Museu do Hip Hop RS celebra o protagonismo das periferias gaúchas
Com acervo de mais de 6 mil itens, primeiro museu da cultura hip hop na América Latina é um convite à reflexão sobre espaços urbanos, ética e compromisso
Maíra Carvalho
![Museu do Hip Hop RS celebra o protagonismo das periferias gaúchas.](https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2025/01/museu-do-hip-hop-450x300.jpeg)
O Museu da Cultura Hip Hop Rio Grande do Sul foi inaugurado no final de 2023 em Porto Alegre e já fez história. Com exposições sobre poesia, ritmo, dança, arte e conhecimento, o espaço é o primeiro da América Latina a preservar a cultura viva de rua, honrando o Mestre de Cerimônia, o Disk Jockey, o Break, o Graffiti e o chamado à consciência.
Além do núcleo dos cinco elementos, o museu também traz exposições sobre a origem, a estética, o esporte e os movimentos sociais ligados ao hip hop. “Não buscamos contar a história cronológica do hip hop, mas mostrar quem é protagonista dessa história, valorizar o povo de periferia, o povo negro do Rio Grande do Sul”, diz o professor de história e um dos idealizadores do museu, Rafael Mautone Ferreira.
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As visitas são mediadas por uma MC, um DJ, grafiteira, BGirl e uma poetisa da cena local, com oficinas dos cinco elementos. “O museu traz esse protagonismo educador, não é um protagonismo estático do passado, é um protagonismo que coloca sementes para o futuro, do menino e da menina da periferia que vão lá e dizem: esse cara aqui é meu tio, olha a foto da minha mãe, a foto da minha tia, eles estão no museu!”, destaca Rafael.
![Com um acervo de mais de 6 mil itens, primeiro museu da cultura hip hop na América Latina é um convite à reflexão sobre espaços urbanos, ética e compromisso.](https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2025/01/museu-do-hip-hop3-450x356.jpeg)
Desde então o movimento hip hop local se fortaleceu. Durante as enchentes que aconteceram no Rio Grande do Sul no início de 2024, por exemplo, a galera ligada ao Museu participou ativamente da campanha de reconstrução. Tony Tornado foi até lá para homenagear o Dia da Consciência Negra, em 20 de Novembro. E para celebrar o aniversário de 1 ano, receberam Os Gêmeos e Negra Li e BK, além de uma exposição internacional do Museu Nacional da Colômbia, em cartaz atualmente.
Periferia gaúcha
O hip hop é uma manifestação cultural e artística que surgiu nos subúrbios de Nova York, nos Estados Unidos, nos anos 1970 e rapidamente se espalhou pelas periferias das cidades ao redor do mundo. No Brasil, sua influência é tão grande que foi reconhecido como manifestação da cultura nacional pelo Decreto 11.784, de 2023.
Em Porto Alegre, o grupo Da Guedes, com mais de 30 anos de atuação, é uma referência do rap gaúcho. Conhecido nacionalmente, o grupo perdeu um de seus integrantes, o DJ Only Jay, durante a pandemia. Esse triste acontecimento inspirou a criação do museu. Rafael Ferreira era coordenador pedagógico da Casa de Cultura Hip Hop de Esteio, cidade metropolitana de Porto Alegre, quando soube do ocorrido.
“O hip hop tinha uma história de 40 anos no Rio Grande do Sul, mas não tinha nada documentado sobre isso. Quando morreu Only Jay, um cara muito importante para a cena local, aquilo bateu forte, percebemos que nossa história estava se perdendo e que só nós poderíamos contá-la”, lembra.
Segundo Rafael Ferreira, a pesquisa histórica e antropológica fez com que o movimento hip hop gaúcho se articulasse novamente. “Os fóruns online juntaram pessoas que não se falavam mais, pessoas antigas, muitas delas que não estavam mais na prática. Fizemos celebrações nas nove regiões do Rio Grande do Sul. Em muitos desses lugares, foi a primeira festa de hip hop pós-pandemia. A gente ia com aqueles carros com bagageiro grande e voltava cheio de doações, de tudo que você possa imaginar, ligado ao hip hop”, conta.
![O Museu da Cultura Hip Hop Rio Grande do Sul foi inaugurado no final de 2023 em Porto Alegre e já fez história.](https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2025/01/museu-do-hip-hop4-450x205.jpeg)
Com esse material em mãos, a associação buscou parcerias com a prefeitura de Porto Alegre e com o estado do Rio Grande do Sul para arrumar um local que pudesse abrigar o museu. O local encontrado foi a antiga Escola Osvaldo Aranha, que fica na Zona Norte de Porto Alegre. A escola foi fechada pelo estado e retornou para o município em 2017, que a manteve inoperante desde então.
Assim, em 2021, a prefeitura de Porto Alegre resolve ceder o espaço para a Associação de Hip Hop de Esteio, atual gestora do museu. “A prefeitura de Porto Alegre fez um Termo de Permissão de Uso de 20 anos para nós. No entanto, foram cinco anos de abandono. Estava um matagal, muito lodo em tudo, quebraram as porcelanas da escola, roubaram a fiação, a quadra estava totalmente destruída… tivemos que fazer um longo processo de revitalização e transformação do espaço para o museu”, recorda-se.
A escola foi reformada por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, junto com o apoio da Tintas Renner, lojas Quero Quero e Nubank. O museu foi inaugurado no dia 10 de dezembro de 2023 com uma grande festa, com batalha de rima, break, show de rap, apresentação de graffiti e DJ.
Além do atendimento ao público em geral, o museu faz um trabalho especial de oficinas de hip hop com crianças e jovens. “Elas vão dançar, pegar o spray, fazer uma rima, mexer no disco e depois, no final, fazemos uma espécie de apresentação, tanto das pessoas que fizeram uma letra ali na hora, como dos próprios mediadores e mediadoras… eles fazem uma festa”, conta o professor.
Quer participar do Museu?
Atualmente, o patrocinador oficial do Museu do Hip Hop RS é a Petrobras Cultural e atua por meio de editais para integrar a sua programação. A convocatória abrange exposições museológicas, eventos esportivos, escritores e escritoras, eventos culturais, produção e gravação. Além disso, está disponível um formulário para recebimento de outras propostas, para que o museu receba em seu espaço projetos de atividades autogestionadas com financiamento próprio. Para saber mais, visite o Linktree do museu ou siga as redes sociais no Instagram e Facebook.
Maíra Carvalho – Lupa do Bem
Causadora de Educação