Neuquén, no sudeste da Argentina, a capital mundial do rafting
Oito surpresas e uma certeza, na conquista do heptacampeão brasileiro de rafting, no Campeonato Mundial 2018, na Argentina
Surpresa nº1 – Aeroporto de Neuquén, Argentina, 4 de novembro. Na sala de desembarque um enorme cartaz mostra quatro rafters desafiando fortes corredeiras. O painel é alusivo ao Campeonato Mundial de Rafting que vai se realizar no rio Aluminé, nessa província argentina. É por isso que estou aqui.
Um olhar mais atento, porém, vai revelar que a foto retrata brasileiros enfrentando um rápido, prá lá de agitado. Penso: que bela deferência os ‘hermanos’ fazem ao Brasil. Mais tarde, porém, fico sabendo que é o reconhecimento pela habilidade e força de nossos atletas nesse esporte.
Surpresa nº2 – Na van em direção à Villa Pehuenia, sede da competição, e a 310 km da capital, estamos com outros jornalistas estrangeiros e juízes da competição. Muitos querem saber por que os brasileiros são tão bons nesse esporte que deve ganhar status olímpico em 2028. Fico sabendo que os brasileiros são a bola da vez, ou seria o ‘remo da vez’ a serem vencidos. Nossos rafters são referência mundial em diversas modalidades desse esporte. Caramba!! E eu não sabia disso! Você sabia?
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Surpresa nº3 – Villa Pehuenia e Aluminé são pequenas cidades cercadas por cenário majestoso. De um lado a cratera semidestruída do vulcão Batea Mahuida, após tremenda erupção há milhares de anos, do outro os lagos Aluminé e Moquehue. Não sei se exagero, mas do alto essa região me faz pensar como seria a paisagem do Rio de Janeiro em épocas remotas, devido às semelhanças geográficas com a Bahia da Guanabara.
As ruas dessas vilas são arborizadas e a maioria das casas é de madeira em estilo montanhês. Prometem em seu interior um encontro com sonhos e delícias. Tudo na cidade desperta interesse: uma loja, um restaurante ou uma pousada. De qualquer lado as montanhas são visíveis e se harmonizam por trás das casas. Os ventos trazem um aroma doce, de flores ou frutas.
Surpresa nº4 – Inverno, Primavera, Verão e Outono. Essa região neuquina reserva belezas a cada época do ano. No outono, as montanhas se enfeitiçam com as tonalidades vermelho, laranja e amarelo de suas árvores. O inverno traz a neve que cobre os campos com um manto liso, ótimo para esquiadores no Parque de Neve Batea Mahuida, centro de esqui dirigido pelos mapuches. Verão e primavera, épocas que as árvores frutíferas e os campos explodem de flores, e torna-se uma das capitais argentina de aventura. Se prepare porque a adrenalina ali corre solta nos trekkings, raftings, cavalgadas, rapel, bikes, ….
Neuquén se apresenta para o turismo brasileiro e oferece além de toda sua beleza e hospitalidade, uma saborosa gastronomia patagônica, o encanto do novo, do desconhecido, de um destino a ser desvendado. Isso sem falar que em ali foram encontrados os fósseis de gigantescos dinossauros.
Surpresa nº5 – Rio Aluminé. Águas turbulentas aceleradas por causa do degelo na primavera, fluindo entre rochas e com trechos em desnível constante de 150 metros durante 12 quilômetros. No tramo da competição, possui uma série de 15 rápidos com graus II, III, e IV plus, que é cenário para a maioria das modalidades da competição, entre elas o Sprint contrarrelógio, o H2H um contra um, e Down River numa extensão de 15 km. A modalidade Slalom (com obstáculos) uma das mais apreciadas pelos esportistas se realiza no rio Ruca Choroy que oferece condições pra lá de difíceis.
O perigo em ambos rios também reside na desconcentração do rafter ao admirar a beleza de suas margens ladeadas por sauces (chorões).
Surpresa nº6 – Sem dúvida o rafting é dos esportes mais fotogênicos: assistir a descida dos botes nas águas agitadas levados pela forte correnteza e desviando de redemoinhos, com rafters que não querem saber de moleza. Não tinha me dado conta que tem horas que é preciso uma viagem na veia. Eu não estava competindo, mas a adrenalina tava alta.
Surpresa n.7 – A organização. 19 países presentes, 60 equipes, 160 altletas, dezenas de juízes internacionais, mais de trinta jornalistas de diversos países. Durante os 7 dias da competição um só consenso por parte de todos: a excelente estrutura montada pelo Ministério de Turismo da Província de Neuquén para atender desde a segurança do local e dos competidores, equipe médica de emergência, rede wi-fi, acomodações para atletas, juízes e jornalistas, transporte até a cidade sede, alimentação, e apoio logístico turístico para conhecer as vilas Pehuenia e Aluminé para aqueles que se interessarem nos intervalos das competições. Ufffa! Não deve ter sido fácil, mas foi perfeito.
Surpresa n.º8 – Enquanto os rafters da Rússia, Japão, República Checa, Slovênia, são atletas patrocinados pelos respectivos governos, e treinam de quatro a cinco horas por dia, os brasileiros têm que se virar trabalhando para viver. Só nos fins de semana podem treinar, a maioria como guias de rafting em Brotas e Juquitiba. Com dificuldades para competir nos campeonatos mundiais os rafters fazem vaquinhas, rifas, conseguem alguns patrocínios pontuais, e ajuda de prefeituras (no caso de Brotas).
Bem diferente de outros países que absorvem todo o custo da viagem. Para se ter ideia das cinco equipes brasileiras classificadas para esse Mundial, duas delas, as femininas, não puderam vir por causa dos custos.
E o futebol que só nos envergonha continua com patrocínios milionários!!!!
Uma certeza. Primeiro dia de competição. Enquanto as equipes da Argentina e República Checa fazem bonito nas categorias sub-19, feminina e masculina, o Brasil sem patrocínio para essas modalidades não conseguiu trazer seus atletas. Contudo na disputa mais esperada do dia o Sprint – Open, sem surpresa para as outras nações, deu Brasil pela sétima vez.
O rio Aluminé mostrou-me a bravura de suas águas, e me permitiu que submegisse num mundo novo de orgulho aos rafters brasileiros. E que venha Austrália – 2019!
Por Heitor e Silvia Reali, do Viramundo e Mundovirado