O segredo por trás dos trekkings com elefante na Tailândia
Há séculos elefantes são utilizados para exercer diferentes atividades na Tailândia, desde trabalhos na área militar, servindo como arma de guerra por exemplo, a transporte ou até mesmo pela indústria madeireira para carregar troncos derrubados. Elefantes fazem parte da cultura tailandesa e estão presentes na história, religião e tradição do país. Por isso, sempre foi comum pessoas conhecidas como mahouts, os treinadores e donos de elefantes, mantê-los como animais de estimação.
No entanto, elefantes por natureza não são domesticáveis e para que sejam capazes de obedecer humanos e praticar tais atividades, eles precisam passar por um ritual conhecido como Phajaan, que na Tailândia significa “Quebra do Espírito”. O Phajaan consiste principalmente em separar a cria da mãe já nos primeiros meses de vida e, posteriormente, sujeitá-lo a treinamento excessivo que na maioria das vezes envolve espancamento, privação do sono, fome, entre outras coisas.
Em 1988, uma grande enchente no sul da Tailândia trouxe novas preocupações ambientais ao país e o desmatamento acabou por ser proibido. Com a nova lei, diversos mahouts que trabalhavam para a indústria madeireira nos processos de desflorestamento perderam seu emprego e a utilidade do elefante. A solução encontrada foi usar os animais para o entretenimento de turistas. E é aqui que mora o problema.
- América Central: 5 países para incluir na sua próxima viagem
- Férias com crianças a 40 minutos de São Paulo
- Já ouviu falar de transplante de sobrancelha? Veja curiosidades sobre o procedimento
- Como reconhecer a deficiência de vitamina K e seus efeitos no corpo?
Centenas de elefantes em toda a Tailândia são utilizados por turistas para trekkings e outras acrobacias. Mas o que muita gente não sabe é que para o elefante chegar a esse estado de aceitação e permitir, entre outras coisas, que pessoas subam em suas costas ele teve que passar pelo processo de “quebra da alma”, que muitas vezes se assemelha a uma tortura. Além do mais, os grandalhões são expostos a longas horas de trabalho e obrigados a carregar cargas muito acima do seu limite físico. Para se ter uma noção, a expectativa de vida dos elefantes domesticados é muito mais baixa do que a dos seus similares em liberdade. De acordo com a organização governamental tailandesa Thai Elephant Conservation Centre hoje em dia há cerca de 5.000 elefantes na Tailândia, mais de 2.000 deles domesticados.
Nós chegamos na Tailândia sem saber nada sobre o assunto, tendo apenas visto no passado fotos de outros viajantes nas costas de elefantes, narrando essa como uma das experiências mais incríveis de suas vidas. Não tínhamos opinião formada e acho que caso surgisse a oportunidade poderíamos até embarcar no passeio.
Até que um dia, enquanto dirigíamos nossa moto pela ilha de Ko Lanta, onde moramos por um mês, vimos diversos elefantes acorrentados, com mobilidade mínima. Aquilo chamou nossa atenção, principalmente porque os animais tinham um olhar muito triste. Nos sentimos mal e resolvemos pesquisar sobre o tema. Quanto mais estudávamos, mais percebíamos que a coisa era pior do que imaginávamos. Ficamos inclusive sabendo de casos de abuso durante o próprio trekking, com o mahout espancando o animal em pleno passeio porque ele se recusava a andar na velocidade esperada.
Mas e aí, qual a solução? Deixar de utilizar os animais para turismo, devolvê-los à natureza e prender os mahouts? Sim e não. Que os elefantes têm que parar de ser utilizados para o entretenimento de turistas é óbvio. Mas aparentemente não há espaço para que todos sejam devolvidos à natureza. E mais, para o mahout, ele está apenas praticando um trabalho legalizado e centenário e não há nada de criminoso nisso. Amigos tailandeses também nos contaram que há diversos casos de mahouts que tratam os elefantes como membros de sua própria família e criam um vínculo muito forte com o bicho (apesar desses casos representarem uma minoria). Temos que ser realistas e razoáveis. Os mahouts deveriam ser reeducados para não maltratarem os animais, treinados em outras atividades e reinseridos no mercado de trabalho. Mas, acima de tudo, é preciso acabar com a demanda por esse serviço, que vem dos turistas.
Quem ainda assim quiser ter um contato próximo com elefantes durante as férias na Tailândia, saiba que é possível através de algumas ONGs que resgatam e ajudam elefantes em todo o país. Infelizmente não podemos sugerir nenhuma, pois só o faríamos se tivéssemos maior conhecimento sobre o assunto e a certeza de que são organizações genuínas. Por isso, fiquem à vontade para procurar e nos informe se encontrar algo interessante.
Por enquanto, o que sabemos é que qualquer pessoa sensata passaria longe desses passeios e interações com elefantes, pois eles escondem uma grande crueldade contra o animal.
O caso de outros animais
É muito comum ver na Tailândia macacos enjaulados e sendo criados como animal de estimação. Mais uma vez, muitos são usados para o entretenimento de turistas e o viajante tem obrigação de não fomentar a prática. Também é notória a crueldade contra os tigres, que muitas vezes são drogados para que turistas possam tirar fotos ao seu lado.
Por Fernanda Kiehl e Tiago Ferraro, do blog Monday Feelings