa partida do Brasil. Recebemos dicas de cada lugar que aportamos para pesquisarmos sobre a visita dos chineses nestes países. 

*Nota da redação: A Expedição Oriente foi inspirada no livro “1421: O ano em que a China descobriu o mundo”, de Gavin Menzies, um ex-oficial da Marinha inglesa, que defende que os chineses, e não Cristóvão Colombo, teriam sido os descobridores da América.

Há um ano a Expedição Oriente partiu de Itajaí em Santa Catarina e passou por lugares como Antártica, Canais Chilenos, Ilha de Páscoa e, agora, Polinésia Francesa

Esta expedição é a mais tecnológica que as anteriores. Até que ponto isto influência na rotina da tripulação?

Vilfredo – Influencia de forma muito positiva. Nesta expedição, temos recursos tecnológicos que nos mantêm conectados com as pessoas que estão longe. É tão legal que chega a ser inacreditável ver as pessoas, antes mesmo de nossa chegada em algum porto ou ilha, estarem sabendo do projeto e nos enviarem mensagens de boas-vindas pelo Facebook.

A recepção em cada lugar é muito especial. As pessoas que vêm até nós, dizem que estão nos acompanhando e que gostariam de fazer o mesmo. Todos na tripulação curtem com cada mensagem e isso é muito positivo e dá incentivos e energia. Também com as previsões meteorológicas em tempo real, sabemos de antemão o rumo que devemos seguir para não enfrentar uma tempestade, e isso deixa a tripulação confiante e de saber os procedimentos que teremos que seguir.