Origens BR: a história das Américas antes da chegada de Cabral

O projeto Origens BR trás uma série de reportagens por quase uma dezena de sítios arqueológicos no país, em busca dessa história

Em parceria com 360 Meridianos
02/07/2019 17:31

Muito se engana quem pensa que a história do Brasil começou pouco antes de Pedro Álvares Cabral e sua turma desembarcarem em Porto Seguro. Eles não foram os primeiros habitantes das terras Tupiniquins, muito menos os índios que ali viviam quando as naus atracaram em Porto Seguro.

A história de povoamento do Brasil e das Américas começou há milhares de anos, e bem perto da gente. É isso que o Origens BR, um projeto do 360meridianos, que vai passar por sítios arqueológicos em oito estados brasileiros pretende mostrar.

Museu da Natureza, na Serra da Capivara, no Piauí
Museu da Natureza, na Serra da Capivara, no Piauí - Fellipe Abreu

Encontrar rastros de civilizações perdidas no meio da selva brasileira foi a obsessão de incontáveis aventureiros. E embora não existam, no Brasil, ruínas de grandes cidades de pedra no estilo da peruana Machu Picchu, os primeiros cronistas portugueses relataram encontros com grandes nações indígenas.

Maurício Heriarte, europeu que passou pelo atual estado do Pará, em 1662, escreveu que apenas um dos povos da região era capaz de reunir “60 mil arcos quando manda dar guerra”. Já Bento da Costa, que navegou pelo Rio Amazonas na mesma época, destacou a quantidade de moradores de outra forma: “se do ar deixassem cair uma agulha, há de dar em cabeça de índio e não no solo”.

A primeira parada do projeto foi na Serra da Capivara, no Piauí, onde há um sítio arqueológico datado de 26 mil anos atrás. Para contar como foi essa história, o 360meridianos lançou um vídeo sobre o local.

Como a Serra da Capivara mudou a história da humanidade

Até que os primeiros arqueólogos desembarcassem na Serra da Capivara, ainda na década de 1970, a teoria para a chegada do homem nas Américas, e que era aceita quase sem contestação, era a da Cultura Clóvis. Segundo essa teoria, os seres humanos chegaram no continente durante a última glaciação, atravessando o Estreito de Bering, em algum momento entre 13 mil e 15 mil anos atrás.

Só que a arqueóloga Niède Guidon encontrou, no interior do Piauí, sinais de que o homem já andava por ali bem antes disso. A partir dessas descobertas pesquisadores formularam a teoria de que os seres humanos já habitavam o Piauí há até 100 mil anos. A migração, segundo a pesquisadora, pode ter sido a partir da África, com nossos ancestrais desembarcando diretamente no Delta do Parnaíba, de onde teriam seguido para o interior do Piauí.

Esse é o maior conjunto de arte rupestre das Américas. Só no Boqueirão da Pedra Furada, o sítio mais famoso, são mais de mil pinturas. E esse é só um dos 204 locais abertos para visitação na Serra da Capivara, que tem mais de 1300 sítios arqueológicos já registrados.

Saiba mais sobre a história da Serra da Capivara e a expedição aqui.

Em francês, inscrição na Lapa Vermelha 4, da época da missão que encontrou o fóssil de Luzia
Em francês, inscrição na Lapa Vermelha 4, da época da missão que encontrou o fóssil de Luzia - Fellipe Abreu

A história de Luzia, a mineira e primeira moradora das Américas

A segunda visita do projeto Origens BR foi a Lagoa Santa, em Minas Gerais, na Lapa Vermelha 4, sítio arqueológico onde foi encontrado os restos mortais de Luzia, a primeira habitante das Américas.

O túmulo mais antigo que se tem notícia no país e marco da arqueologia nacional está na Região Metropolitana de Belo Horizonte. É a Lapa Vermelha 4, que fica a menos de dois quilômetros do Aeroporto Internacional de Confins. Foi ali que, na década de 1970, arqueólogos encontraram os restos de uma mulher que viveu há 13 mil anos e que foi apelidada pelos pesquisadores de Luzia.

Pinturas no Boqueirão da Pedra Furada, Serra da Capivara
Pinturas no Boqueirão da Pedra Furada, Serra da Capivara - Fellipe Abreu

Na região, são mais de 300 esqueletos já escavados, o que é um número incrivelmente importante para a arqueologia brasileira. Os sítios dessa região são importantes não somente pela datação dos esqueletos, mas por outras descobertas feitas por lá. Peter Lund, um cientista Dinamarquês que chegou na região em 1985, foi internacionalmente reconhecido pelas suas constatações sobre o local. Em Minas Gerais, ele catalogou mais de 800 sítios paleontológicos e encontrou 12 mil ossos de mamíferos. Nessas descobertas, ele encontrou resto de animais da mega fauna, que existiram durante a Era do Gelo. E junto com eles, restos de 30 humanos, o que prova que preguiças gigantes e humanos teriam coexistido. O que foi um abalo em tudo o que se acreditava da Teoria do Criacionismo.

Se quiser saber mais sobre a história da Luzia, a gente conta tudo.

Para conhecer mais do projeto Origens BR e saber sobre os próximos destinos, não deixe de conferir o material completo.