Na península Valdés, a incrível história da amizade entre um guarda-fauna e as orcas

07/07/2015 00:23

Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado

Orca abocanha um filhote de leão-marinho
Orca abocanha um filhote de leão-marinho

‘Baleia assassina’ para mergulhadores, bicho-papão para leões-marinhos, e filhotes de jubartes, as orcas têm uma fama ruim dos diabos. Mas para o guarda-fauna e biólogo argentino Roberto Bubas, elas se tornaram amigas do peito.

Pôr do sol na península Valdés, na Patagônia argentina
Pôr do sol na península Valdés, na Patagônia argentina

Para contar essa história, precisamos antes descrever a natureza extrema da península Valdés. Localizada na província argentina de Chubut, a 1.500 km ao sul de Buenos Aires, ela guarda algo de primitivo e puro, com exuberante vida marinha. Um lugar onde predomina a monocromática estepe patagônica, no qual destacam-se estâncias para criação de ovelhas, com sedes rústicas ao lado de cataventos girando enlouquecidos. Nesse território de clima seco, árido e de vegetação rasteira é fácil observar raposas, lebres, guanacos e avestruzes, e onde se vê, perfeitamente, o dia empurrar a noite e o amanhecer que chega em tons lilases.

Baleia jubarte é vista na península Valdés
Baleia jubarte é vista na península Valdés

Mas são as praias dessa península que seduzem os visitantes. Esse cenário de beleza prístina levou Sebastião Salgado a fotografá-la para seu livro “Genesis”. Nós viajamos para ver o maior atrativo dali: baleias, golfinhos, leões-marinhos e pinguins. Mas a maior surpresa de todas foi conhecer Roberto Bubas e sua incrível história com as orcas.

Orca se aproxima de leões-marinhos
Orca se aproxima de leões-marinhos

As baleias podem ser facilmente avistadas de junho a janeiro, na Praia El Doradillo, a 15 km de Puerto Madryn, ou em excursões a partir de Punta Delgada ou Puerto Pirâmide. Porém, é na praia Caleta Norte –reserva marinha declarada Patrimônio Natural Mundial– que acontece um fenômeno raro. As orcas desenvolveram ali uma técnica de sobrevivência denominada “encalhamento intencional”: aproveitando o vai-e-vem das ondas elas caçam leões-marinhos, um de seus alimentos preferidos, na beira da praia.

O biólogo argentino Roberto Bubas se aproxima de uma orca
O biólogo argentino Roberto Bubas se aproxima de uma orca

É aí que entra Roberto Bubas. Na década de 1990, sem uma máquina fotográfica para identificar as orcas da praia Caleta Norte, o guarda-fauna entrava na beirinha da água, às vezes até mesmo colocando sua cabeça dentro da água, a fim de observar os detalhes de suas nadadeiras, espécie de digital desses mamíferos, a maior da espécie dos golfinhos.

O biólogo argentino Roberto Bubas acaricia uma orca
O biólogo argentino Roberto Bubas acaricia uma orca

“Foi quando algo fascinante aconteceu. Elas começaram a vir cada vez mais ao meu encontro, produzindo sons, levantado a enorme cabeça para me ver, e deixando inclusive que eu as tocasse”, nos contou Bubas. Nunca antes nenhuma outra orca selvagem se aproximara de um ser humano.

Orcas observam Roberto Bubas tocando gaita
Orcas observam Roberto Bubas tocando gaita

De acordo com a antropóloga britânica Jane Goodall, famosa pelos seus contatos com gorilas, “o que podemos concluir sobre a aproximação de animais selvagens com os homens é a curiosidade, e o desejo de se comunicarem conosco. No caso das orcas o que mais intriga é por que elas nunca o atacaram, se caçam até mesmo as baleias?” Este é o mistério que permanece.