NOS Alive, festival em Portugal: noites tropicais em Lisboa
Área de grávidas, reencontro histórico e uso maciço de internet na noite quente de Lisboa. É a volta do NOS Alive, festival em Portugal
‘O melhor regresso de sempre’. Slogan positivista, como convém a um encontro que só é possível ocorrer graças à ciência. É com essa assinatura que, nos arredores de Lisboa, o NOS Alive, festival de Portugal também suspenso pela pandemia, retomou o passo depois de dois anos.
A porta de entrada para a Europa está novamente aberta neste primeiro verão com cara de normalidade – a organização já anunciou a edição 2023 para os dias 6, 7 e 8 de julho.
Lisboa está a arder no momento do meu desembarque. O relógio não aponta nem seis horas da manhã de sábado quando a comissária da TAP avisa que os termômetros registram 27 graus fora da aeronave. A cidade é sempre calorosa com os brasileiros. O Chico, a Ivete, o Milton e o Ney, todos têm seus rostos orgulhosamente exibidos no monitor da recepção do hotel Dom Pedro Lisboa, no bairro das Amoreiras e que acumula uma extensa lista de hóspedes ilustres.
Do line up do NOS Alive 2022, o português Manel Cruz, os australianos do Parcels e a banda madrilenha Tour Jets tiveram a chance de se fartar de pastéis de nata no ótimo café da manhã, tal como fez este repórter que vos escreve. Lamento se eles deixaram passar a oportunidade.
A cobertura da última noite de shows do festival marca também meu retorno à única capital do continente onde o sol deita-se sobre o oceano. É diante dele, na cidade vizinha de Oeiras, que a 14ª edição do NOS Alive transcorre com 165 apresentações, divididas em sete palcos.
Não há noite temática, explica o organizador do festival, Álvaro Covões. “Pode ser chato não gostar de dois artistas e você não ter nada para fazer durante duas ou três horas. Então você pode encontrar algo bom, pode girar. Ontem tivemos (a rapper britânica) M.I.A no mesmo dia de Metallica (banda americana de heavy metal)”, conta. Realizado desde 2007, o festival foi o primeiro do país a ter um espaço dedicado ao fado, gênero musical genuinamente português. E apresentações de stand up se revezam em um palco de comédia.
Fãs usam mais internet do que uma cidade inteira
Presente na edição de estreia do NOS Alive, um grupo também revive um regresso histórico na noite quente no Passeio Marítimo de Algés. Depois de 12 anos sem tocarem juntos, os rapazes do Da Weasel decidiram se reunir para uma única apresentação. E que apresentação! Aos 21 de idade, Maria Siza Sousa nasceu anos após a criação do grupo, unido pela primeira vez em 1993. No entanto, a jovem se rende à empolgação, dançando animadamente ao som da mistura de hip hop com rock. “É muito contagiante a energia do público”, diz.
Cantadas por gente de todas as idades, dos camarotes à pista, as letras marcadas por forte crítica social agradam Joana Muge, 39, que trouxe o filho Simão ao primeiro festival em oito anos de vida dele. Ao lado de Tiago Pimentel, 41, o trio também veio na noite anterior, para o show do Metallica. Vestido com uma camiseta do Rage Against The Machine, o pai, porém, revela que o miúdo tem em casa mais discos do Da Weasel do que da banda liderada por James Hetfield.
A força do Da Weasel pode ser medida. Durante os 90 minutos de sua apresentação, seus fãs utilizaram quatro terabytes de dados da rede 5G da patrocinadora do festival para realizar lives e compartilhar posts. Segundo o portal português NiT, esse volume de tráfego de internet equivale a um dia inteiro de uso de uma cidade como Coimbra, com cerca de 140 mil habitantes.
Hits do Imagine Dragons e área para grávidas
Tão fácil quanto circular por entre o público é notar a mistura de gerações presentes ao NOS Alive, que está atento ao surgimento de novos fãs. Desde 2011, o evento mantém uma área destinada para grávidas. A 14ª edição teve cerca de 300 inscrições. “Tem arquibancada, acompanhamento médico, lugar para fazer massagem. Grávidas também são festivaleiras”, afirma Covões. Ele acrescenta que uma mulher deixou o festival direto para a sala de parto no ano em que o espaço especial foi criado.
A brisa do mar sopra leve e aplaca um pouco do clima abafado quando o Imagine Dragons sobe ao palco. Desde o primeiro acorde, o quarteto de Las Vegas aposta tudo em seus hits. O single It’s Time abre a apresentação seguido de Believer. Por um momento, penso ter aberto a porta do quarto do meu filho, reconhecendo ora aqui ora ali o refrão cantado pela multidão.
Como também identifico em Cátia Martins a ansiedade típica da adolescência. A jovem de 16 anos mal espera eu pontuar minha pergunta e responde a seco que veio ver o Imagine Dragons. Está na companhia do pai, que faz graça ao afirmar ter 18 anos para o repórter que lhe pergunta a idade (53, dito posteriormente). Rimos todos, envolvidos pela leveza da noite de céu limpo e lua ao alto. O verão voltou a ser mágico neste lado de cá do Atlântico.
Mesmo depois de conceder várias entrevistas, Álvaro Covões sustenta o sorriso no rosto. Ele é o próprio retrato da alegria, satisfeito de poder retomar sua vocação para realizar grandes festivais musicais. “Passamos tempos difíceis e agora estamos vivendo um sonho. Por favor, não nos acordem, deixe-nos sonhar.”