O lado B do deserto: 3 trilhas alternativas para fazer no Atacama
Muito além de salares e vales lunares, tem um Atacama diferente que você pode conhecer fazendo trilhas
A recomendação veio de longe, de um atacamenho que mora nas terras frias de Chiloé.
“No deserto, aprenda com o silêncio para saber quem é você; com as estrelas para lembrar onde você está; e com os vulcões que protegem a Cordilheira”.
No endereço mais árido do planeta, céu estrelado sobre cenário montanhoso (e silencioso) não é mais novidade, sobretudo para a massa de brasileiros que invadiu São Paulo de Atacama (ops, San Pedro de Atacama).
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Mas o seu deserto não precisa ser igual ao de todo mundo.
Muito além de salares e vales lunares, tem um Atacama diferente que você pode conhecer em trilhas alternativas por destinos menos turísticos.
Meu roteiro nessa quarta vez em San Pedro de Atacama teve trilha alternativa até a famosa Grande Duna do Valle de la Luna; visita a uma cidade abandonada, em meio aos Andes; e uma exigente caminhada por cânions e áreas com alta concentração de animais selvagens.
O Lado B do Deserto do Atacama
Capital arqueológica do Chile e com raros dias de chuva, San Pedro é o povoado que serve de base para quem visita o deserto.
É ali que começa a viagem pelo mais clássico, como as saídas para os vales da Lua e da Morte, Salar do Atacama, Lagunas Altiplânicas e os Gêiseres do Tatio.
Mas no roteiro abaixo você conhece três experiências pouco conhecidas no deserto.
Trilha Copa Coya
• 4.400 de altura • 8 km de extensão • dificuldade alta
Quando os turistas deixam os Gêiseres do Tatio, onde acontece o famoso café da manhã com cheiro de enxofre, começa essa caminhada impactante que circunda a montanha que dá nome à trilha, na parte posterior das famosas fumarolas desse campo geotérmico, a 90 km ao norte de São Pedro.
Em cerca de cinco horas de trilha e muita variação de altitude, é possível avistar vales profundos, cânions e curiosas formações rochosas que reforçam a fama do cenário extraterrestre do Atacama.
É como sair dos pampas gaúchos de montanhas verdes e chegar ao deserto do Grand Canyon alaranjado estadunidense. Tudo em plena Cordilheira dos Andes.
Humanos são raros por ali, mas a vida selvagem na trilha Copa Coya é abundante, com altas chances de ver grupos de vicunhas (camelídeos andinos) e vizcachas, um roedor parecido às chinchilas.
E se tudo é, exageradamente, tão lindo, por que quase ninguém conhece?
Mas pode vir que é lindo. É puxado, mas é lindo.
Dica Viagem em Pauta – A atividade é exigente, mas serve como aclimatação para quem vai encarar atrativos mais radicais como as subidas dos vulcões Toco e Licancabur.
Trilha Los Achaches
• 45 minutos de caminhada • dificuldade baixa
Não tem como escapar. O Vale da Lua (entrada: a partir de 2.500 pesos chilenos) é um dos atrativos naturais mais populares do Atacama.
Mas em vez de estar no mesmo lugar onde vão todos os turistas para acompanhar o pôr do sol, essa trilha curta e sem muita dificuldade é indicada para ver a parte de trás da Gran Duna.
A caminhada pelo terreno arenoso do Vale da Lua acontece dentro da Reserva Nacional Los Flamencos, uma área de quase 74 mil hectares que abriga também outros clássicos do Atacama, como o Salar do Atacama e as lagoas Miscanti – Miñigues e Chaxas.
Dica Viagem em Pauta – Antes da trilha dá para visitar também o mirante que, recentemente, ganhou estrutura como mesas e cadeiras com vista para as cordilheiras dos Andes, do Sal e a de Domeyko.
Trilha Machuca-Río Grande
• 12 km de extensão • 5 horas de caminhada • dificuldade média-alta
O minúsculo povoado de Machuca despontou para o turismo com serviços para atender quem volta dos Gêiseres do Tatio e, atualmente, serve como ponto de partida para outra caminhada pouco explorada no Atacama.
Com início a 45 km de San Pedro e a 49 km do Tatio, a trilha segue pelo curso de água do rio Peñarili, passando por antigos campos pastoris, cânions e até por um povoado abandonado.
A caminhada tem início a mais de quatro mil metros e segue por terreno com variação de altitude e mudanças de cenários, conforme se desce, em direção a Río Grande.
Dica Viagem em Pauta – Quase no final da travessia, a cerca de 4,5 km de Río Grande, o povoado de Peñarili é o destaque da trilha. Nessa comunidade é possível visitar algumas das casas de pedras vulcânicas, abandonadas nos anos 90.
Onde ficar
Para esta reportagem, o Viagem em Pauta se hospedou no Tierra Atacama, premiado em 4º melhor resort da América do Sul pela revista “Condé Nast Traveler”.
Assim como as outras unidades da rede, na Patagônia chilena e em Chiloé, o Tierra é conhecido por suas instalações que convidam o hóspede a apreciar o lado de fora (e é daí que vem a variedade de experiências ao ar livre que provamos no Atacama).
O Tierra conta com um cardápio de excursões que já estão incluídas nas diárias, sem que o hóspede tenha que se preocupar com detalhes de traslados, pagamento de ingressos, excursões e alimentação.
Sob o conceito de Spa Aventura, esse hotel boutique alia hotelaria superior e passeios fora do circuito turístico tradicional, como as trilhas que você conheceu no vídeo acima.
Outro destaque é a gastronomia com foco em ingredientes nacionais. Durante a semana em que estive hospedado por lá, o cardápio contava com opções como pastel de jaiba (crustáceo da costa chilena), carne de lebre e peixes do arquipélago de Juan Fernández (tudo harmonizado com vinhos da vinícola Matetic, inclusos nas diárias).
Como uma espécie de extensão do ambiente externo, os quartos do Tierra são construções que se camuflam no cenário e, ao mesmo tempo, trazem o deserto para mais perto do hóspede, como as portas deslizantes de vidro com vista do vulcão Licancabur e banheiros revestidos em ardósia fria, com opção de ducha externa.
Em 2017, dois hotéis da rede (Atacama e Patagonia) entraram na lista do World’s Best Awards como os 100 melhores do mundo, premiação realizada todos os anos pelo guia de viagens “Travel+Leisure”.